#FILMOTECA - O Quinto Selo (1976)

No fim da II Guerra, na Hungria, amigos bebem num bar quando surge um estranho. Durante a conversa, uma única pergunta muda a vida de todos para sempre.

Direção: Zoltán Fábri | Gênero: Drama
Ano: 1976 | Nota no IMDB: 8,8/10

ESSE TEXTO CONTÉM ALGUMAS INFORMAÇÕES QUE PODEM SER INTERPRETADAS COMO SPOILERS (apesar de eu ter evitado colocar as partes vitais da trama)

Esse é um daqueles filmes desconhecidos e que podem ser muito bem apreciados por públicos menos numerosos. É um filme parado que gira mais em torno do diálogo que de grandes atividades ou mudanças de ambiente. Então, para assisti-lo, não se deve ter problema com isso. E, nessa forma um pouco lenta, vamos entrando no mundo daqueles personagens, dentro de suas mentes e, pela dinâmica das conversas, podemos entender suas motivações e naturezas.

O filme se passa na Hungria, em 1944, justamente ao fim da II Guerra Mundial, quando o país foi comandado por um grupo fascista de inspiração nacional-socialista. O filme retrata um lugar que vive em temor de que alguma bomba exploda, de que o governo faça algo de ruim, ou ponderando o que fariam os soviéticos caso invadissem o lugar. Em meio a esse caos e clima de medo, bebe em um bar numa noite qualquer um grupo de amigos composto por um relojoeiro, um vendedor de livros, um carpinteiro e o dono do bar. De repente, uma pessoa desconhecida entra no bar e se junta ao grupo.

Os membros da conversa vão, aos poucos, tratando dos seus assuntos, contando uma ou outra piada ou falando de coisas sérias. Às vezes, a conversa é interrompida por sons de guerra que vêm de fora ou algum soldado procurando alguma coisa. Conhece-se um pouco dos personagens através dessas conversas, do seu modo de agir e de falar. Porém, as coisas mudam realmente de figura quando o relojoeiro pergunta a eles:

Apenas imagine que você está para morrer, mas irá reencarnar em uma de duas pessoas; um escravo ou o mestre rico. O escravo sofre sob o mestre. Ele tem sua língua e um olho removidos e sua mulher e criança são mortas. Ele segue vivendo sabendo que ele é uma boa pessoa, pois nunca cometeu tais atos horrorosos e sádicos ou qualquer outro como seu mestre havia feito. O mestre rico não tem náusea moral alguma sobre isso. Ele não pensa que o que fez foi errado; o escravo precisa ser punido. Você tem a escolha, se quer ser um escravo justo ou ser um mestre rico e corrupto.

Essa hipótese mexe com os aspectos mais profundos de cada um. A partir desse momento é que o filme se abre de verdade, apresentando sua força maior, que é a reflexão sobre o que somos e o que queremos de verdade. Até onde mantemos a aparência de pessoas retas sem que esta tenha, de fato, uma identidade com os nossos profundos desejos? Que pessoas realmente prefeririam optar por viver como uma pessoa boa, mas atormentada pelos mais diferentes problemas ao invés de optar ser uma pessoa rica, porém moralmente reprovável? Se essa decisão fosse tomada em um instante tempestuoso de nossa vida, será que nossa decisão estaria de acordo com o que pensamos racionalmente e com calma longe do momento derradeiro? E mais, o que temos em comum com nosso carrasco?

Com um grupo de personagens, O Quinto Selo consegue explorar bastante variedade em termos de personalidade, de forma que é possível se identificar mais com um ou com outro. Também acaba inevitável fazer a mesma pergunta a si mesmo, sendo convidado pelo filme à reflexão sobre o espinhoso tema. É a partir da pergunta que é feita que o filme segue outro ritmo e ganha novo ar; ele se torna mais rápido, entra nos trilhos e segue a história, sendo vários os acontecimentos que têm lugar após esse momento. O final do filme certamente é o mais surpreendente, um clímax nos chamando de novo à reflexão.

A obra ainda toca o tema da redenção e conteúdos religiosos de maneira sutil. Como filme, dá para dizer que ele faz um bom jogo de fotografia compondo o ambiente das conversas. O movimento de câmera é interessante, fazendo com que o telespectador, por vezes, sinta-se mais um personagem conversando à mesa do escuro bar onde os amigos se encontram. É um filme que pode não descer bem aos que não estão acostumados com o cinema que percorre trilhas distantes de Hollywood ou que colocam mais em pauta questões existenciais que demandam certo esforço e reflexão. Para os que apreciam essas obras mais lentas e pensativas, o filme serve como boa sugestão, principalmente dentro dos debates de natureza ética.

O Quinto Selo é baseado no livro de mesmo nome do autor húngaro Ferenc Sánta. Ele ganhou o Prêmio de Ouro no 10° Festival Internacional de Filmes em Moscou e entrou no 27° Festival de Filmes Internacional de Berlin. O filme foi selecionado como a entrada húngara para o Melhor Filme de Língua Estrangeira nos 49° Oscar, mas não foi aceito como nomeado.

Referências

Fonte 1
Fonte 2
Imagem 1 e 3
Imagem 2

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