CRÍTICA | Annabelle 3: De Volta Para CasasteemCreated with Sketch.

in annabelle •  5 years ago 


Após os dois primeiros Annabelle,
eu não sabia bem o que esperar desse novo capítulo. O primeiro filme, Annabelle, de 2014, eu acho insuportavelmente
chato. Já o segundo, Annabelle 2: A Criação
do Mal
, me agrada bastante. Foi por essa oscilação extrema que cheguei
ao cinema curioso com o que veria. E num primeiro momento, gostei do que vi.

A maneira como Annabelle 3: De Volta Para Casa constrói e mantém o suspense me chamou a atenção. Embora não existam novidades quanto à forma, o diretor estreante Gary Douberman – que, aliás, foi o roteirista dos demais filmes da boneca – mostra competência em criar o clima tenso. Ele conseguiu me deixar apreensivo. Mas depois de um tempo, meu interesse foi caindo, ainda que o filme continuasse com essa execução competente.

Eu acabei saindo cinema intrigado: o filme é legal, mas de alguma maneira eu não curti de verdade. Depois de um tempo explorando essa dúvida, encontrei dois motivos que acho que justificam minha insatisfação. Ambos os motivos partem do mesmo lugar: o roteiro, também de Dauberman.

É “complicado” apontar quem é, afinal, o personagem principal de Annabelle. A boneca seria a primeira suposição até por dar título ao filme, mas a presença dela é um tanto artificial servindo apenas como ferramenta, como justificava para o suspense. Ou então talvez seja a Judy (Mckenna Grace), a filha dos Warren. Mas o arco narrativo dela é fraco e um tanto vazio, carente de conflito ou valor. Seu aprendizado se limita ao “nem todos os espíritos são ruins”, além de parecer uma cópia precária de Cole Sear (Haley Joel Osment) de O Sexto Sentido (M. Night Shyamalan, 1999). Outra possibilidade de protagonista é Katie (Daniela Rios), a amiga de Mary Allen (Madison Iseman), a babá de Judy, que num primeiro momento parece ser apenas uma personagem funcional, para dar início à história, mas termina sendo a única com mudança de valor, ou seja com um arco que evolui e completa sua jornada. Ainda há Bob (Michael Cimino), um personagem meramente funcional que surge em momentos pontuais para permitir, de maneira mais preguiçosa possível, que o roteiro avance.

Annabelle 3: De Volta Para Casa
Annabelle 3: De Volta Para Casa se acomoda no meio termo da mediocridade

Embora eu creia que o filme tente fazer de Annabelle a protagonista, eu vejo essa função em Katie. Ela é a única personagem que realmente age, enquanto as demais apenas reagem. E seus atos criam o impacto – mas não muito – nas demais. Essa confusão atrapalhou parte do meu engajamento, já que tanto Annabelle quanto Judy não possuem um conflito ou algo que as movam. Não há uma jornada que evolua, mas apenas uma série de consequências sem valor. Enquanto isso, Katie, embora evolua ao longo da narrativa, sua função é tão formulaica que fica difícil se envolver com ela, ainda que seu conflito interno seja relacionável. Mas cada vez que ela tomava decisões não apenas ruins, mas improváveis e incoerentes, eu a via menos como dela como figura humana e mais como uma muleta narrativa. Mas apesar de não me conectar com as personagens, o suspense me envolveu durante boa parte de filme.

Logo no prólogo eu me notei imerso naquela realidade sombria. Mérito do “Douberman diretor” que fez bom uso da câmera, ora adotando visão subjetiva, nos dando a perspectiva dos espíritos e presenças que cercam, bisbilhotam e se aproximam calmante dos Warren, ora criando planos mais abertos onde a movimentação, também vagarosa, mostrava e escondia espíritos com fluidez. São recursos comuns, muito frequentes no universo Invocação do Mal, mas bem utilizados por Douberman para construir a sensação de tensão e a presença de entidades.

A música também é um elemento comum, mas eficiente nessa construção, mas um tanto irregular. Variando entre um grave retumbante e agudos hipnóticos, a trilha sonora de Joseph Bishara preenche boa parte do filme com tensão aflitiva, sugerindo presenças constantes. Diante essa frequência, o silêncio também ganha bom peso e ajuda a tornar as cenas e sequências instigantes. Mas infelizmente esse recurso perde parte da coerência. Explico:

O prólogo é importante não apenas para estabelecer a atmosfera envolvente do filme, mas para determinar algumas “regras”. Uma delas é a música. A frequência grave preenche a cena quase como um sussurro, um transe sinistro, que indica a presença de algo que não “conseguimos” ver, pelo menos na maior parte do tempo. Isso fica bem claro quando o quando o casal Warren precisa aprisionar a boneca numa redoma de vidro especial para conter o mal. Conforme a boneca entra, a música grave e caótica cresce, criando uma associação entre aquele mal e o som. Ou seja, é uma forma de representá-lo. Então, quando isso é estabelecido, toda vez que o som cresce eu imaginava um mal se aproximando.

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O filme utiliza o som dessa maneira boa parte das vezes – o que fica um pouco repetitivo, mas permanece funcional –, mas também coloca a mesma música em situações cômicas ou em pistas falsas. Ou seja, esse recurso virou mais um coringa do que uma relação ou representação do mal.

Outros problemas recorrentes também acontecem pela quebra do que foi determinado no prólogo. Alguns fazem parte das convenções do gênero de suspense e do universo da franquia, como a construção lenta e gradual do mal que assola as pessoas. Mas ao explicar categoricamente como a boneca Annabelle é o pior de todos muitos os objetos guardados pelo Warren, e demonstrar isso na rápida e boa sequência do carro, a forma cadenciada da construção não faz jus ao que foi dito e visto. A aparição do demônio final, por isso, torna-se vazia e jogada, sem senso de perigo real. Aliás, isso é algo que também me incomodou já que mais ou menos na metade do segundo ato – através do descartável Bob – notei que não haveria ameaça real, apenas a sugestão. Torci para estar enganado, mas o filme segue um caminho cômodo até a última cena.

Apesar disso, a maneira como Douberman mantém a tensão funciona, principalmente pela paciência. Sem utilizar jump scares preguiçosos e sustos vazios, a direção constrói o clima através do susto adiado. A música cresce, o plano fecha, a câmera se movimenta... e nada acontece. Essa constância funciona e a cada susto adiado a expectativa se acumula gradativamente até um ponto incômodo – no bom sentido. Foi assim que o filme conseguiu me dar poucos, mas até bons sustos através de coisas simples, como uma tampa que se fecha de repente e sem receber atenção. Mas há uma ou outra tentativa frustrada, principalmente aquelas onde os closes nos rostos malignos antecipam o susto que virá.

No fim, Annabelle 3: De Volta para Casa é um suspense que funciona pela atmosfera bem construída e conduzida, mas falha no contar da história. Além disso, o final adota uma cafonice incoerente ao mostra a “evolução” de Judy que mal foi trabalhada ao longo da narrativa. E a conclusão de Danielle surge preguiçosa e obrigatória, sem qualquer sutileza.

Annabelle 3: De Volta para Casa tem seus momentos que a ajudam a ser melhor do que A Feira, mas permanece inferior aos filmes Invocação do Mal. Quanto a própria trilogia, está longe de ser fraco como o primeiro Annabelle, mas também não chega perto da qualidade de Annabelle 2. Está ali, acomodado no meio termo da mediocridade.




Data de estreia: 27 de junho
Título Original: Annabelle Comes Home
Gênero: Suspense
Duração: 1h46
Classificação: 14 anos
País: Estados Unidos
Direção: Gary Dauberman
Roteiro: Gary Dauberman, História de James Wan
Cinematografia: Michael Burgess
Música: Joseph Bishara
Elenco: Vera Farmiga, Patrick Wilson, Mckenna Grace, Madison Iseman, Katie Sarife, Michael Cimino, Samara Lee



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