O Xamã # in: O mapa de autoestrada - Parte 1

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O Steven era um sexagenário irlandês ligeiramente coxo e um pouco calvo, com ar de tio-avô que sabe contar histórias e vestir bonecas.
Tinha uma voz melodiosa e sussurrante e o condão de nos causar uma sensação de relaxamento apenas com a sua presença.
Perante o meu estado lastimável, pousava os olhos compreensivos e tranquilos na apocalíptica exposição que num generoso pranto eu desabava sobre ele. Com enorme paciência, contornou gentilmente a minha ansiedade e atormentada desatenção, procurando explicar-me onde se concentrava o desequilíbrio energético no meu corpo e identificar o verdadeiro problema ocultado pelos sintomas relatados.
Aparentemente o homem era uma fraude; o que ele dizia não fazia sentido porque não ia ao encontro de tudo o que eu tão laboriosa e árduamente já tinha descoberto. Arrependi-me imediatamente daquele desperdício de dinheiro e estava justamente com a imagem dos trinta euros na cabeça quando depositou dois cristais rosa em forma de ovo na minhas mãos e me convidou a instalar-me o mais confortavelmente possível na marquesa colocada no centro do recinto.
Olhei em volta e dei-me conta, pela primeira vez, da harmonia leve e aveludada do ambiente e do caricato que era ter um gabinete de terapia energética instalado numa sala de infantário.
Não perguntem, não questionem. O simbolismo esotérico estava por todo o lado, a conjugar com os pares de joaninhas gigantes e sorridentes, as ovelhas de olhos enormes e apalermados, uma lagarta com dezenas de botinhas e as borboletas multicolores que alegravam as paredes.
Havia velas acesas no chão, um triciclo encostado ao canto e um cd de música em frequência curativa flutuava pelo espaço como uma nuvem fofa num céu ensolarado (dizem que a 432Hz reverbera no corpo humano, com a capacidade de libertar bloqueios emocionais e expandir a consciência. Os mais fervorosos asseveram que nos sintoniza com a sabedoria do Universo e a Inteligência divina que reside na alma…). Eu cá não sei mas não me atrevo a negar o que não estou em condições de refutar.

( Continua...)

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