Eu não ia escrever este post hoje, pois estou passando por uma tempestade na minha vida pessoal, daquelas que demolem pilares e balançam alicerces. Eu não queria escrever, contudo, tenho tido muito apoio, muito suporte e muito incentivo de muitas pessoas lá fora para me manter de pé, e de muitas pessoas aqui dentro para continuar escrevendo, o que me deixa profundamente grata e comovida. E por essas pessoas eu me sinto impelida a manter a constância na produção, então vamos lá.
E como nenhuma história se refere a um único espécime e sim à toda sua espécie, e como toda subjetividade é de certa forma intersubjetiva, gostaria de aproveitar este momento que estou passando para falar sobre o inevitável processo de reflexividade que cada indivíduo e coletividade necessita viver neste momento.
Precisamos tomar consciência e conduzir este processo o quanto antes, no intuito de nos apropriarmos com destreza e visão das ferramentos e recursos de que dispomos para lidar com as constantes rupturas e disrupturas que porventura estejamos vivenciando. Se sairmos do âmbito individual e pensarmos em um contexto social mais amplo, as tecnologias disruptivas ilustram bem o potencial da reflexividade em gerar novas soluções para problemas emergentes.
O conceito de reflexividade que estou usando aqui foi criado por Anthony Giddens, Ulrich Beck e Scott Lash, os quais acreditam que a modernidade (contemporaneidade na perspectiva deles) se caracteriza atualmente pelo seu caráter reflexivo. Isto porque ao longo dos séculos viemos questionando e desconstruindo muitas crenças, o que levou ao desmoronamento de antigas estruturas sociais tidas como eternas até então. Esse abalo nas crenças estruturais, por sua vez, levou ao enfraquecimento (e não extinção) de inúmeras instituições sociais como algumas instituições cristãs, a "família tradicional", relações hierárquicas de trabalho, papéis fixos de gênero, "bons costumes" sociais , etc.
Por mais que desconstrução seja um termo atribuído aos simpatizantes e pensadores da esquerda política, ele na verdade representa o rompimento com diversos tipos de modelos estruturais, muito além "dos temas de humanas", indo na direção de temas como economia, tecnologia, inovação e empreendedorismo. Desconstruir não é apenas se livrar de preconceitos sociais diversos, mas também de modelos estruturais limitantes, em qualquer área que seja.
Após a desconstrução de tantas verdades, eis que a humanidade se depara com a alegria de um pouco mais de liberdade mas também com a indecisão angustiante sobre o que se deve fazer, agora que se é livre, um pouco mais que seja. A reflexividade entra exatamente nesse momento.
A modernidade reflexiva somos nós, que, desprovidos de muitos condicionamentos sociais historicamente desconstruídos, no enchemos cada vez mais de desânimo e ansiedade frente à complexa tarefa de reconstruir algo a partir dos escombros que nos restaram.
A modernidade reflexiva somos nós, que enriquecemos a indústria de psicotrópicos por excesso (ansiedade) ou ausência (depressão) da capacidade de refletir e decidir quais fortalezas e portos seguros construiremos para nós mesmos, visto que renegamos aqueles deixados pelos que nos precederam.
A imagem abaixo é do Tarot de Marselha (Arcano Maior A Torre) e representa o arquétipo humano dos que sofrem e se desesperam com a repentina dissolução e desconstrução de algo que era tido até então como super sólido.
arquivo pessoal
Claro que num processo histórico nada é repentino, e da mesma forma que a desconstrução de uma crença leva séculos, a criação e disseminação de outra nova leva mais um bocado de tempo. Então não adianta desesperar ou desanimar. Esse é um processo coletivo e individual que estamos todos passando ao mesmo tempo: o de refletir profundamente até que ponto estruturas antigas nos servem ou não, e até que ponto queremos e dispomos de recursos internos e externos para erigir novos pilares condizentes com nossas mais atuais e autênticas expectativas (enquanto indivíduos e também enquanto espécie). Até que ponto?
Reflitemos
Eu pessoalmente estou que nem aquele carinha pronto para espatifar a cara no chão, no desmoronar da torre. Peço desculpas caso o fluxo da produção possa estar deixando um pouco a desejar. Prometo que melhoro isso assim que meu processo reflexivo individual estiver um pouco mais avançado, dada a magnitude da torre que desmoronou por aqui. Obrigada por ler.
Parabéns, seu post foi selecionado para o BraZine! Obrigado pela sua contribuição!
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Obrigada!
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Nunca deixe de escrever, principalmente se esta é uma válvula de escape para você.
São os piores momentos das nossas vidas que a gente cresce e se desenvolve mais. Força e Perseverança, que uma hora tudo se ajeita, e se tem uma coisa boa na vida, é que nada é para sempre, nem a felicidade, nem a tristeza, então o que a gente te que fazer é igual ao Zé Frango, relaxar e curtir a onda...
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Hahaha, pior que é assim mesmo... nas piores horas a inspiração cresce. Valeu a força, tô quase conseguindo curtir a onda já. Rs
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É meio difícil, mas depois que passamos pelo processo vemos que não era tão complicado assim. Na época da minha depressão, eu achava que ia morrer, hoje, posso estar no mesmo local com as mesmas coisas, que eu nunca mais entro em depressão. Mares calmos nunca fizeram bons marinheiros.
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"estar no mesmo local com as mesmas coisas" - que processo difícil porém necessário. Obrigada pela força, Roberto!
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