[Diário de Bordo]: Gente, Pára o Mundo Que Eu Quero Descer! [Parte II]

Gente, Pára o Mundo Que Eu Quero Descer!
[Segundo Capítulo]

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Guimbas do Demônio

Acho que um mês depois da ocorrência policial, cheguei em casa do trabalho, mega cansado, peguei o GPS para me movimentar no apartamento (eu o deixava sempre em uma mesinha perto da porta da sala), e fui para a cozinha. Abri a porta para a área e...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhh!

Olha, meu cansaço foi embora em menos de um milésimo de segundo porque uma entidade tomou conta do meu corpo e me deixou quente e em profundo transe! Pessoal, minha área estava CHEIA de guimbas de cigarro. Não era uma ou duas, não, havia mais de quarenta guimbas jogadas na minha área, fora uns dois copos de plástico amassados. Ou seja, minha área de serviço virara o Lixão de Caxias.

Eu nem mudei de roupa. Subi as escadas e fui ter com a bichete do 302, também conhecido pela alcunha de Sr. Rômulo (mas eu estava tão puto da vida, que eu nem queria saber, era bichete e pronto). Toquei a campainha dele umas quinze vezes, e na hora aquele monte de cachorro poodle que ele tinha apareceu latindo loucamente na porta. Eu pensei: "é para infernizar, então vam'bora, porque eu já estava com o cão no corpo" (e a latição comendo solta lá dentro). Ele finalmente atendeu e pedi para que me acompanhasse. Levei o sujeito até minha casa e mostrei a arte que fizeram por lá. Ele, incrédulo, disse: _"minha nossa, mas quem teria feito uma coisa dessas?" Gente, eu me segurei para não plantar a minha mão na cara dele!

"Sr. Rômulo, olha pra cima e perceba bem. Minha área só pode ser acessada por dois apartamentos: o 202, que é o manicômio, e o 302, que é o seu. Se não foi o senhor que emporcalhou a minha casa, QUEM SERIA?" Eu já estava berrando feito um doido! Aí, veio a resposta dele, com a cara mais cínica do mundo e, ainda, com mãozinhas para cima: "não sei. Quem seria?"

Ahhh, meu sangue, que já estava na fervura, virou lava de vulcão. Peguei o telefone para ligar para a polícia, mas ele rapidamente disse que resolveria a situação. Acho que ficou com medo de passar outra noite na delegacia registrando tudo.

Notinha para os amigos d'além mar e d'outros mares: se clicarem em "Lixão de Caxias", poderão conhecer o local a que me refiro.

Reunião de Condomínio

Havia uma reunião marcada para aquela semana mesmo e eu aproveitaria a aportunidade para colocar tudo o que me apoquentava para fora. Somente eu e o síndico comparecemos, ou seja, como viver em um ambiente em que ninguém respeita o próprio síndico. A única coisa que disse a ele foi: "se algum morador me causar o menor problema, eu não vou falar com você, vou diretamente na delegacia". Virei as costas e fui embora.

Festa de Arromba no Manicômio do 202

Galera, duas semanas de paz! Eu nem sabia mais o que era ter paz no Rio de Janeiro. Aliás, com os vizinhos que eu tinha, eu não sabia mais de nada da vida. Mas, aquelas duas semanas foram ma-ra-vi-lho-sas. Ai, ai, que delícia! Já estava até fazendo planos para o fim de semana. Vou chamar meu amorzinho, comprar uma pizza, vamos ver um filminho no Netflix (que pobreza, nós poderíamos ter ido ao cinema, mas eu não sou criativo em relacionamento). Eu já estava me achando. Simplesmente todo, todo!

Chegou o fim de semana, sabadão lindo, nós já estávamos nos preparativos, arrumando a sala para a sessão de cinema. Abrimos um vinho antes. Ai, meu Pai, nem acredito, é hoje! É HOJE!

Até que começamos a ouvir muitas vozes no manicômio acima de nós. Um burburinho que foi tomando uma proporção inimaginável, e tudo muito repentinamente. Até que uma música começou a tocar no volume máximo e foi impossível assistir a qualquer sessão de cinema em casa. Meu companheiro olhou para mim...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhh!

...e deu um grito assustador! Juro, ele deve ter visto alguma criatura das sombras encostada em mim, porque quem estava ali, naquele momento, não era eu! Foi-me subindo um ódio mortal. Tudo o que eu tinha preparado foi por água abaixo. Não conseguia pensar, não conseguia respirar direito. Eu estava zonzo de tanta fúria. Não é possível. Será que eles sabiam que eu planejara uma noite de cinema em casa? Não! E o pior era que, pela lei daquele condomínio (se é que havia alguma lei naquele lugar totalmente fora da lei), em casos de festas e comemorações especiais, eles poderiam ficar até à 0h com o som alto. Sabe quando você sente uma impotência total perante a vida? Era exatamente isso que eu estava sentido! Novamente, veio-me Maysa à cabeça e quase chorei de raiva!

Com isso, minha festinha particular foi pelo ralo. Fiquei neurótico e plantado na área de serviço do meu apartamento o tempo inteiro para que ninguém jogasse guimba de cigarro e sujasse tudo. Meu companheiro tentou persuadir-me do contrário e fazer-me entrar, mas não adiantou. Ele acabou cansando-se das tentativas e foi dormir. E eu fiquei olhando para cima, encarando todo mundo da festa que estava na sacada, com fogo nos meus olhos.

Não satisfeito, bati na casa de bichete e avisei sobre o hi-fi do andar de baixo. Se a música não parasse à 0h, a coisa ia ficar preta, nem que eu jogasse sal grosso no disjuntor de energia do prédio para acabar com o furdunço.

Enfim, à 0h o som foi desligado, mas a risarada e o falatório estavam absurdamente altos. Uma gritaria que parecia até um manicômio. Ah, não, lá era um manicômio! E eu, coitado de mim, tive de ir dormir aguentando aquilo tudo e, o pior, fiquei no zero a zero com o companheiro.

Entretanto, como dizemos por essas bandas, "Deus é Pai, não é padrasto". Às 2h, houve uma confusão no manicômio do 202 e acabei acordando. A porrada estancou de novo lá em cima, só que, agora, o motivo foi um ciuminho que o dono da festa sentiu ao ver sua esposa de assanhamento com um dos convivas. Acho que não tinha asanhamento nenhum e poderia ter sido coisa da cabeça dele, porque era todo mundo maluco. Como acreditar que algo acontecera verdadeiramente em casa de loucos? Bom, só sei que, dessa vez, bichete chamou a polícia e a coisa acabou mal para todo mundo.

Eu fiz questão de ir lá para o portão para ver tudo de camarote! O povo todo amarrotado, todo mundo escangalhado. Tinha gente com beiço sangrando, nariz quebrado, gente com roupa toda suja de sangue. Parecia até uma festa à fantasia, "todo mundo veio de zumbi ou de morto-vivo"! O mais legal é que a polícia estava levando os meliantes para a delegacia, ou seja, eles não iam direto para o hospital. Imagina a dor que aquela gente estava sentido? Vocês acham que eu estava me divertindo com isso? Nossa, como vocês são maus! Olha como eu estava me sentindo:

Eu estava rindo MUITO por dentro, com uma carinha de felicidade que TODO AQUELA CORJA viu nos meus olhinhos brilhantes de satisfação que, infelizmente, essa terra há de comer!

Cenas dos Próximos Capítulos

[Cena 1] Piran... (caraca, gente, muita raiva dela, mas, continuando) mocinha do prédio ao lado é chamada à delegacia sob suspeita de espancamento do marido (um bunda mole); [Cena 2] Manandezo muda-se para outro apartamento, e o suplício continua com novas cores.

Notinha 1: ainda estou pensando se faço um capítulo com a cena 1, é algo forte e proibido para crianças. Bom, se ela é a mãe daqueles capetas que estavam colocando a cara na minha janela, talvez possa contar. Enfim, vamos ver.

Notinha 2: depois do ato sanguinolento, e de ter visto todo mundo saindo do prédio com cara amassada a mando da polícia, fiquei animado. Voltei para casa, tentei sair do zero a zero com o companheiro, mas não consegui marcar um golzinho sequer! Ele estava praticamente morto na cama, ferrado no sono profundo!

Notinha 3: há mais alguns capítulos para sair, não percam!

Imagens: 1, 2, 3, 4

Muito obrigado por sua visita, carinho na leitura e comentários!
Abraços, @manandezo!
Publicação de 11 de agosto de 2017.