"Até onde vai a sua sede por justiça?" ou "Vale à pena fazer justiça com as próprias mãos?"... Essas são as duas principais perguntas norteadoras de uma série de TV brasileira (produzida pela Rede Globo) que tem como objetivo maior colocar em xeque a busca incessante do ser humano para equilibrar a sua balança de moral e ética.
Durante os 20 episódios da temporada, o telespectador acompanha as histórias de 4 diferentes núcleos que incialmente se apresentam como histórias singulares e desconexas, mas que não demoram muito para se revelarem cada vez mais emaranhas e interdependentes, onde o clima de tensão e atmosfera de suspense simplesmente não para.
Ambientada na cidade do Recife, o público conhece os personagens principais de cada ponta da trama: Elisa (uma mãe que tenta superar a dolorosa morte da filha), Fátima (uma mãe que é vítima - terminando por ser incriminada - de uma armadilha arquitetada por um policial), Débora e Rose (amigas que vivem dramas bem pessoais... enquanto a primeira sofre com o racismo, a outra sofre com as cicatrizes mentais de um estupro brutal) e Maurício (preso por - forçadamente - ter que praticar eutanásia para oferecer um conforto a sua esposa depois que a mesma sofre um atropelamento por imprudência de um motorista que está em fuga).
Em meio a tantas histórias paralelas (porque além das histórias centrais de cada núcleo existem as sub tramas dos personagens coadjuvantes... que em um momento ou outro acabam se fundindo as histórias principais), o roteiro poderia ter facilmente se perdido entre tantas narrativas... Mas, a medida em que as histórias vão se desenvolvendo e o ritmo da série vai ficando cada vez mais intenso e elétrico, o público consegue adentrar em um mundo onde as coincidências podem ser mais trágicas do que se pode imaginar.
Manuela Dias (em parceria com Mariana Mesquita, Lucas Paraizo e Roberto Vitorino) escreveu um roteiro tão instigante e tão criativo (com poder arrebatador aliado a uma simplicidade muito rica que mostra que nem tudo que é simples tem que ser simplório), que a cada episódio o telespectador não consegue ficar menos do que apreensivo por não conseguir imaginar qual será o desfecho de cada personagem.
O elenco é um show a parte (muito bem escolhido e em conformidade com suas respectivas personas), com atuações que margeiam entre boas, ótimas e excelentes (gerando um mix de qualidade artística inquestionável)... Os destaques que mais impressionam são as performances de Débora Bloch, Jesuíta Barbosa, Adriana Esteves, Cauã Reymond, Luisa Arraes, Camila Márdila e Antonio Calloni.
A cada nova ponta da história que vai se enraizando na trama (e acreditem, elas surgem de todos os lugares... onde muitos deles são totalmente improváveis), os acontecimentos tomam proporções gigantescas na vida dos personagens (revelando aspectos escondidos dos perfis de cada um que desencadeiam os mais diversos tipos de ações e reações) colocando-os em um confronto direto onde a voz que fala mais alto é o senso de justiça... Mas, considerando que cada um deles tem motivações singulares (e muito particulares): O que na verdade seria justiça?
O trabalho referente a edição das cenas é um fator determinante para a série fluir de uma maneira coesa (aliás, aqui está um dos trabalhos mais bem feitos... que junto com a equipe de montagem, entregam uma série bem executada), porque a quantidade de pontas soltas que vão sendo "emendadas" no decorrer dos episódios são tantas, que se esse trabalho tivesse sido mal feito, a série não iria passar de um grande desastre bem intencionado.
A trilha sonora é coerente com a narrativa (com muita nordestinidade em todos os episódios, como não poderia deixar de ser), a fotografia é bonita e consegue explorar a cidade por ângulos caprichados e com planos sequências bem contemplativos.
Com direção geral de José Luiz Villamarim (alternando com a ajuda de Isabella Teixeira, Luísa Lima, Marcus Figueiredo e Walter Carvalho), os episódios tem uma característica muito forte: são sempre mais complexos do que aparentam e, consequentemente, sempre colocam o público em uma situação "complicada" (sendo esse um dos pontos altos mais fortes... porque nesse cenário, cada telespectador tem que agir a sua própria maneira diante a cada novo drama que vai sendo formado porque cada pessoa tem uma visão pessoal sobre como história deve terminar).
Não há dúvidas de que Justiça é um dos melhores trabalhos (dentro do mundo das mini séries) que o Brasil já produziu, e são projetos iguais a estes que mostram para o mundo - e especialmente para os próprios brasileiros, que costumam ser bem desacreditados na cultura do próprio país - todo o potencial dos nossos profissionais (e do mercado em geral).
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Parabéns pelo post, bem explicado.
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Valeu!
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