Ensinando Filosofia a um Ancap | Ignorância Transcendental

in pt •  6 years ago 

ENSINANDO ANCAP A FILOSOFAR.png


Respondendo a uma crítica que recebi de Vinicius Botti, do canal So To Speak.

Assista ao vídeo abaixo:


Transcrição do vídeo:

Fala pessoal, Alysson aqui.

Então, hoje eu quero responder às críticas que recebi do Vinicius Botti, no canal SoToSpeak, um canal de anarcocapitalistas hoppeanos, em que o Botti tá preocupado em me desmascarar para seus fãs porque algumas semanas atrás eu provoquei toda uma treta no twitter ao falar algumas coisas que incomodaram a crença da galera na própria ideologia.

No vídeo ele não me cita nominalmente, talvez por desprezo à minha pessoa ou por covardia. De toda forma, embora eu seja utilitarista eu também sou muito mais kantiano que esse pessoal aí, porque eu sei tratar as pessoas como fins em si mesmas, então deixo claro que tô replicando aqui especificamente as palavras do Vinicius Botti, e não sua pessoa.

Aliás, antes de mostrar meus argumentos eu quero fazer um pedido aqui ao Botti...

~~ trecho do vídeo do Botti falando em doação ~~

Então Botti, já que você quer ajudar quem precisa e tá disposto a divulgar causas de caridade, que tal entrar aqui no meu canal, procurar o vídeo destacado em que falo sobre Altruísmo Eficaz e divulgar a ideia? Caso você não saiba, o Altruísmo Eficaz é um movimento internacional em busca do maior bem que podemos fazer, atuando então diretamente com iniciativas eficientes de caridade. Numa visão econômica, isso significa maior impacto com menos gasto de recursos: ou seja, aproveitamento eficiente das doações. Já que você tá aberto a divulgar projetos de caridade, então eu ficaria muito grato que você divulgasse o Altruísmo Eficaz pros teus seguidores... Pode ter certeza que isso salva vidas.

Dito isso... Pra quem quiser assistir ao vídeo do Vinícius Botti na íntegra, vou deixar em algum lugar por aí, então fiquem à vontade pra pausar este vídeo e irem lá.

Também convido vocês a curtirem meu vídeo porque eu infelizmente não tenho a projeção que esse pessoal tem, e toda curtida é bem-vinda pra ajudar nisso, pra poder trazer o direito ao contraditório e atingir o público interessado no assunto, especialmente as pessoas perdidas que não sabem quem tá com a verdade e nunca saberão se ficarem apenas conferindo um lado da moeda.

Ah, já fica o convite também pra vocês entrarem no meu grupo de filosofia no Discord, porque lá tem uma galera bacana que sabe raciocinar filosoficamente e falar que nem gente, sem depender de mera zuera ou memes, sendo então um espaço pra gente grande.

Enfim, vamos ao que interessa...

Bom, o Botti começa o vídeo dele dizendo que viu no twitter uma coisa bizarra, e no caso ele tá falando dos meus tweets criticando a ideologia hoppeana.

E bom, como ele se preocupa bastante com falácia do espantalho eu vou então colar trechos do vídeo dele aí pra impedir que eu minta sobre o que ele tá falando, e também se ele me der strike tá tranquilo, reupo editado depois e ainda jogo na cara da sociedade que ele acredita em propriedade intelectual.

"para falar do argumento você precisa compreender a estrutura analítica do argumento que você tá atacando, se não você estará falando de outra coisa que o autor não falou, se não você estará refutando um espantalho"

Depois disso ele tenta explicar o ponto dele falando na figura de linguagem "eu racho" pra significar "rir demasiadamente", ou seja, ele faz uma comparação entre uma figura de linguagem com um termo bem basilar da lógica proposicional, que é "argumentação".

Olha só, esse ponto do espantalho é extremamente importante. Isso porque... em todos os casos em que eu vi hoppeanos aplicarem a falácia do espantalho lá na discussão no twitter... existe uma má compreensão do que é a falácia do espantalho.

Então eu faço questão aqui de ler um comentário do Tiago Carneiro, que é companheiro de live aqui no canal. Prestem bem atenção no que o Tiago diz, isso é fundamental pra vocês entenderem de uma vez por todas a falácia do espantalho, e quando ela se aplica ou não se aplica:

Quando você diz "eu racho", usando o significado de "rachar" como "rir demasiadamente", se alguém atacar você assumindo que o que você disse na verdade foi "eu quebro coisas", obviamente isso seria um espantalho. Ou seja, se uma pessoa x diz "p", sendo que "p=q", e uma pessoa y ataca "p", pressupondo e acusando que x entende "p" como "z", ela está atacando o argumento errado — no caso, ela está atacando "z", e não "q" (que seria equivalente ao "p" inicial).

O problema é que isso não é o mesmo que alguém dizer "x é y", e outra pessoa dizer "não, x não é y". Esse segundo caso não é um espantalho. Se alguém olha para uma cadeira azul e diz "esta cadeira é branca", e você diz "não, essa cadeira é azul", você não está fazendo um espantalho.

Dizer que "argumentação" não é comumente entendido como apenas uma circunstância intersubjetiva de troca de proposições sem agressão é fazer algo análogo ao segundo caso, e não ao primeiro. E por isso, não é um espantalho. O máximo que você poderia dizer é que o termo "argumentação", usado pelo Hoppe, é apenas um termo técnico, que não reflete o mesmo referente que as pessoas têm em mente quando falam "argumentação".

Ou seja, o que o Hoppe fez aí foi só nomear "argumentação" como esse tipo de circunstância. E ainda assim, não foi nem deixado claro no artigo do Scheffel — que foi a referência da live dos utilitaristas criticando a Ética Argumentativa — se esse era um termo técnico.

Criticar quem critica a afirmação de Hoppe de que "argumentação" é x, sob essas condições, seria análogo à seguinte situação:

Eu digo: "O utilitarismo é o sistema ético verdadeiro"
Você diz: "Não, o utilitarismo é um sistema ético falso"
Eu digo: "Espantalho! Eu defino o termo "utilitarismo" como "o sistema ético verdadeiro"."

Me poupe, né...

Bom, depois disso o Tiago esclarece um pouco melhor sobre a live que fizemos...

Reforçando a explicação, então...

Dizer que "rachar" não é o mesmo que "rir demasiadamente", mas "quebrar uma madeira", por exemplo, não é uma falácia do espantalho, isso porque dizer ao outro que "rachar" não é isso que o outro tá dizendo que é, é apenas uma crítica ao entendimento que o outro tem sobre essa palavra. Falácia do espantalho é eu assumir que o outro disse algo que ele NÃO disse, e não é esse o caso.

"a palavra é a mesma, só que a definição, o conceito que o autor atribuiu a esse símbolo/palavra 'rachar' ele deixou isso especificado - você precisa disso pra entender um argumento"

Concordo, preciso entender a definição pra poder entender o argumento. Porém, como já expliquei, não é isso que tá em questão aqui, o que tá em questão é se a definição é ou não é parcimoniosa.

"não é o que você acha que o autor quis dizer ou o que você acha que a palavra significa, é a definição que o autor deu"

É nesse ponto aí de apego às definições dadas pelo autor, como se a gente não pudesse criticar o autor em suas definições e, pra critica-lo, temos que necessariamente aceitar essas definições, é por aí que eu vejo um relativismo semântico por parte dos hoppeanos.

Eu poderia trazer exemplos aqui de como a mera atribuição de definição não resolve o problema semântico dos referentes, daquilo que a palavra, o termo enfim... daquilo que eles denotam na realidade.

Eu tô estudando ainda Semântica 2D, que tem uma defesa bem interessante do filósofo David Chalmers e que se baseia na ideia de Sentido e Referência em Frege, um lógico bastante famoso aí que mostrou que existem verdades Necessárias A Posteriori. Ou seja, nem todo A Posteriori é contingente, algo que se tu for falar prum ancap é capaz de ele te mandar ler Kant, mas como não quero ir muito além do necessário aqui, apenas convido vocês a procurarem no Google "Hésphero É Fósforo", que o mundo da filosofia da linguagem vai se abrir pra vocês.

Voltando ao vídeo do Botti, ele diz que a definição que eu defendo de argumentação, enquanto utilização da estrutura lógica de um argumento, ou seja... a junção de premissas com uma conclusão, é algo que foge da definição que o Hoppe utiliza, que é, conforme diz o Botti, a ideia de que uma argumentação é uma troca de proposições intersubjetiva.

Vejam aqui que, se vocês forem em todas as tretas que eu tive com os hoppeanos sobre esse assunto em específico, eu tô lá dizendo a mesma coisa que o Vinicius Botti, ou seja.. eu tô assumindo que a definição de argumentação de Hans Hermann Hoppe é de "uma troca de proposições intersubjetiva".

Ou seja, onde tá o espantalho aí? eu tô literalmente assumindo que o cara disse a mesma coisa que ele disse, eu não tô assumindo que ele disse outra coisa que não o que ele de fato disse... Meu ponto não é se ele disse isso ou aquilo, meu ponto é que o que ele disse, a definição que ele utiliza, não é uma definição parcimoniosa. O que eu tô fazendo NÃO É uma falácia do espantalho. E se não se convenceu ainda, volta pro começo do vídeo e leia de novo o comentário do Tiago, tá tudo escrito bonitinho ali pra vocês.

Um pouco depois no vídeo o Botti fala que a argumentação requer o télos, a finalidade do alcance da verdade no sentido de "alegação do valor-verdade de uma proposição", de modo então que a argumentação necessariamente vise a resolução de conflitos ou de discordâncias.

Bom, aí é preciso explicar se essa tentativa de chegar à verdade proposicional é intencional dos argumentadores ou se é mera externalidade da argumentação. A depender da resposta que o Botti poderia dar a isso, a gente poderia prolongar ainda mais a treta. Vou deixar isso pra lá também mesmo embora essa exigência específica pra argumentação só favoreça minha crítica quanto à parcimônia.

Ok, então até aqui Botti defende que essa ideia de argumentação como troca intersubjetiva de proposições é a definição do Hoppe, o conceito que ele atribuiu à palavra "argumentação".

E a partir disso ele cita que, nas nossas trocas proposicionais no Twitter, eu falei que minha definição de "argumentação" é muito melhor.

O pessoal caiu na zuera pra cima de mim, provavelmente porque não entendem meu ponto. De toda forma eu tô aqui e explico.

Sim, de fato eu falei que minha definição de argumentação é muito melhor — claro, a definição que eu tô defendendo não é minha, eu não sou autor dela, na verdade essa é a definição que temos na filosofia acho que desde Aristóteles.

"Na lógica e na filosofia um argumento é um conjunto de uma ou mais sentenças declarativas, também conhecidas como proposições, ou ainda, premissas, acompanhadas de uma outra frase declarativa conhecida como conclusão."

A partir dessa definição de "argumento", todos os filósofos acadêmicos entendem que "argumentação" é "o ato de argumentar", pois é uma simples derivação da palavra "argumento". Não há porque ir além disso na definição, exigindo critérios a mais para definir o que é argumentação se já temos definido o que é um argumento.

E sim, eu defendi que essa definição clássica de argumentação é a melhor definição pra se fazer filosofia. E eu fiz isso por dois motivos:

O primeiro é que, já que eles tavam me zoando naquele estilo infantil que eles são mestres em fazer, eu resolvi então brincar com eles também, e comecei a ser arrogante, que é o que eles fazem pra impressionar o seu público de adolescentes impressionáveis, dando ares de serem superiores a ponto de rirem de mim, e já que David Hume está certo quando diz que a razão é escrava das paixões, e que não devemos confundir paixões calmas com razão..., eu comecei a mostrar paixões mais fortes, algo que eles já tavam ali fazendo ao mesmo passo em que davam pinta de racionalistas, quando na verdade são um bando de apaixonados.

O segundo motivo, que é o motivo relevante, é que, sim... A definição de argumentação que eu utilizo é melhor porque é uma definição parcimoniosa, e porque tem poder preditivo superior pra explicar situações que, quando visualizadas, nós assumimos intuitivamente existir ali alguma argumentação.

Agora pega isso, essa questão da parcimônia, da navalha de ockham, e associa ao que o Vinicius Botti diz mais adiante, quando fala que o reconhecimento da autopropriedade é uma condição transcendental da argumentação, ou seja... pra que você argumente com outra pessoa, é condição de possibilidade que você respeite a autopropriedade dessa outra pessoa, de modo que você não pode entrar no curso de uma argumentação sem que esteja ali ocorrendo o reconhecimento da autopropriedade.

Pegou essas duas coisas? Primeiro, a minha crítica de que a definição do Hoppe não é parcimoniosa e, segundo, a condição de reconhecimento de autopropriedade pra poder argumentar em sentido hoppeano?

Então agora eu vou aqui falar de algumas situações muito relevantes pra que vocês possam entender as minhas críticas...

Bom, pra ilustrar de forma factual o que tô querendo dizer eu já falei em outras ocasiões que, em 2016, a Microsoft lançou um bot no twitter chamado Tay, que era uma inteligência artificial que aprendia conforme tinha interação com outros usuários do twitter, e a tay interagia com todo mundo, trocando proposições, defendendo posicionamentos, enfim...

Como a Tay foi desativada devido a discurso de ódio, eu quero trazer aqui um caso mais recente pra provar meu ponto, que é o do Assistente da Google. Então vejam esse breve vídeo que eu coloco na tela, onde é anunciado o serviço "Google Duplex":

Ou seja, existe aqui uma situação onde dois indivíduos estão trocando proposições, uma pessoa e uma inteligência artificial. Isso é questão de fato, você pode justificar a crença nesse fato apenas olhando pro vídeo, nem precisa entrar em argumentação.

Agora, também é fato que essa troca de proposições não é do tipo argumentativo, ao menos a gente pode aceitar que não houve argumentação no sentido hoppeano, porque não podemos assumir que houve por parte do bot o reconhecimento da autopropriedade da atendente, embora houve claramente ali uma troca de proposições entre uma máquina e um ser humano — ou seja, é questão de tempo até a Google e as outras grandes empresas do Vale do Silício lançarem inteligências artificiais que formulam argumentos e trocam esses argumentos com todos nós, seres humanos.

Já pensou que bacana uma inteligência artificial que simula uma conversa com um filósofo famoso? Eu não sei vocês mas eu adoraria bater um papo com o falecido Bertrand Russell.

A questão que eu coloco aqui, então, é se a definição hoppeana de argumentação contempla essas situações tecnológicas, uma vez que, pros hoppeanos, quando você argumenta com outra pessoa você necessariamente reconhece a autopropriedade dela.

Eu pergunto sinceramente pra vocês, hoppeanos: vocês reconhecem a autopropriedade dos bots da Microsoft e da Google? Ao menos até onde me parece, a única forma de salvar o entendimento que vocês têm sobre "argumentação" é defendendo que, sim, esses bots têm autopropriedade, ou então que, na verdade, os bots não podem argumentar, o que é totalmente contra-intuitivo, e pouquíssimos filósofos aceitariam isso.

Bom... agora eu trago outra situação, que não é do mundo da tecnologia, mas do mundo da epistemologia, da filosofia do conhecimento...

Olha... Quando a gente fala em teoria do conhecimento, basicamente a preocupação geral é definir "o que diabos é o conhecimento"?

Vejam, ao longo da tradição da epistemologia analítica, se tem considerado uma definição de conhecimento como a mais correta, mais precisa e que melhor explica o fenômeno do conhecimento em todas as suas formas e situações. Essa definição a gente chama, em epistemologia, de definição tripartite do conhecimento, porque ela diz que, pra haver conhecimento de algo, é preciso preencher três requisitos: deve haver crença, essa crença deve ser verdadeira e deve estar justificada. Ou seja, crença verdadeira justificada é a definição tradicional do conhecimento. Nesse sentido, qualquer coisa que preencha esses três critérios consecutivamente é, necessariamente, conhecimento. Questão a priori, pois essas são as condições de possibilidade do conhecimento, são transcendentais nesse sentido.

Só que daí em 1963 veio um tal de Edmund Gettier, com um artigo de apenas 3 páginas...

Vejam isso... o cara conseguiu revolucionar toda uma área abrangente da filosofia com apenas 3 páginas, e tem gente acreditando que eu tenho que ler livro de 800 páginas pra poder fazer críticas pontuais... faz-me rir.

O artigo do Gettier é chamado "É a crença verdadeira justificada um conhecimento?".

Até onde eu aprendi, atualmente o problema que Gettier apresentou nesse artigo é o grande problema da epistemologia contemporânea, isso porque Gettier apresentou contra-exemplos à visão tripartite de conhecimento que são situações nas quais, por exemplo, existe crença verdadeira mas a justificação dessa crença não é sólida, de modo que aquele que conhece não necessariamente precisa estar justificado em sua crença para conhecer.

Ou seja, toda a tradição da epistemologia analítica tá preocupada em achar as noções substanciais sobre o conhecimento que nos permitem defender uma definição de conhecimento.

E por que eu tô trazendo esse fato pra vocês?

Bem, é simples: pra mostrar que o princípio da parcimônia que eu tô trazendo aqui é extremamente importante pra filosofia, e dizer que eu tô cometendo falácia do espantalho quando eu critico a definição do Hoppe é o mesmo que dizer que todos os epistemólogos estão cometendo falácia do espantalho quando criticam as definições utilizadas por seus pares.

Será que o Botti e seus amigos hoppeanos vão dizer, sinceramente, que Edmund Gettier tá cometendo falácia do espantalho ao descer o sarrafo na definição tradicional do conhecimento, que é a definição utilizada pra fundamentar a filosofia de seus colegas filósofos? Bom, eu não espero isso porque além de não saberem aplicar falácias lógicas, esses hoppeanos também não sabem aplicar navalhas lógicas e sequer conseguem ser consistentes para além da bolha semântica Hoppe na tentativa fracassada de não permitir a refutação da sua ideia furada.

Aliás, já respondendo a uma crítica que o Fhoer fez lá no Twitter, dizendo que a navalha de Ockham, a lei da parcimônia, só se aplica a hipóteses científicas.

Na verdade a lei da parcimônia contempla não apenas a navalha de Ockham que eu tô trazendo aqui, tem outras navalhas lógicas que se vocês insistirem muito eu trago em outros vídeos.

O ponto da navalha de Ockham é que, primeiro... Guilherme de Ockham foi um filósofo e lógico medieval que não lidava com ciência. Antes, ele teorizava sobre metafísica, sobre lógica e filosofia. A navalha de Ockham tem essa expressão aqui:

"As entidades não devem ser multiplicadas além do necessário, a natureza é por si mesma econômica e não se multiplica em vão".

Essa navalha foi revolucionária na época, lá no século 13 se não me engano, embora hoje em dia haja críticas a essa navalha e também haja outras navalhas lógicas em nome da parcimônia, sendo que todas se aplicam à filosofia. De toda forma, a navalha de ockham é excelente mesmo pra distinguir qual definição é melhor pra explicar um determinado referente.

Ou seja, hoppeanos... Vejam que vocês estão numa sinuca de bico, tudo porque a definição de argumentação de vocês não é parcimoniosa, ela não prediz situações onde intuitivamente qualquer pessoa consegue reconhecer que houve argumentação sem necessariamente reconhecer que houve respeito à autopropriedade.

Aliás, se vocês forem coerentes e respeitarem a autopropriedade desses bots da Google e da Microsoft de que falei antes, então já que a autopropriedade confere direitos jurídicos pra quem a detém, o que fazer então com esses bots? Dar direitos a eles? Se sim, ok, vamos dar direitos aos bots... Mas isso não significa começar a defender propriedade intelectual?

Ué, pensei que ancap era tudo contra propriedade do que não é escasso, mas enfim...

Então vejam que é justamente por isso, por conta da capacidade preditiva da definição, de prever situações em que aquela palavra se aplica..., é justamente por isso que eu digo que a definição de argumentação que eu utilizo, que é a definição amplamente aceita na lógica e na filosofia... é por isso que eu digo que minha definição é melhor, porque ela é parcimoniosa e ela consegue muito bem explicar, por exemplo, o fenômeno dos bots argumentando com outras pessoas, sem exigir o reconhecimento de autopropriedade, e tá tudo bem com isso, o mundo não vai ficar anti-ético nem o ancapistão foi refutado, não se preocupem.

Caras, isso é uma sinuca de bico gigante, e o ruim é que vocês simplesmente não percebem, porque estão mais preocupados em defender o dogma, a ideologia, do que em em fazer filosofia.

Mas ok, vamos seguir com o assunto...

Seguindo o vídeo o Botti fala lá que não tem como haver múltiplas ações, mas apenas ações com múltiplos propósitos, e que ou você está argumentando ou você está fazendo outra coisa, o que me parece outra balela semântica sem tamanho e que, se eu não me engano, vem desde Mises, desconsiderando então fatos psicológicos intencionais dos indivíduos e mesmo aspectos comportamentais não-agressivos ao mesmo tempo em que estão argumentando, mas eu vou deixar pra criticar isso em outra ocasião porque não é o assunto de hoje.

Então ele fala de uma crítica que eu fiz numa outra thread no twitter, sobre a ideia de que uma condição transcendental cai no problema da indução de David Hume. Esse ponto eu reconheço que ficou bastante confuso, até porque foi apenas um tweet aleatório que fiz durante toda uma treta, então eu vou colocar a thread aí na tela pra vocês...

~~ thread inserida no vídeo ~~

Essa aqui é a thread da qual o Vinicius Botti tá falando. Vejam o que eu postei: "Ficar criando a própria definição de forma arbitrária para tornar-se irrefutável é quase uma falácia de petição de principio."

Ou seja, aqui eu tô criticando justamente a semântica que eles utilizam, porque eles colocam a conclusão que querem ter já nas premissas, ou seja, falácia de petição de princípio, argumento circular, argumento falacioso que eu, o Tiago, o Vitor e o José já criticamos na nossa live dos utilitaristas respondendo à ética argumentativa.

Daí ele responde me chamando de "filósofo", claramente em tom irônico, algo em que esse pessoal hoppeano é treinado mas que não sobrevive na academia, porque filosofia acadêmica é coisa de gente grande. De toda forma, como eles não dão a mínima pra academia, porque a academia certamente desce o sarrafo no Hoppe, então eles ficam nessas zueras de criança mimada provando que David Hume tá certo sobre a razão ser escrava das paixões.

E então eu entro no jogo, falo que o Botti é meio limitado (e eu realmente acho isso, afinal não vou tecer elogios a uma pessoa que só repete o que os outros dizem e perpetua comportamento infantil), e daí eu digo que ele não entendeu meu ponto, e expliquei pra ele o que é uma petição de princípio... quem quiser ler é só pausar o vídeo.

Logo depois ele fala que achou que seria um bem não discutir mais comigo, é a parte em que ele começa a me ignorar simplesmente porque não sabe me responder. De uma perspectiva biológica, se você evita o confronto o seu cérebro agradece, porque é desconfortante ter suas convicções ideológicas questionadas. Nesse sentido o Botti foi racional em me ignorar, até pra se proteger mesmo.

Ok, então ele zoa o que eu falei, da condição transcendental da autopropriedade cair no problema da indução do Hume.

Pergunto pra ele onde falei isso pra ver se ele me interpretou bem, afinal a gente trocou centenas de tweets durante toda essa treta, e ele manda esse print aqui que eu coloco na tela, onde eu falo "Vocês não tão meramente deduzindo formalmente de um conjunto de premissas, vocês estão induzindo que todo ser humano reconhecerá a autopropriedade no curso de uma argumentação. David Hume apontou esse erro em sua crítica à causalidade."

Daí um hoppeano defende que não estão INduzindo nada, que é apenas uma DEdução a priori.

~~ fim da thread ~~

Vou agora então explicar as duas críticas que fiz, que o Botti tá rebatendo no vídeo dele. A primeira é a da petição de princípio, o argumento circular. Vamos lá...

Primeiro: Hoppe assume na premissa do seu argumento que a autopropriedade é condição de possibilidade da argumentação, sendo então transcendental.

A partir disso, Hoppe chega à conclusão de que a autopropriedade existe, que ela é uma norma da argumentação, e ela é provada pelo curso de uma argumentação, a qual exige autopropriedade, e por exigir autopropriedade logo autopropriedade é comprovada no curso da argumentação, porque a argumentação exige reconhecimento da autopropriedade, logo autopropriedade existe porque está ali provada na argumentação, e então a argumentação prova a autopropriedade, logo autopropriedade...

Enfim, vocês entenderam o ridículo da coisa, né? Isso é falácia de petição de princípio, quando você tenta provar que alguma coisa é verdade sendo que você já colocou que é verdade nas premissas. A dica que dou é que vocês procurem aí no Google pelo termo "argumento circular", especialmente se você for um hoppeano.

O outro ponto da minha crítica nessa thread é o de que o reconhecimento da autopropriedade cai no problema da indução de David Hume.

Pra quem não sabe, David Hume entende que a indução é uma inferência lógica contingente, ou seja ela não é a priori, e só pode levar a uma conclusão que tem apenas certo grau de probabilidade de estar correta, não sendo então uma verdade necessária, que alcance todas as situações possíveis em que aquele evento, aquela relação de causalidade, pode ser percebida.

Ou seja, existem duas formas de pensar o que eu tô dizendo aqui, que é ou a forma do Botti, ou a partir da forma filosoficamente aceitável, que é com honestidade intelectual e caridade interpretativa: uma virtude para poucos.

Então... O Botti tem mérito em apontar que o problema da causalidade não se aplica a deduções lógicas, porque é um problema de indução. Concordo, o Botti tá certo nisso, eu não posso avaliar o argumento dedutivo dele por esses termos indutivos.

A questão do meu breve comentário trazendo o problema da indução é outro: eu não tô defendendo que que o problema da indução refuta uma condição transcendental. No contexto da nossa conversa de centenas de tweets, eu tô defendendo que existe uma crença indutiva generalizada por parte dos hoppeanos de que, dado que eles reconhecem a autopropriedade alheia no curso de uma argumentação, logo isso se segue em todos os casos. Claro, essa não é uma formalização lógica que eles fazem, na verdade é um raciocínio implícito, que é indutivo, mas que tem uma formulação explícita que é dedutiva, que é o argumento hoppeano.

Ou seja, se a gente fosse formular essa crença generalizada dos hoppeanos, que é uma crença que não responde aos problemas que eu já trouxe aqui das inteligências artificiais, o que temos é

Premissa: "reconheço autopropriedade na argumentação"
Conclusão: "logo, todos reconhecem autopropriedade na argumentação"

Esse tipo de raciocínio indutivo implícito tá presente nos hoppeanos, e não é porque a formalização explícita deles é dedutiva que evidenciar essa postura epistêmica deixa de ter mérito, afinal em nenhum momento eu defendi que o problema da indução refuta qualquer tipo de condição transcendental, na verdade o que refuta qualquer condição transcendental que possamos vir a estabelecer, como já mostrei no problema de Gettier, é se descobrirmos uma única sequer situação que não tá de acordo com o transcendental da argumentação, seja uma situação concreta, seja hipotética. E bem, meus amigos, existem várias, já mostrei situações concretas aqui e na nossa live mostramos situações hipotéticas.

Então ele fala que eu assumi que não li o Agir Comunicativo de Habermas, e de fato eu não li, até porque nunca me interessei por Escola de Frankfurt, não sou fã da base marxista que eles têm, embora os hoppeanos pareçam ser.

Na verdade, e eu deixo isso bem claro em todas as situações que me acusam de não ter lido algo, a gente precisa assumir que para julgar o mérito dos argumentos nem sempre é necessário ter toda a bagagem teórica que fundamenta a visão do autor.

A bem da verdade, e especialmente se estamos no campo da lógica, você pode analisar argumentos por sua estrutura formal, você não precisa pegar 3 ou 4 livros de 800 páginas pra entender que Sócrates é Homem, Todo Homem é Mortal, Logo Sócrates é Mortal.

Se você tá estruturando seu raciocínio de modo visivelmente formal, você deve estar aberto a ser atacado na formalidade, e não pode reivindicar o direito de ser atacado apenas pela bagagem teórica da coisa toda, a não ser que você admita que sua ideia não passa de literatura.

Bom, aí pelo final do vídeo o Vinicius Botti fica respondendo perguntas da galera na live, fala algumas abobrinhas aqui, outras ali, o pessoal até critica ele durante a live mas ele ignora as críticas e só responde aquilo que é conveniente...

Enfim, o Botti não é exatamente um intelectual, tá mais prum ativista teórico da ideologia hoppeana, então talvez seja ilusão esperar que ele responda a, por exemplo, os comentários do Matheus Golfe ao final da live, que foi replicado em comentário do Matheus Souza. Então como trata-se de um comentário muito pertinente, então eu pergunto ao Botti, ao pessoal do SoToSpeak e a todos os hoppeanos...

Afinal, em qual forma pura da intuição se baseia esse transcendental da argumentação?

Eu nem quero entrar aqui no mérito de dizer que os hoppeanos não leram Kant, eu apenas gostaria de uma resposta a essa pergunta.

Em qual forma pura da intuição baseia-se esse transcendental da argumentação?

Aliás, outra pergunta que também foi feita nos comentários: por que somente através de uma argumentação se pode alegar o valor verdade de uma proposição?

Eu não sei vocês mas... Não foi isso que eu aprendi durante um ano estudante lógica na melhor universidade privada do sul do país, e eu realmente gostaria de saber por que eu tô errado em acreditar no contrário.

Enfim, num primeiro momento eu nem ia responder a esse vídeo do Vinicius Botti, porque é um vídeo sem profundidade, ele apenas fala o "disse-me-disse" que rolou lá no Twitter, não vai além do que já era conhecido, fala que é preciso ver o conteúdo do Agir Comunicativo do Habermas mas sequer cita uma coisa relevante sobre o tema...

Não é como os vídeos do Porto, por exemplo, em que ao menos existe uma tentativa de estabelecer relações lógicas consistentes em sua argumentação, defendendo um ponto não por mera ideologia mas porque realmente existe ali uma base em método dedutivo que vale a nossa atenção, que dá pra analisar racionalmente, que pode ser avaliada por estruturas formais da argumentação.

Mas... como eu quero clarificar as coisas pros desentendidos que acham que me chamar de filósofo refuta qualquer coisa do que eu disse, então tá aí mais um vídeo deste canal.

E se tem alguma alma caridosa aí querendo financiar este canalzinho de filosofia que menos cresce no Brasil, acesse padrim.com.br/alysson e escolha sua forma de investimento.

Eu sou uma pessoa apenas sendo atacada por tantas outras, porque resolvi mexer no vespeiro. Mas tudo bem, até gosto disso, porque se tem um imperativo moral que eu sigo é o de não deixar de reclamar do que merece ter o dedo na cara.

Enfim, eu vou ficando por aqui, meu nome é Alysson Augusto e a gente se vê nos comentários. Forte abraço.

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