3ª - A Crise dos Três Anos
Início da infância até à idade pré-escolar
(equiparada ao Apontar a Dois e Referenciação de Significados, por Maria Rita Leal na sua teoria da Afetologia Genética, a discutir brevemente)
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Esta crise é enfatizada pelo negativismo e oposição que aparecem no comportamento da criança em relação ao outro.
O que surge de novo é a construção da autonomia. A criança não obedece ao que lhe foi pedido e procura afirmar a sua autonomia. O negativismo faz com que a criança se comporte contra o seu próprio desejo de afeto, pois o negar é contra o Outro e não contra o conteúdo do pedido.
As conquistas deste período são determinantes na construção do sentido de si próprio, da autonomia, do narcisismo, alimentados pelo gosto e poder no uso das suas próprias competências.
Vygotsky enfatiza a teimosia, a insistência e a obstinação, e refere que a criança exige porque simplesmente quer demonstrar a sua teimosia em ter o que diz querer.
O desafio e o desrespeito surgem em função da construção da autonomia às normas educativas estabelecidas pelo meio social e pelos outros da relação, e gera descontentamento expresso por gestos e palavras depreciativas.
A criança torna-se rebelde e descontente, protesta tudo, apresenta-se insubordinável, pois aspira ser independente, querendo fazer tudo sozinha e protestando de maneira agressiva.
Neste sentido, acredita que pode usar e abusar do outro, pois acredita que poderá perdê-lo por já se ter apercebido (embora não o aceite) que o Outro pode ter vontades e necessidades próprias.
A criança procura a emancipação e está imersa num conjunto de conflitos internos e externos que podem gerar reações como enurese, terrores noturnos, sono agitado, gaguez, dificuldades de expressão,…
(equiparado à Psicopatia, descrita por Joaquim Quintino-Aires, na sua teoria da Psicopatologia Sócio-Histórica)
Leal refere que as confusões vivenciadas neste período denotam dificuldades em estabelecer regras e limites externos claros na relação com a criança e propiciam perturbações do tipo antissocial/opositor: dificuldades em respeitar as regras, falta de empatia com os outros, dificuldade extrema em manter vínculos significativos com os outros nas suas relações sociais.
Estas disfunções persistem se a criança não compreender os desejos e vontades dos outros.
Para superar esta crise, a criança precisa que o Outro estabeleça limites nas suas ações para compreender e aceitar que os outros também têm vontades e interesses diferentes dos seus e perceber que as suas iniciativas nem sempre são compatíveis com a necessidade dos outros e com as regras sociais.
Quando as relações de limites não acontecem ou são instáveis, a criança torna-se egocêntrica nas relações com os outros, com os objetos e com os eventos. As crianças (e os adultos) que permanecem nesta crise não compreendem os seus limites e, quando estes limites são impostos, sentem-se injustiçadas.
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As disfunções do tipo antissocial estão presentes no Manual de Doenças Mentais (DSM-IV-TR, 2002) como Perturbações da Personalidade e são descritas na Psicologia Sócio-Histórica como dificuldades nas relações interpessoais em função do excessivo autocentramento e narcisismo que dificulta o convívio com os outros na relação social.
As relações sociais são instáveis e constantemente atacadas pela criança em função da exigência da submissão dos outros às suas vontades e interesses.
As regras e exigências sociais são alteradas para atender às suas próprias expectativas, dificultando a sua adaptação ao meio social.
A superação destas disfunções acontece na Psicoterapia Sócio-Histórica à medida que o terapeuta enfatize através da palavra os limites sociais, emocionais e cognitivos que a criança ou o adulto têm e aos quais se devem submeter.
O Psicoterapeuta pontua os significados sociais envolvidos nas relações, para que a criança constitua na sua fala, no seu pensamento e nas suas ações, os seus limites internos e possa verificar os seus próprios comportamentos, desenvolvendo as funções dos sistemas do terceiro bloco funcional – área frontal, constituindo a base para as funções de autorregulação futuras.
Referência: Marangoni, S. & Ramiro, V. C. (2012). Fundamentos da Neuropsicologia Clínica Sócio-Histórica. Ed: IPAF Lev Vygotsky Brazil (São Paulo).
Neuropsicologia - Como melhorar a nossa atividade mental Parte I | Parte II
A Importância do Brincar Parte I | Parte II
A Psicologia Clínica e o Trabalho com Crianças Parte I | Parte II
O Papel da Fala – Leitura Bibliográfica Parte I | Parte II | Parte III | Parte IV
Fundamentos da Neuropsicologia – Leitura Bibliográfica Parte I | Parte II | As Crises Psicológicas - Parte I – Introdução | Parte II – A Crise Pós-Natal | Parte III – A Crise do Primeiro Ano
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Muito bom artigo, parabéns!
Li todo e consigo perceber como se formam essas disfunções e o papel do psicoterapeuta quando isso existe (sendo essencial).
No entanto acho muito importante o papel dos pais e educadores na educação da criança, para evitar que essas disfunções aconteçam. Estimular a criança a entender até onde pode ir e como pode ir. O respeito pelo outro e pelos desejos do outro, aprender a partilhar e adaptar.
Toda esta estimulação sociocultural no meio doméstico e escolar, pode proporcionar uma vida mais saudável e feliz, evitando que essas confusões mentais aconteçam de forma tão intensa, ou ajudando a ultrapassar.
O trabalho do psicoterapeuta deve ser em conjunto com os pais e educadores.
Mais uma vez, parabéns pelo artigo, estou sempre a aprender! :)
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Obrigada pelo comentário @mafaldation! Sim, o papel dos pais é e sempre será muito importante! O Outro a que me refiro no artigo é o primeiro cuidador/os primeiros cuidadores, temos que ver sempre o desenvolvimento assim. É na relação com esse primeiro Outro que a criança se vai estruturando. Depois, ao longo do seu desenvolvimento, vão entrando Outros importantes como o professor ou os pares, mas esses não substituem o que devia ter sido construído com os primeiros cuidadores. Podem atenuar sinais mas se isto não acontecer é aqui que entra o papel do psicólogo. Muitas vezes, senão sempre, são os professores ou os pares que fazem ver aos pais que algo não está bem... O psicólogo irá então reproduzir estas primeiras relações.
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Concordo com essa linha de raciocínio que falou. Infelizmente os pais, ou não têm capacidades para ver o que não está bem, ou não têm tempo e é aí que entram os educadores/professores e psicólogos que fazem um trabalho fantástico, mesmo em terapia familiar.
Fiz resteem do seu post :)
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Obrigada! :)
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Muito bom! Minha pequena está quase chegando aos três e já posso perceber alguns desses sinais da busca pela autonomia. Interessante saber a respeito de que está agora formando a percepção de que "o outro também é independente/autônomo".
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Sim :) depois de se ler a teoria, é interessante comparar com a realidade :) e é incrível como efetivamente passam todos por estas fases! É importante o pai ser MUITO paciente mas também nunca esquecer de mostrar os limites necessários! ;) É assim que ela vai perceber que é importante respeitar os limites de cada um de nós porque cada um tem as suas próprias vontades e necessidades...
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Parabéns, seu post foi selecionado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!
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Muito obrigada @brazilians!
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