Sempre quis escrever sobre meu bisavô, mas nunca tive uma oportunidade. Ontem ele faria aniversário, o que me dá uma deixa para falar um pouco sobre ele.
Meus pais me tiveram quando eram muito jovens. Minha mãe tinha 15 anos quando engravidou...de gêmeos. Portanto, tive o prazer de conhecer até minha tataravó. Tenho três bisavós vivos e todos os meus avós não têm mais de 60 anos. Meu bisavô, Jacob Ovídio de Pauli, morreu em 2015, com 83 anos de idade. Grande homem trabalhador, que honrou o nome da família e, ao fim da vida, foi um católico fervoroso. Lembro-me a canção que ouvíamos cantar na novena das mãos ensaguentadas de Jesus.
O vô Jacob, como sempre chamamos, tinha aquela pinta de homem antigo: honrado, viril, trabalhador. Nunca se envolveu em política, sequer participou fervorosamente da campanha de sua esposa pra vereadora (é claro que a ajudou na campanha, mais por obrigação que por vontade. Aliás, minha bisavó foi eleita a primeira mulher vereadora da minha cidade natal, tendo sido prefeita por seis meses). A família de Pauli, cujo patriarca era José de Pauli (meu tataravô), não era uma família de políticos, mas tinha muito poder na cidade. Era muito respeitada. Empregava uma penca de gente na serraria, que fechou depois da morte do "vô" José, para evitar briga entre irmãos.
Hoje encaro como Downton Abbey: uma família cujo poder está em decadência. Continua sendo respeitada, mas não manda em nada! E isso é bom, não tenho a menor intenção de ser descendente de coronéis.
Tive acesso a um livro de poesia de minha bisavó, onde seus amigos escreviam pequenas mensagens e poemas, pra ficar de lembrança pra toda a vida. Lá tinha um poema que meu bisavô escreveu (copiou, na verdade), antes deles começarem a namorar. Era Ferreira Gullar, grande poeta brasileiro:
"Faze como eu: esbanja a vida com sofreguidão.
Mas vive a vida inteira em seus momentos todos, de maneira que gozes tudo o que ela tem de bom!
Ama, canta, sorri, desde a primeira manhã da vida à última, num tom festivo!
Que a existência é como um som, que se esvai no silêncio…. é passageira!
Se a tristeza de alguém surgir em meio a essa alegria que em teus olhos arde, lembra que um dia hás de também ser triste.
E ri. E esquece o sofrimento alheio, para não vires chorar mais tarde, e maldizer as vezes que não riste!"
Na dedicatória, datada em 04 de junho de 1952, as palavras: “A melhor ocasião para provar a sinceridade de um amigo, é o momento em que escrevi esta simples poesia neste teu álbum, que é uma recordação de teus amigos. Ao terminar apresento-te as minhas congratulações e faço votos para que sejas muito feliz."
Eles foram felizes juntos. Até o fim.
Não tive tempo, antes de sua morte, de falar mal de comunista junto com ele (o vô Jacob sempre foi anti-comunista e desprezava o PT). Ele morreu em janeiro de 2015 e eu comecei a xingar comunista na metade de 2015. Fico imaginando a qualidade de nossas conversas.
As lembranças que ficaram são as melhores. Espero poder reencontrá-lo. E vô, estamos cuidando da vó Olinda...e xingando comunistas!!
Lucian de Pauli Jaros
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