Meteorito e meteoro, tem diferença?

in pt •  6 years ago  (edited)

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Meteoro da chuva Perseidas registrado por M. Hankey em 12/08/2012 (Fonte)



Embora muita gente use os dois termos (meteorito e meteoro) como sinônimos, de fato não são.

A rigor, devemos distinguir meteoroide de meteoro e meteorito. Confira a seguir.

Meteoroide

Fragmento sólido de rocha ou de metal que se desloca pelo espaço interplanetário e possui tamanho que varia entre 1 micron¹ e uma dezena de metros. Se entrar na atmosfera da Terra, provavelmente dará origem a um meteoro (veja definição abaixo). A maioria dos meteoroides são destruídos na atmosfera² antes de atingirem a superfície da Terra.

Meteoro

Rasto luminoso, rápido e brilhante, facilmente observável no céu noturno, especialmente longe das luzes da cidade. É causado por um meteoroide que entra na atmosfera da Terra e queima completamente por conta do atrito com as moléculas de ar. É conhecido popularmente como Estrela Cadente (em inglês, Shooting Star), embora não tenham nenhuma relação direta com estrelas de fato. As famosas Chuvas de Meteoros³ acontecem sempre em determinadas épocas de cada ano em que ocorre uma maior incidência de meteoros.

Meteorito

Rochas de origem extra-terrestre encontrada na superfície da Terra e que constitui uma parte residual de um meteoroide. Em outras palavras, meteorito é um fragmento de rocha proveniente do espaço que sobreviveu à sua queda na Terra. é comum receber o nome do local onde caiu. O maior meteorito encontrado no Brasil é o Bendegó (saiba mais logo abaixo).

Entendeu a diferença?

Resumindo: o corpo sólido que entra na atmosfera é um meteoroide que, ao queimar, produz o fenômeno atmosférico luminoso conhecido como meteoro. Se algum resíduo sólido sobreviver à entrada na atmosfera e acabar chegando ao solo, é um meteorito.

Bendegó e sua segunda grande prova de fogo

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Bendegó, na entrada do Museu Nacional consumido pelas chamas (Fonte: UOL)

Logo que soube do lamentável incêndio que acontecia no Museu Nacional do Rio de Janeiro no domingo (2/setembro) à noite, lembrei-me que é lá, bem na entrada do prédio, que estava exposto o Bendegó com 5360 kg de massa. No mesmo museu, no setor de meteorítica, também está o meteorito de Santa Luzia com 1980 kg além de outros fragmentos espaciais menores.

Segundo a astrônoma Maria Elizabeth Zucolotto, estudiosa dos meteoritos, tanto o Bendegó como o Santa Luzia resistiram ao gigantesco incêndio no museu. A explicação está no fato de que ambos têm muita massa e, portanto, precisariam de muito mais energia para derreter. No entanto, outros cerca de 400 meteoritos menores e com menor massa podem ter sofrido danos. No atual cenário, infelizmente, nada se pode afirmar. Somente quando os destroços da parte do prédio que desabou em meio às cinzas puderem ser triados com segurança teremos uma noção mais exata dos danos.

Meteoritos são verdadeiros heróis que resistiram bravamente à dramática entrada na atmosfera terrestre e já sofreram bastante com o superaquecimento. Tanto o Bendegó quanto o Santa Luzia passaram por sua segunda grande prova de fogo e, para nossa sorte — se é que se pode encontrar sorte no lamentável episódio —, resistiram.

Tal fato ameniza a avassaladora tristeza pela perda de um patrimônio histórico e cultural de valor inestimável. Mas só ameniza. Foi uma tragédia que, infelizmente, tem tudo a ver com a atual situação política crítica com reflexos contundentes na economia do nosso país.

A história do Bendegó

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Vista frontal do meteorito de Bendegó como era exposto na entrada do Museu Nacional (Fonte: Wikipedia)

O Bendegó foi encontrado em 1784 por Domingos da Motta Botelho, um garoto que pastoreava o gado numa região próxima à cidade de Monte Santo, no sertão da Bahia. Quando encontrado, ocupava a posição de segundo maior meteorito do mundo. Atualmente está classificado como o décimo sexto meteorito em tamanho no mundo.

Segundo cientistas, como o Bendegó apresentava uma extensa camada de oxidação em sua parte inferior, estima-se que a sua queda na Terra aconteceu milhares de anos atrás.

Numa primeira tentativa de removê-lo, devido à sua massa de mais de 5 toneladas e à falta de recursos tecnológicos, o Bendegó acabou rolando montanha abaixo e foi cair no leito seco do riacho Bendegó onde ficou por mais de um século e de quem herdou o nome.

Em 1886, ao saber da existência do grande meteorito, o imperador Pedro II tratou de dar início às operações de resgate, o que só aconteceu em 1888. Bendegó, numa complexa operação para a época, foi levado por uma junta de bois até às margens da Estrada de Ferro de São Francisco de onde, de trem, seguiu para Salvador em 22 de maio de 1888. Depois de cinco dias em exposição na capital baiana, foi levado de navio para o Rio de Janeiro onde, em 15 de junho de 1888, foi recebido pela princesa Isabel.

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Vista lateral do meteorito de Bendegó como era exposto na entrada do Museu Nacional (Fonte: Wikipedia)




Abraço do prof. Dulcidio. E Física na veia! E mais vergonha na cara para os nosso políticos! E muito, mas muito mais juízo para os eleitores brasileiros logo mais em 7 de outubro!






¹ 1 micron = 1.10-6 m (a milionésima parte do metro).

² Um fragmento de matéria sólida, ao entrar na atmosfera em alta velocidade, pelo atrito sofrido ao encontrar as moléculas de ar, acaba dissipando boa parte da energia cinética na forma de calor. Logo, superaquece e, em geral, é vaporizado muito antes de chegar ao solo.

³ Chuvas de Meteoros acontecem quando a Terra, em sua órbita do redor do Sol, passa por determinadas regiões onde existem concentrações de fragmentos de matéria vagando soltos no espaço. Em geral são fragmentos de cometas. Nestas ocasiões especiais podem ser avistados a olho nu entre uma dezena e uma centena de meteoros por hora.

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Mas bah, aprendo demais com o teu blog, professor! Já havia lido sobre a diferença, mas ainda não havia memorizado. Da forma didática que lhe é característica, fica muito mais fácil. Também gostei muito de conhecer um pouco mais sobre o Bendegó e a sua história, obrigado por compartilhar ;)

Professor sempre feliz quando o aluno aprende e curte!
Eu que agradeço-o pela leitura e comentário @casagrande!
E dou mais um toque: o termo "meteorológico" refere-se a tudo o que está ligado a atmosfera. Logo, meteoro é um fenômeno tipicamente atmosférico, ou seja, que ocorre na atmosfera, longe do chão. Belê?
Abraço. E Física na veia!

Poxa Professor, para mim era questão de tamanho somente, olha ai como as coisas mudam com o aprendizado.
E como disse, dos males o menor, sobreviveram a esse descaso dos nossos governantes que não querem nem saber do que aconteceu, alias, será que algum deles sabia metade dessa história que contou aqui? ¬¬

Obrigado pelo ensinamento.

Agradeço-o pela leitura e comentário @alexandrecseco!
Sempre me perguntam "um meteoro pode cair na Terra?". E a resposta é "não!". O que cai é o meteorito. :)
Mas existem os NEO - Near Earth Objects, rochas muito maiores, asteroides, que rondam a Terra e também podem cair (ou colidir com o nosso planeta). Por isso existe atualmente um verdadeiro patrulhamento do céu em busca dos NEOs. Abordei o tema neste post ressaltando o excelente trabalho dos astrônomos brasileiros do SONEAR que fica em MG e monitora o céu visível ao sul do equador.
Abraço. E Física na veia!


Em tempo:
No$$o$ governante$ $ó $abem de no$ roubar!
Sei que é perigoso generalizar. Mas cada vez mais me assusto com o tamanho da quadrilha!!! :-(

Ahhh pode deixar que vou dar aquela conferida monstra nesse artigo.

Muito Obrigado Professor!

Boa! :)

  ·  6 years ago Reveal Comment