Um vídeo-resposta a Rodrigo Ferrari (aka "Platinho") e suas reflexões acerca de Feminicídio, liberdade sexual e monogamia. Clique no vídeo abaixo para assistir, ou leia a transcrição logo em seguida.
Transcrição do vídeo:
Hoje eu assisti a um vídeo do canal Platinho, que é o canal do Rodrigo Ferrari, mestre em sociologia pela PUC de São Paulo.
Eu já indiquei o canal do Rodrigo aqui na aba de comunidades mas hoje eu quero apenas fazer alguns comentários sobre o vídeo dele intitulado Feminicídio: Liberdade Sexual e Monogamia.
~~ trecho vídeo do Platinho ~~
Claro, eu falo com o Rodrigo pelas redes sociais e poderia mandar essas minhas considerações diretamente pra ele mas eu achei interessante trazer aqui pra vocês opinarem também, porque essa discussão é muito interessante.
Eu não vou ficar colando trechos do vídeo dele e rebatendo ponto a ponto, apenas vou trazer considerações gerais aqui e se vocês quiserem vão lá assistir ao vídeo completo do Rodrigo, que é bem interessante e polêmico.
Bom, a primeira coisa que quero pontuar é que algumas pessoas já vieram me chamar atenção por eu ter divulgado o Rodrigo aqui no meu canal, e essas pessoas entendem que o Rodrigo tem um discurso misógino, e ressentimento com as mulheres.
E eu concordo que o Rodrigo passa essa impressão, mas a gente tem que ter em mente que isso é apenas uma questão sobre a forma como ele coloca as coisas, que a despeito da indignação dele ao falar de mulheres e de feminismo, ainda assim tem um conteúdo ali que tem fundamento não apenas sociológico, como também biológico em termos de seleção sexual.
Eu não vou ficar entrando aqui em nuances sobre a personalidade do Rodrigo porque, como acabei de mostrar, tô mais interessado no conteúdo que ele tá ofertando, se ele faz sentido, se é verdadeiro e, acima de tudo, se merece críticas.
Ainda assim, tenho de reconhecer que no vídeo dele sobre feminicídio, de fato ele parece justificar que a desigualdade entre homens seja de responsabilidade das mulheres — aliás, uma desigualdade que eu noto no meu dia a dia, diante do fato de que eu tive a oportunidade de ter uma educação decente enquanto todos os outros homens à minha volta, especialmente aqui em casa, mal têm o ensino fundamental completo...
Mas antes, pra tentar entender a crítica do Rodrigo quando ele diferencia esses "homens piores" dos "homens melhores", se entendi bem ele se refere a atributos que uma mulher, geralmente mais bem educada e mais exigente, gostaria que o homem tivesse pra que ela se sentisse confortável ao lado dele... atributos como inteligência, habilidade pra solucionar problemas, alguma beleza, enfim...
Em certo sentido, ser um "homem pior" ou um "homem melhor" seria algo definido subjetivamente, de acordo com as preferências das mulheres em específico, mas também algo sociologicamente constatável, de acordo com a demografia da região onde vivem esses homens. Se a região tá repleta de mulheres com ensino superior e repleta de homens sem o fundamental completo... Bem, parece que faz sentido imaginar que vai ter alguma assimetria de preferências entre homens e mulheres, de modo que os poucos homens que preencherem requisitos que, ao ver de um tipo dominante de mulheres, "são os melhores atributos"..., então esses poucos homens vão ter vantagens sexuais sobre a maioria dos outros homens, e inclusive vão ter incentivo pra pularem a cerca, cultivando relações extra-conjugais, tudo devido ao fácil acesso que esses "homens melhores" acabam tendo a mais mulheres que tão ali interessadas neles.
Até aí, tudo bem... Eu vejo razão no que o Rodrigo diz. O problema de tudo isso é que o Rodrigo passa a impressão de que essa desigualdade masculina é algo da responsabilidade das mulheres feministas que não estão sabendo reivindicar as coisas certas pruma verdadeira igualdade de gênero. Só que ao meu ver..., isso é falso.
Isso porque... Embora seria muito mais interessante que as feministas abraçassem as pautas sociológicas que o Rodrigo coloca à mesa, não faz qualquer sentido reclamar que as feministas DEVAM fazer isso, pedindo então por uma mudança estrutural a favor de uma maior igualdade entre os próprios homens, por mais que isso fosse favorecer as mulheres ao final do dia. Isso porque o feminismo é, acima de tudo, um movimento sobre mulheres, sobre respeito às mulheres, sobre empoderamento dessas mulheres e, no final do dia, aumento de liberdade sexual dessas mulheres.
Sim, tem muita gente que diz que o feminismo é acima de tudo sobre igualdade de gênero, mas eu acho que esse não é o caso. Isso porque igualdade de gênero FOCADA em bem-estar feminino não me parece igualdade de gênero, pois pressupõe que existe um nível de bem-estar no outro sexo, que é o sexo masculino, que é um nível que não foi atingido pelo sexo feminino. Mas como o próprio Rodrigo coloca..., dependendo das variáveis demográficas analisadas, o bem-estar entre os sexos ora favorece o feminino e ora favorece o masculino... Se por um lado as mulheres são maioria no ensino superior, por outro os homens recebem os maiores salários — e não porque individualmente eles recebem mais que mulheres, mas porque os serviços que geralmente esses homens fazem são serviços de risco maior, como por exemplo manobrar navios ou então entrar quilômetros abaixo da terra pra mineração.
Então, quando o Rodrigo nos faz entender que o feminismo erra ao não priorizar a igualdade de gênero, me parece que o Rodrigo tá exigindo mais do que o feminismo pode dar, que é um certo nível de bem-estar pras mulheres, as fortalecendo enquanto sexo ou gênero. Logo, se o Feminismo é sobre mulheres, a preocupação com os problemas próprios dos homens fica pouco relevante, quase sem sentido.
Assim sendo... Se eu fosse o Rodrigo, o que eu faria seria deixar claro que essas "guerras sexuais" são sim preocupantes e que qualquer movimento que preze por igualdade de gênero, ainda que não seja a pauta prioritária, deve ter em conta como lidar com os problemas intersexuais e intrassexuais.
Porém uma coisa precisa ficar clara: não é do ofício de apenas um gênero trabalhar pra solucionar essa assimetria de gêneros. Em outras palavras, não é ofício das feministas fazerem esse trabalho sem que elas exijam alguma contrapartida dos homens, uma colaboração...
Se o Rodrigo tá certo, então parece que a origem desse problema de desigualdade sexual é muito mais de uma verdadeira formação educacional ampla e de base na sociedade, permitindo aos gêneros um acesso maior e igualitário a certas aptidões que tornam especialmente os homens qualificados para o gosto feminino.
Se for isso mesmo, então apontar o dedo pras feministas não é exatamente o melhor que o Rodrigo pode fazer. O que ele pode fazer é pontuar a necessidade de políticas públicas eficientes que possam "tirar essa massa de homens da marginalidade", dando a eles não apenas formação braçal e atributos básicos pra sobreviverem, atributos talvez meramente técnicos e pouco intelectuais — que são coisas extremamente necessárias pra sociedade e precisamos ter sempre isso em mente.
Ainda assim, é preciso dar a esses homens a oportunidade de uma formação que amplie as suas qualidades no mercado do sexo, especialmente se a gente assume que, em certa medida, a falta de atributos sexualmente interessantes pode ter a ver com os preconceitos machistas que esses homens pobres, feios e de baixa escolaridade cultivam nas suas vidas, o que gera também uma espécie de ressentimento por não conseguirem dar conta dos seus apetites sexuais já que eles são tão desinteressantes pras mulheres à sua volta.
Aliás... Eu cheguei a mandar esse vídeo do Rodrigo prum amigo que é psicólogo evolutivo, o Felipe Novaes, a fim então de aproveitar o fato de que o Felipe estuda especificamente as relações sexuais no campo da psicologia, enquanto o Rodrigo estuda na sociologia. E o Felipe pontuou que:
O Rodrigo acerta ao falar que quando tem um excesso de homens disputando recursos — e recursos a gente entende aqui como riqueza ou mesmo mulheres, por mais objetificador que isso soe —, o que acaba acontecendo é que a violência tende a aumentar. A questão então é saber como especificamente esse aumento de violência acaba incidindo sobre o feminicídio.
O Felipe também disse que, SIM, A LIBERDADE SEXUAL DAS MULHERES É MUITO MELHOR PARA OS PRÓPRIOS HOMENS!
Isso porque uma mulher com liberdade sexual consegue transar com mais homens se ela quiser, e ao usar essa liberdade sexual sem restrições, isso acaba beneficiando os homens que, por padrão evolutivo, querem apenas fazer sexo sem compromisso o máximo que eles puderem, de modo que quando conseguem isso... eles ficam em paz, menos ressentidos e, portanto, menos violentos. Nesse sentido, TALVEZ seja o caso de que a liberdade sexual feminina possa ajudar na diminuição do feminicídio — mas isso claramente é só uma hipótese.
Agora... em grupos de etologia e sociobiologia, também, o pessoal costuma falar sobre reprodução sexuada nesse sentido de teoria dos jogos e de competição pra conseguir estabelecer vínculos entre os melhores pares disponíveis. Acho que já vi até o canal Minuto da Terra falando sobre esse assunto e mostrando que, de fato, há uma guerra intersexual e intra-sexual na própria humanidade, de modo que isso não é coisa exclusiva dos outros animais, e que essa guerra sexual humana se assemelha ao que a gente vê no reino animal como um todo.
Ou seja, embora a forma com que o Rodrigo coloca as coisas soe pra muita gente uma forma misógina, a gente não pode descartar que, à luz de certos campos científicos, o Platinho deva ter muitas razões sensatas no que ele tá expondo, por mais que a forma com que ele expõe faça parecer que ele tá ressentido porque não conseguiu uma namorada que desse uma nota 8 pra ele no Tinder.
No fim das contas a gente tem uma espécie de situação curiosa, caricata e paradoxal aqui: se o Rodrigo realmente é ressentido com as mulheres e as críticas que as feministas fazem a ele ganham sentido por causa disso..., ao mesmo tempo qualquer ressentimento que o Rodrigo venha a ter acaba comprovando, ainda que por evidência anedótica, que o Rodrigo tem razão no que ele tá dizendo, sobre como os homens acabam sendo preteridos quando não preenchem certos atributos esperados de uma classe dominante de mulheres numa determinada cultura. Ou seja, nesse sentido o Rodrigo é produto do próprio problema que ele aponta.
Sim, eu sei que isso tudo soa meio "mecânico" demais, uma visão "biologicista" sobre o sexo, quebrando todo o romantismo disneylândico possível que gostaríamos de ver no mundo, e há mesmo quem diga que cultivar essa visão sobre o sexo é "machista". O problema é que, provavelmente, não há forma melhor de ver a sociologia do sexo nas comunidades humanas do que pensando a economia do sexo, a psicologia do sexo e mesmo a biologia do sexo. São coisas interligadas, que expressam comportamentos em certo grau previsíveis nas comunidades humanas, e eu só não consigo negar muito do que foi dito pelo Rodrigo (embora eu discorde da forma como ele coloca as coisas, porque ele realmente soa misógino) porque eu me identifico em muito do que ele fala, e diria que eu sou "um homem de nota 6" (cansei de ir em festas e ser preterido porque tinham alguns homens mais bem vestidos e bonitos, embora as festas tivessem ainda mais mulheres) hahah. Na falta de evidências estatísticas, infelizmente as evidências anedóticas vão dar conta de convencer as pessoas, e acredito que, conforme o Platinho crescer, ele se tornará uma voz potente no meio masculinista — o masculinismo é real, embora não tão organizado como o feminismo... e o mais louco é que eles têm pautas que fazem sentido... Sugiro que assista ao documentário The Red Pill (trailer) pra entender não apenas porque homens como Jordan Peterson estão fazendo sucesso entre jovens que estão o identificando como um "pai que nunca tiveram" (muitos homens, como eu, são criados apenas por suas mães, pois o pai é ausente), como também pra entender por que tantas mulheres, inclusive, estão deixando de se dizer feministas (você pode baixar esse documentário por torrent).
Bom, não sei se tenho mais considerações... Esse assunto dá muito pano pra manga, e é muito delicado justamente porque mexe com crenças profundas de muitas pessoas, como é o feminismo (que não é apenas um movimento, mas uma identidade pra muitas mulheres, de modo que essas mulheres confundem a contestação do movimento como se fosse um ataque às suas identidades — e acredito que todo esse problema de assimetria na formação educacional entre homens e mulheres não apenas maximize o machismo como também garante a legitimidade do feminismo).
Resumindo: acredito que o Rodrigo traz muitas coisas realmente sensatas sobre esse assunto, não à toa ele estudou isso. De fato, a forma como ele coloca as coisas é um pouco complicada para pessoas que de fato têm algumas crenças bastante profundas sobre o assunto... De toda forma precisamos pensar nesse diálogo aí, nessas justificativas, nessas crenças... De certa forma científicas estabelecidas por algum conhecimento de base sociológico, e por outro lado por essa formação de identidade que faz com que muitas pessoas se digam feministas e tentem olhar o mundo a partir daí...
Então de fato a polêmica tá dada, a gente precisa pensar de forma um pouco objetiva sobre o que tá em jogo ali... Tentar separar o joio do trigo, separar a forma como a gente coloca as coisas né... Do conteúdo que tá sendo explicitado ali naquela narrativa.
Já conversei com o Rodrigo e com o Felipe pra ver se a gente faz um novo episódio no Lacuna Podcast sobre esse assunto. Também hoje e ontem aqui na PUCRS eu tive aula sobre sexologia, com a sexóloga e psiquiatra Carmita Abdo, falando sobre essas questões num sentido menos demográfico, menos sociológico, mas num sentido talvez bioquímico da sexualidade, das relações humanas num sentido bem micro, né... E que acho que seria bastante frutífero... Também seria muito interessante trazer uma feminista que estuda isso de forma bem teórica e objetiva, pra contrastar esses conhecimentos e deixar claro o que a gente pode esperar de forma sensata de um movimento que até preza por igualdade de gênero — que é o caso do feminismo —, mas que acima de tudo fala sobre mulheres, e especialmente para mulheres.
Mas bom, como eu sei que o Rodrigo tá assistindo isso aqui, então já peço pra ele descer o sarrafo caso eu tenha falado alguma coisa errada... Divulga no teu canal também, na tua comunidade lá..., e manda teus RodrigoMinions aqui pra me atacar, vou adorar, vou me deleitar com isso... Mas eu acho interessante essa interseção entre pessoas que são de áreas diferentes e que têm alguma coisa a falar sobre esses assuntos, e acredito que vai ser bastante proveitoso pro público tentar entender o que tá em jogo nessas causas de movimento social, movimento feminista, a questão moral por trás disso, as questões biológicas/evolutivas, as questões econômicas, como isso acaba incidindo sobre a sociedade... Que são coisas que acabam sendo esquecidas no meio da fúria ativista, e a gente precisa relembrar elas de formas cada vez mais populares... Até talvez pra apaziguar os ânimos, diminuir a intensidade dos extremismos, do fanatismo... Enfim, esse vídeo é basicamente uma tentativa de conversação sobre esse assunto, não apenas querendo justificar algumas coisas que o Rodrigo coloca ali, que são coisas plausíveis, mas também exigindo do Rodrigo talvez uma postura um pouquinho mais caridosa com as feministas que ele tá criticando... Mas enfim, a gente tem que pensar esses movimentos e essa interseção de conhecimentos de uma forma que seja satisfatória pra todos, porque se não tiver consenso acaba sendo bastante difícil.
Então valeu aí pessoal, quem tiver interesse em financiar esse canalzinho, o canal de filosofia que menos cresce no Brasil — só pra roubar o jargão lá do Mas Afinal —, então é só acessar padrim.com.br/alysson e financiar com sua melhor opção de investimento. Prometo trazer mais conteúdo filosófico, ainda que talvez não muito sério, com uma qualidade que não seja tão acadêmica, mas isso aqui é um canalzinho no YouTube, vamos combinar...
Então vou ficando por aqui, a gente se fala, acompanhem os próximos vídeos, se inscrevam no canal, não custa pedir... E dêem seus likes, ou dislikes — fiquem totalmente à vontade, aqui é liberdade de expressão! Ok, vou indo lá, então perdão pela vida... Abraço!
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