Não entendo patavinas de futebol. O que falta em minha vida - reconheço sem nenhum louvor - é justamente ter um time pra torcer. Não tenho. Nunca tive. Essa falta, que me faz um brasileiro pecador, é suprida durante a Copa do Mundo. Acompanho como criança todos os jogos e torço febrilmente pela nossa seleção penta-campeã. Não me interessa a técnica, quem erra ou quem errou. Não entendo disso mesmo. A cada final de jogo frustrante, sem medo, coloco a culpa na Fifa, no juiz corno e no bandeirinha viado. O filho-da-puta do árbitro de video, por exemplo, estava com a orelha quente no domingo último.
Percebo, entretanto, um sintoma atemporal do brasileiro: o puxa-saquismo irremediável dos estrangeiros e uma rejeição por vezes injusta do brasileiro. A maioria da torcida da seleção fica a semana inteira babando ovo do Cristiano Ronaldo (com razão, já que é uma máquina), do argentino Messi (que não fez porra nenhuma significativa nas Copas em que esteve presente) e, agora, um tal de Salah (principal jogador de uma seleção já eliminada da Copa, que fez um mísero gol de pênalti e mais nada). Quando chega o jogo do Brasil, que tem jogadores notáveis e, francamente, enorme chance de levar a Copa, ficam o jogo inteiro reclamando que o Neymar cai muito, o Marcelo não joga nada, etc e tal. Neymar é o terceiro melhor jogador do mundo. Em um jogo medíocre, como a estréia da seleção nessa copa, fez mais do que o tal Salah. Ninguém falou do golaço do Philippe Coutinho, como ele pode nos ajudar na conquista da estrela esperada. Mas esse pua-saquismo do estrangeiro não é de agora. Em 66 o Nelson Rodrigues já escrevia os sintomas bobocas de admirar um futebol estrangeiro, sem perceber que nós, brasileiros, não precisamos aprender futebol com eles. Eles precisam aprender com a gente.
Não estou dizendo que não devemos criticar nossos jogadores. As vezes temos que dar uns toques pra eles se espertarem. Mas essa má-vontade dos brasileiros com os seus é um puta princípio de inferioridade, coisa de país subdesenvolvido, sem orgulho próprio e honra. Pô, devemos nos orgulhar, pelo menos, do que funciona nesse país. Óbvio que o sete a um nos abalou, não somos invencíveis ou coisa do gênero. Só que o nosso time não é ruim. O Neymar não pode ser resumido em um simples "cai-cai", é o terceiro melhor jogador do mundo e o mais bem pago do mundo, porra! E é brasileiro!!! Se fosse árabe, português ou - pasmém - argentino, quem sabe estivéssemos elogiando sua capacidade de brilhar e ser um campeão, mas já que é brasileiro, bem, deixa de lado o futebol e vamos criticar seu cabelo!!
Será, novamente, "preciso que jornais alemães, franceses, húngaros, tchecos, ingleses berrem para nós: — 'Vocês são os maiores.'"?