Brasileiro pagou 3% de spread no preço do Bitcoin em 2018

in pt •  7 years ago  (edited)

Análise da cotação do Bitcoin negociado em oito moedas mostrou que no ano de 2018 o brasileiro pagou em média 3% a mais, em dólares, no preço do Bitcoin se comparado ao negociado em dólares. No total, se um brasileiro tivesse comprado 1 BTC entre 02 de janeiro e 16 de fevereiro de 2018, teria pago R$ 43 mil a mais do que o preço negociado em dólares.

chart-1905225_1280.jpg

Posso dizer que comecei no mundo das criptomoedas em setembro de 2017, onde conheci o Bitcoin. A tecnologia blockchain me deixou fascinado e, como economista de formação, comecei a imaginar como seria uma economia com esse novo ativo virtual.

Mas uma coisa realmente me intrigava, por que o Bitcoin tem esse valor, que na época era próximo de R$ 14 mil (e eu não comprei)? Fui ler o máximo possível sobre o assunto, e até comprei um livro do Fernando Ulrich (não recomendo, pois, o cara tem uma visão muito utópica da economia) para entender a dinâmica desse mercado.

Neste artigo, quero compartilhar um estudo que realizei sobre as cotações do Bitcoin negocias em oito moedas diferentes, Dólar Australiano – AUD (Austrália), Real – BRL (Brasil), Dólar Canadense – CAD (Canadá), Yuan (China), Iene – JPY (Japão), Libra Esterlina – GBP (Grã-Bretanha), Euro – EUR (Zona do Euro), Won – KRW (Coreia do Sul) e Dólar – USD (Estados Unidos), no período entre 02/01/2018 a 16/02/2018, a fim de buscar relações na dinâmica de preços nessas moedas.

Para tal, busquei ajustar as cotações para uma mesma moeda, o dólar, para tornar a análise mais adequada. Assim, foram recolhidos os preços do Bitcoin negociados nas moedas citadas anteriormente e, em seguida, foram obtidas as cotações das moedas nacionais em relação ao dólar. E por fim, os preços do Bitcoin foram ajustados para dólar.

Avaliação Inicial


No período analisado, o BTC saiu de USD 14.754,10 (negociado em dólar) em 02/01, atingiu o máximo de USD 16.954,80 em 05/01 e teve uma queda de 59,1% até 05/02, onde alcançou a cotação mínima de USD 6.938,50. Contudo, até o final da série, 16/02, mostrou recuperação USD 3.240,20, atingindo a marca de USD 10.178,70.
!graf_01.jpg

O preço da criptomoeda negociada nas outras moedas apresentou trajetória semelhante, porém, em intensidades diferentes. Em Won Sul Coreano, o preço em dólares alcançou o maior valor em dólares, USD 23.413,73, sendo que nesse mercado, a volatilidade foi a mais elevada se comparada as outras moedas (USD 4.669,73).

quad_01.jpg

O mercado que se mostrou menos volátil (após o em dólares) foi o negociado em Libras Esterlinas, USD 2.628,15. Importante notar que transacionado em Iene (Japão), o BTC teve a mínima de USD 5.981,05, o que pode ser função do fuso horário nas negociações. No mercado brasileiro, a máxima foi USD 455,08 superior ao apresentado em dólares.

Volume de Negociação


Pode-se observar que há alta concentração das negociações de Bitcoin em USD, pois a soma de todas as outras moedas estudadas alcança apenas 15% do volume médio negociado nesse mercado. Isso deve ocorrer por que o dólar ainda é a moeda internacional e para a se alcançar maior mercado, a altcoin é negociada na moeda norte americana.

graf_02.jpg

O volume transacionado em Reais é 395 vezes menor que o negociado em USD e 49 vezes menor que o negociado em EUR, o que mostra que o Brasil é um player praticamente insignificante nesse mercado.

Spread


Comparando as cotações nos diferentes mercados, percebe-se que os investidores têm acesso a preços bem distintos do Bitcoin. Para demonstrar o caso, avaliou-se o spread entre as cotações, isto é, a diferença, em dólares, do preço negociado na moeda local e em USD.

graf_03.jpg

No período, o BTC transacionado em Won foi consideravelmente maior que o negociado em USD. Mesmo sendo realizados ajustes na taxa de WON/USD, o spread ainda foi significativo, principalmente no mês de janeiro de 2018, o que explica ter apresentado maior cotação do Bitcoin entre as moedas analisadas.

Cotada em Euros, a altcoin tem o menor spread que o negociado em dólares e isto pode ser explicado pelo volume de negociações e por ser uma moeda forte no mundo. O mercado em reais se figura entre o terceiro com menor spread.

graf_04.jpg

Avaliando de outra forma, se fosse comprado um BTC por dia durante o período analisado (e excluindo o Won), o brasileiro teria gasto USD 13.367,76 a mais do que se tivesse convertido seus recursos em dólares e comprado no exterior. Em outra perspectiva, teria gasto em média USD 393,17 a mais, todos os dias, para comprar BTC. O segundo maior spread está no mercado de dólar canadense, onde se gastaria USD 16.315,57 a mais na compra de um Bitcoin por dia.

No Brasil


No contexto do Real, é possível observar que dos 34 dias analisados, em apenas um deles a cotação BRL convertida em USD foi menor que a cotação nas Exchanges no exterior. Ainda, a cotação em BRL foi a maior entre em 17 dias do período analisado, quando excluída as negociações em WON.

graf_05.jpg

Nós brasileiros já estamos acostumados com isso, já que pagamos o maior preço em celulares, videogames, carros etc. Contudo, é ruim notar que distorções econômicas provocadas por impostos, desigualdade social, entre outras diversas anomalias da economia brasileira, também influencie os preços do Bitcoin. Mas ainda há muito o que se pesquisar sobre o assunto.

Conclusão


Esse artigo buscou explorar a diferença nos preços do BTC quando negociados em moedas que não o dólar. Pode-se perceber que existem discrepâncias consideráveis nos preços, e que nós brasileiros não pagamos barato.

Para o mesmo ativo, a volatilidade tem intensidade bem diferente nos mercados locais, destacado pelas cotações máximas e mínimas e os desvios padrão do quadro anterior. Uma das explicações dessa divergência pode ser a diferença entre a demanda por Bitcoin nas diferentes economias mundiais.

Outro ponto a se destacar é a enorme possibilidade de arbitragem entre as Exchanges no mundo todo, dada a discrepância de preços.

Contudo, há muito ainda a se pesquisar sobre o assunto, mas espero ter contribuído um pouco para o objetivo de se ampliar os conhecimentos em criptomoedas.


Observações:

  • Todos os quadros foram elaborados com dados extraídos do site https://br.investing.com
  • Para a análise, foram retirados os sábados e domingos.
  • As moedas foram selecionadas com base na disponibilidade de dados no site https://br.investing.com
  • Foram desconsiderados os custos e despesas de transação.
  • Como o mercado de Bitcoin não para, 24h por dia, 7 dias por semana, os preços de fechamento coletados não se referem ao que foi negociado no mesmo momento em todo mundo.

Fonte da imagem: https://pixabay.com/pt/gráfico-negociação-cursos-forex-1905225/


Publicado originalmente no meu blog:

https://dinheironaoeproblema.wordpress.com/2018/02/28/brasileiro-pagou-3-de-spread-no-preco-do-bitcoin-em-2018/


@dfsecon é economista, trabalha no mercado financeiro há mais de 6 anos, é um entusiasta das criptomoedas e busca a disseminação dos conceitos do mercado para todos, sem “economês”.

Authors get paid when people like you upvote their post.
If you enjoyed what you read here, create your account today and start earning FREE STEEM!
Sort Order:  

I like this. Followed you

Congratulations @dfsecon! You received a personal award!

1 Year on Steemit

Click here to view your Board

Do not miss the last post from @steemitboard:

Christmas Challenge - The party continues

Support SteemitBoard's project! Vote for its witness and get one more award!

Congratulations @dfsecon! You received a personal award!

Happy Birthday! - You are on the Steem blockchain for 2 years!

You can view your badges on your Steem Board and compare to others on the Steem Ranking

Vote for @Steemitboard as a witness to get one more award and increased upvotes!