Palavra prévia: Eu juro que não queria escrever este artigo. É que, a roupa suja lava-se em casa e, como a maior parte dos meus leitores nem sequer são portugueses, porque ninguém é profeta na sua própria terra, tenho andado activamente a tentar não falar da política nacional. Infelizmente, o balde encheu e, agora, vou mesmo ter de o despejar.
Afinal, foi para os alfinetes...
Sei exactamente o que o meu saudoso amigo Aires de Carvalho, que foi uma das mais admiráveis figuras políticas do pós 25 de Abril no Distrito de Setúbal, diria, se cá voltasse e visse o que se está a passar em torno do nosso actual Primeiro Ministro. Afirmaria, em tom de gozo mal disfarçado: "E a puta sou eu..."

Um certo tipo de políticos portugueses, que têm contaminado a nossa governação desde, pelo menos, o tempo do Marquês de Pombal, gostam de se fazer de virgens ofendidas de cada vez que é posta em causa a seriedade das suas acções. No caso vertente, o Primeiro Ministro Montenegro manteve uma relação económica com uma organização cuja exploração depende directamente de licenciamento pelo Estado Português, cuja facturação registada no ano transacto atingiu cerca de duzentos milhões de Euros. Este negócio trata, nada mais, nada menos, que de Casinos e Jogos de Azar, e o alegado proprietário foi investigado no famoso caso dos papéis do Panamá. Portanto, tudo gente séria. A puta, sou eu...
Olhando para casos recentes: tivémos um Primeiro-Ministro que, sem indícios nenhuns da sua participação em coisa alguma, apenas por se referir o seu nome numa investigação a terceiros, teve a dignidade de se demitir, porque à mulher de César, não basta ser séria. Entretanto, da parte do Sr. Montenegro (Chamo-lhe Sr., porque, hoje em dia, com os políticos já nem se sabe o que é que são, e, sei que ele não é médico, porque, nesse caso, saberia que o dinheiro não é uma coisa que se transmite, como se fosse uma doença), dizia eu, da parte do Sr. Montenegro, fez-se cair o Carmo e a Trindade sobre o anterior Primeiro-Ministro, por forma a acelerar a sua partida. Mas, a puta, sou eu...
Um ex-Ministro da Economia foi acusado de uma quantidade de crimes por ter recebido dinheiro de uma avença que tinha com um Banco Português, antes de ter sido Ministro. É o Sr. Manuel Pinho, que, por isso, é criminoso, mas, o Sr. Montenegro, que mantém uma avença com o maior grupo nacional de Casinos, já depois de ter sido eleito e tomado posse como Primeiro-Ministro, como é um gajo sério e diz à boca aberta que assegura que nunca agiria em conflito de interesses, já é uma virgem ofendida. Perdoem-me aqui a imagética religiosa, mas estamos a falar de santos, por isso, é relevante: é como se o S. Pedro fosse passar umas férias a Maiorca e um representante do Satanás o ficasse a substituir nas portas do céu durante uns dias. Agiria, seguramente, sem qualquer conflito de interesses. E a puta, continuo a ser eu...
Entretanto, o nosso Primeiro-Ministro, faz aquele papel de virgem ofendida e faz de conta que não está casado em comunhão de adquiridos, afirmando peremptoriamente que a Sra. sua esposa não lhe transmitiu nenhum do dinheiro que a empresa que ela adquiriu dele facturou, com a mesma veemência de quem afirma que a esposa não lhe transmitiu nenhuma doença venérea. Porque ele, ao contrário de todos os outros, é que é sério. E é tão sério que nem sequer tem que parecer sério. Tenho cá para mim, que, sério, era ter-se demitido ao primeiro sussurro desta história, porque, para além da distração toda que esta história tem andado a causar à vida do país e dos diplomas que o Governo tem andado a aprovar às catadupas e às escondidas em Conselhos de Ministros Urgentes, não vá haver demissão amanhã, a puta vou continuar a ser eu...
Porque, estes senhores são todos sérios, e, este, mais sério é, que tinha ali uns rendimentos que, afinal, deu à esposa para os alfinetes, porque, para ele nada, que lhe deu tudo a ela. E os maus são os outros, que são desconfiados. Só que, isto dos alfinetes, só é bom, enquanto não o começarem a espetar com eles, e a Comissão Parlamentar de Inquérito que aí vem, promete alfinetadas com fartura. Vamos a ver, no final desta história, se não acabamos por estar perante uma puta como as outras todas. Que não posso ser sempre só eu.
por Pedro Estadão
P.S.: Já me ia esquecendo de avisar. Não obedeço ao Abortográfico (AO), que é pior que o Malamén.
@hefestus 10.03.25

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