Como será o novo normal? Haverá um novo normal?

in covid-19 •  5 years ago 

a pandemia do corona vírus criou um novo cenário ou uma nova realidade para muitas pessoas. percebemos que é possível viver com o básico - sem shopping centers, sem consumir produtos que não necessários todas as semanas, sem diversão a um custo absurdo, como ir ao cinema e pagar três vezes mais caro pela pipoca e refrigerante do que o ingresso ou pagar no estacionamento o mesmo valor do ingresso. e concluir que o básico para a nossa sobrevivência é muito menos do que pensávamos que era. que a simplicidade da vida doméstica, a intimidade familiar, a vida sem consumo em alta escala são possíveis. embora num primeiro momento este novo cenário tenha causado dificuldades para muita gente e ainda esteja causando, desde problemas conjugais, crises depressivas entre outros sintomas.

a parte dos problemas econômicos causados pela paralisação das atividades, que também estão causando aqueles mesmos sintomas, e em uma parcela grande da população, principalmente os trabalhadores menos qualificados, os chamados informais e os que já dependiam de alguma ajuda de terceiros, para os que conseguiram criar uma nova rotina nesta nova situação, a vida pode ter encontrado um novo equilíbrio.

eu não saberia dizer qual parcela da população conseguiu este novo equilíbrio, ou esteja próximo dele, mas penso que não é pequena. e possivelmente são estas pessoas que não voltarão ao que eram suas vidas antes da pandemia, pelo menos não num prazo curto. a maioria destas pessoas se manteve, e ainda deve estar - falando do Brasil, em isolamento social e se protegendo ao máximo do contágio com outras pessoas. e quando as atividades estiverem de volta estas pessoas manterão em parte este estado de alerta e não terão a compulsão de voltar à rotina de antes, pois estarão aceitando que existe um novo equilíbrio em suas vidas. e que se este equilíbrio for mantido o quanto puderem suas vidas serão melhores, em todos os aspectos - físicos, emocionais, afetivos e financeiros. embora ainda não acreditem que isto seja um movimento, ou seja, que o mundo será melhor. mas dependendo de quantas pessoas enxergarem esse novo normal, este pode se tornar um movimento.

um movimento pode então surgir se estas pessoas perceberem a vida que levavam antes produzia uma sociedade alienada de propósitos maiores, mantendo um mundo com uma desigualdade imensa e a exploração do trabalho por empresas que visam não só o lucro, normal o mundo empresarial, mas o aumento do controle sobre os mercados, gerando mercados monopolistas em um número muito grande de atividades, super corporações sem concorrentes próximos. situações antes inimagináveis para estas pessoas, e inaceitáveis para um terceiro grupo de pessoas que vou descrever a seguir, estão acontecendo e sugerindo esta nova direção. por exemplo, os governos distribuírem dinheiro para as pessoas mais necessitadas. seja na forma de auxílio emergencial, que pressupõe um temporariedade. ou na necessidade de se prolongar, na forma já de uma possível renda mínima, ou renda básica universal ou imposto negativo. algo que antes seria uma ideia repugnante de socialistas ou comunistas, já estão na agenda dos neoliberais para salvar a economia. no Brasil a renda básica é defendida pelo ex-senador e agora vereador do PT em São Paulo há pelo menos 30 anos.

assim, temos já dois grupos de pessoas, estas que percebem uma nova forma de conduzir suas vidas e aquelas que por motivos diversos não estão conseguindo se manter em equilíbrio - como comentado mais acima. resta um terceiro grupo, que está sendo chamado de negacionistas. de um modo geral são pessoas que já negavam muitos fatos do mundo real, como por exemplo, a ciência e nesse quesito, as vacinas, por exemplo. grupos que em muitos casos se tornaram movimentos que se espalharam pelo mundo todo e se associando também politicamente a ideias que visavam derrotar o grupo político dirigente do país. mas isso sem discussão ou argumentos em debate, mas somente de alguma forma unilateral com táticas de guerra. e gerando em muitos países a polarização que vemos em expansão do nós contra eles. para este grupo, a pandemia é um engodo com motivações políticas e o retorno ao antigo normal o quanto antes é mais do que uma necessidade é uma posição ideológica. mesmo que estas pessoas não precisem, elas querem, e portanto não enxergam que possa haver algum novo tipo de equilíbrio no mundo a não ser o deles - que na verdade não tem equilíbrio algum, pois depende sempre do confrontamento de ideias e muitas de ideias falsas contra fatos que precisam ser negados. comportamento que está na moda com a ascensão de Trump e Bolsonaro entre outros, mas que não existe por causa destes, mas o oposto, estes surgiram por causa destes grupos e da constatação de que eles podem dizer o que pensam - e realmente podem, mas principalmente convencer outras pessoas sem convicções próprias usando na grande maioria das vezes estas ideias falsas e sem comprovação.

colocada a questão de que pode haver um novo normal, vamos à segunda questão: haverá um dia este novo normal? ou se podemos colocar de outra forma: algum dia a pandemia vai acabar?

temos que colocar então outra questão que aflorou no mundo, neste caso, no mundo inteiro. a falta de liderança a nível global e em muitos países também nacional e a consequente falta de solidariedade entre nações e entre partes da sociedade. A causa de ainda estarmos, no final de julho, com a pandemia aumentando em muitos países, e talvez também voltando em países onde já tinha diminuído, se muito a essa questão. Não conseguiremos derrotar essa pandemia se continuarmos divididos. enquanto a pandemia avança por países mais pobres, os países mais ricos e já aparentemente resolvidos estão tratando de cuidar das suas economias e na prática desconsideram que ainda existe uma pandemia em outros lugares. e ainda há os líderes negacionistas que desconsideram a possibilidade de fazer parte de qualquer esforço de união, negando o próprio papel da OMS e colocando a culpa na China.

em nível nacional até é possível que a pandemia termine, não por causa da união e solidariedade mas por que quase toda a população já terá contraído o corona vírus. mas aí surgem dúvidas que ainda estão sendo investigadas pelos cientistas e cujas respostas podem não ser favoráveis: quanto tempo dura a imunidade ao vírus após o organismo produzir os anticorpos? qual a velocidade das mutações do coronavírus? alguma mutação do coronavírus pode gerar uma nova epidemia nos locais onde não há mais novas contaminações? quando teremos a vacina e qual vai ser a eficácia das vacinas produzidas?

a última pandemia mundial, do H1N1 entre 2009 e 2010 em quase 16 meses contabilizou em torno de 500 mil casos confirmados e 18 mil óbitos. no dia 31 de julho estaremos oficialmente estaremos com 7 meses de pandemia. hoje, dia 25, estamos com 15 milhões de casos confirmados e 635 mil óbitos. em torno de 284 mil novos casos por dia no mundo. a pandemia do H1N1 iniciou em abril de 2009 e em novembro já havia a vacina, isto porque o vírus era do tipo influenza, que já tinha outras vacinas em produção. e a pandemia do H1N1 terminou mais rápido porque muitas pessoas já tinham anticorpos para o influenza que conseguiram vencer o H1N1, seja por terem contraído outros vírus influenza ou por terem tomado vacina para a gripe. e também havia dois antivirais (oseltamivir e zanamivir) que foram usados para combater o H1N1. Na pandemia atual, ninguém tem imunidade contra o Sars-Cov-2, não temos ainda uma vacina, e não temos antivirais que combatam este vírus.

além das questões já expostas, há outras que se tornaram dramáticas com a pandemia e com a paralisação das atividades em grande parte do mundo. uma é a "pandemia da pobreza", chamada assim por Slavoj Zizek (leia aqui). Ele coloca que o sistema capitalista está estruturado para gerar e sustentar riquezas para os mais poderosos. e a desigualdade e o desprezo pela vida humana característicos do capitalismo vigente nos dias atuais estão sendo expostos amplificados pela Covid-19. teremos então dois tipos de comportamentos dos grupos distintos de pessoas. os que continuaram negando ou alienados e os que enxergarão a necessidade de mudanças. considerando que o grupo que vai demandar por mudanças será bem maior do que antes da pandemia, e mesmo com a grande mídia dizendo o contrário, estas mudanças podem vir. mas, na situação atual, com a pandemia crescendo entre as nações mais pobres, e a demora para diminuir a desigualdade e a pobreza , por um bom tempo a pandemia da Covid-19 vai continuar vencendo.

e por fim, a velocidade da pandemia mostrou que o sistema de saúde em todos os países do mundo não estava devidamente capacitado para atender um número grande cidadãos comuns (tirado os ricos e poderosos). os países que foram afetados em grande escala e mais rapidamente tiveram que usar de todas as alternativas temporárias imagináveis e, diferentemente do que não fizeram após a pandemia do H1N1, agora terão que continuar investimento em seus sistemas para que a próxima pandemia não os pegue desprevenidos. e a questão é final pode ser: a próxima epidemia será outra ou a mesma que ainda não se deu por vencida?

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