#Biblioteca# O Macaco Peregrino

Tenho para indicar mais uma ÓTIMA narrativa para aqueles que gostam de livros cômicos, com cenários e acontecimentos bastante lúdicos - livros que te conduzem a uma outra realidade, cheia de descobertas, aventuras e surpresas. E também para aqueles que se interessam pelo autoconhecimento, pela espiritualidade ou pelas origens do Budismo. É que a história é, ao mesmo tempo, uma fábula cômica e uma alegoria sobre trajetória do homem rumo ao despertar para a iluminação e à pureza do ser.

O Livro se chama "O Macaco Peregrino" e foi escrita por Wu Ch'êng-ên, um autor chinês no século XVI. Além de ser uma história descontraída e cômica (dessas que você se pega rindo sozinho olhando para o livro em alguns momentos) o texto em si é bastante rico, baseado em um registro histórico: a historia de um peregrino chamado Hsúan Tsang, que viveu no século VII. O peregrino foi quem viajou para a Índia a mando do imperador com finalidade de buscar as Escrituras Sagradas do budismo. A história original do peregrino foi retomada pelo autor dessa obra - Wu Ch'êng-ên, que viveu entre 1505 e 1580. E foi esse autor chinês do século XVI que foi capaz de recontar essa história de forma genial neste livro, acrescentando humor e bastante ludicidade. Na obra do autor chinês, Hsúan Tsang, o peregrino, é chamado de Tripitaka.

Eu classificaria o texto como uma fábula bastante alegórica; pois os personagens, com suas características excêntricas, representam "as diferentes naturezas" humanas - as nossas obstinações, vaidades e orgulhos... Esses traços típicos humanos são caricaturados na figura das personagens principais. Porém, percebe-se um certo equilíbrio de suas compulsões naturais e o aperfeiçoamento de algumas qualidades do SER ao longo da trajetória das personagens. Esse aperfeiçoamento das qualidade do Ser vem à medida que os personagens lidam com os desafios da peregrinação.

O enredo principal gira em torno da viagem do Peregrino Tripitaka (Hsúan Tsang). Porém, a personagem que mais chama a nossa atenção e que mais acrescenta humor à história é o Macaco. Na obra de Wu Ch'êng-ên é ele quem rouba a cena. Inclusive, há uma parte da história (quase chegando ao meio do livro) em que o macaco aparece com menor frequência e, nessa parte, a história fica bem murcha. Isso acontece por cerca de dois ou três capítulos. É preciso não desanimar da leitura nesses trechos, pois depois ela retoma de forma ainda melhor. E fica muito bom do meio para o fim.

Em geral, posso dizer que esse livro é um daqueles que você lê bem devagar no final, para não acabar. Recomendo muito para quem gosta de narrativas lúdicas e para quem se interessa por textos carregados de ensinamentos espirituais.

OBS: Os personagens no ensinam não por serem exemplos a serem seguidos, mas por ridicularizem nossos traços mais excêntricos que nos separam do encontro com o nosso Ser Puro. Assim como comumente acontece nas fábulas tradicionais, através da história, é possível, para nós, vislumbrar certos aspectos que apontam para a compreensão de nós mesmos e das nossas contraditoriedades. A mudança de cenários, as supresas e os desafios encontrados pelo caminho podem representar a nossa própria trajetória rumo aos cenários desconhecidos que temos para explorar "dentro" e fora de nós mesmos.


OBS: O personagem GOKU foi bastante inspirado na História do Macaco Peregrino (também chamada de Jornada ao Oeste, de Wu Cheng’en). Posso escrever um artigo sobre isso depois. É também muito interessante.