Porque o grande público ainda não faz uso das criptomoedas?

in pt •  6 years ago 

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Estamos em 2018 e já se passaram dez anos desde o surgimento do Bitcoin e sua tecnologia revolucionária, o Blockchain. Nesse período muitas novidades foram desenvolvidas, o mercado se consolidou e hoje vale alguns bilhões de dólares, na verdade pouco mais de $200 bilhões em agosto de 2018.
Apesar de tudo isso, é notório que o grande público, tanto no Brasil quando no exterior, não faz uso das criptomoedas da forma idealizada por seus desenvolvedores (um meio de pagamento peer-to-peer). As pessoas que já aderiram ao mercado crypto estão muito mais focadas na realização de investimentos por meio de corretoras (especulação) do que propriamente na utilização do Bitcoin como um meio de pagamento.
Mas porque que razões isso ocorre? Porque o grande público ainda não adotou as criptomoedas como meio de pagamento? Veja cinco hipóteses para isso.

1 - Ausência de percepção quanto à utilidade
O Bitcoin e muitas das altcoins representam a evolução do dinheiro, pois permitem que transações sejam realizadas de forma rápida, sem burocracia, sem uma entidade central de controle e com taxas extremamente baixas. Mas, se as vantagens são tantas, porque o grande público ainda declina em usar o Bitcoin?
Uma das principais hipóteses é a própria percepção de utilidade, pois apesar de o Bitcoin apresentar todas as vantagens listadas acima e mais algumas outras, a realidade é que o público está relativamente satisfeito com a moeda imposta pelos governos e gerenciada pelos bancos centrais (moeda de curso forçado). As pessoas podem comprar, transferir, receber depósitos e fazer aplicações financeiras de forma relativamente fácil (do ponto de vista técnico), apesar das altas taxas cobradas por alguns serviços e da burocracia existente para acessar alguns serviços. Pode-se dizer que as pessoas estão adaptadas a essa realidade. A única coisa que as faria mudar bruscamente de opinião seria uma imposição governamental (o que não vai acontecer em relação ao Bitcoin, dada sua natureza descentralizada) ou alguma vantagem facilmente perceptível. Ninguém quer arcar com os custos da mudança, mesmo que estes custos não sejam financeiros, mas apenas comportamentais. Já que não há apoio governamental para a mudança, ela precisará ocorrer gradativamente, começando pela conquista do público mais jovem. Para os demais, será necessário que a tecnologia ofereça interfaces mais fáceis de usar e algum mecanismo mais sofisticado para evitar a perda de fundos por uma falha operacional do cliente (as pessoas precisam de segurança para transferir dinheiro, pois do contrário elas se recusam a fazê-lo por medo de sofrerem perdas).

2 – Receios quanto à segurança
Não são poucas as notícias de ataques hacker às grandes corretoras, causando prejuízos que as pessoas não sabem se recaem sobre a própria empresa que sofreu o ataque ou sobre os detentores dos ativos (normalmente não há divulgação com detalhes sobre essas ocorrências e nem como elas são tratadas). Notícias como a carteira de Johm Macfee que foi hacheada (ao menos por duas vezes) pouco depois de ter sido lançada também tem grande impacto (devido à própria exposição desse personagem na mídia). Quem entende um pouco mais da parte técnica sabe diferenciar as coisas, mas para o grande público é todas essas notícias tem forte impacto na confiança. As pessoas pensam: “e seu eu puser o meu dinheiro em Bitcoins e um hacker roubar tudo?”. Analisando mais atentamente, este realmente é um pensamento aterrador. E não adianta um especialista ou um grande nome do mercado crypto dizer às pessoas que elas podem confiar no sistema. O que vale neste caso é a percepção que o público tem a respeito do assunto.
As pessoas tendem a delegar suas responsabilidades a terceiros de modo a terem que lidar com menos fatores de incerteza em suas vidas. O dinheiro é guardado no banco porque o banco é o responsável pelo dinheiro. Se algo acontecer, o cliente sabe a quem recorrer (o próprio banco, BACEN ou PROCON), independentemente de haver ou não uma solução. No caso do mercado crypto, o cliente tem basicamente duas opções: ou ele mesmo guarda suas moedas em uma das diversas modalidades de carteira disponíveis ou delega a guarda a uma Exchange. No caso de guardar ele mesmo, há a questão técnica (poucos compreendem algo sobre essa nova tecnologia) e a questão da segurança (“se eu perder a carteira ou a chave privada, perderei todo o meu dinheiro”, dizem eles). Quanto às exchanges, o medo é de perder os recursos para algum hacker ou ser vítima de algum golpe e não ter a quem recorrer (muitas dessas exchanges operam apenas no exterior, apesar de o Brasil já contar com diversas opções).
Mudar esse pensamento é uma questão de tempo (talvez muito tempo) e de fazer as coisas da forma certa. Os desenvolvedores precisam dotar seus projetos das mais recentes e robustas ferramentas de segurança. Além disso, são necessários mais testes antes de liberar as novas ferramentas para uso pelo público. Não são poucos os projetos que apresentam graves falhas que são descobertas logo após o seu lançamento (como a carteira do John Mcafee). Isso ocorre, em geral, pela pressa em lançar a ferramenta, antes que ela tenha sido exaustivamente testada.
Enquanto a questão da confiança não for totalmente resolvida, dificilmente as criptomoedas se tornaram um meio de pagamento comumente usado.

3 – Dificuldade de uso ou falta de praticidade
Como já explanado brevemente no tópico anterior, um dos motivos da falta de adoção das criptomoedas é a dificuldade em fazer uso das carteiras disponíveis. Muitas delas foram desenvolvidas por programadores altamente capacitados, alguns deles dotados de inteligência fora do comum, mas justamente por terem coeficientes de inteligência tão acima da média, as soluções que eles propõe para as interfaces das carteiras podem, muitas vezes, ser excessivamente complexas para um usuário que deseja apenas pagar pelo pão comprado na padaria.
Os clientes precisam ter acesso a carteiras para smartphone e também a carteiras para desktop que sejam tão simples de serem usadas como é a maquininha de cartão de crédito ou o internet banking. Sem essa facilidade, as pessoas simplesmente evitaram a mudança e permanecerão usando os recursos de pagamento tradicionais. O custo da mudança (tempo e esforço empreendidos para aprender algo novo) tem grande impacto na decisão das pessoas. Nem todos gostam de aprender coisas novas, a maioria prefere tocar sua rotina diária sem grandes surpresas, aceitando uma ou outra novidade que não exija muito uso dos atributos físicos ou intelectuais (a sociedade moderna é cada vez mais sedentária).
Algumas startups atuantes no mercado crypto, cientes sobre essa realidade, tem aplicado tempo e recursos para desenvolver interfaces mais simplificadas, que permitam ao público usar as criptomoedas de forma mais simplificada. Essas novas plataformas permitem pagar, transferir e receber fundos de forma bastante transparente para o cliente, sem a necessidade de aprender conceitos complexos e sem ter que lidar com aspectos mais técnicos. Esse talvez seja o caso do MyOS, entre diversos outros projetos. Ainda é cedo para dizer que esta é a solução ideal, será necessário acompanhar o desenrolar dos mercados e o lançamentos de novas soluções para que seja possível saber se as escolhas que estão sendo feitas são as mais promissoras.

4 – Utilização divergente daquela que foi inicialmente proposta
O Bitcoin foi concebido para ser um meio de pagamento peer-to-peer, ou seja, diretamente de uma pessoa para outra, sem intermediários. Embora muitas pessoas façam uso dessa e de outras moedas digitais exatamente dessa forma, a maioria optou por transformar o projeto em uma plataforma de investimento e, principalmente, especulação.
Dessa forma, inúmeras pessoas aplicam recursos nas corretoras no intuito de obterem lucro com o aumento no preço das moedas adquiridas (seja o Bitcoin, Ethereum, Bytecoin, Tron ou qualquer outra). Há ainda os grandes especuladores que aplicam somas elevadas de dinheiro e obtém taxas de retorno obscenas. Eles compram na baixa e vendem na alta, ganhando, em certos casos, milhões de dólares em poucas horas. Outras tantas pessoas tentam fazer o mesmo com seus recursos escassos e acabam caindo nas armadilhas do mercado, perdendo quase tudo em questão de horas ou dias. Suspeita-se ainda que detentores de grandes volumes de moedas manipulem o mercado, fazendo os preços subirem ou descerem conforme suas estratégias (isso é algo que é praticamente impossível de ser comprovado, portanto, se transforma em uma espécie de mito).
A questão toda é que o Bitcoin está sendo usado muito mais como meio de investimento do que meio de troca, e isso é diverge fortemente da proposta inicial. A solução talvez seja a evolução da tecnologia e das interfaces, tornando seu uso mais fácil no dia-a-dia, como apresentado no tópico anterior. As exchanges descentralizadas também poderiam ter sua parcela de contribuição nesse processo, já que, em tese, não haveria um ponto central de controle que pudesse oferecer informações privilegiadas para esse ou aquele investidor (outro tema que não tem meios de ser confirmado, embora seja plausível acreditar que isso ocorra).

5 – Eficiência
Todas as criptomoedas precisam evoluir em termos de eficiência. Isso quer dizer tanto a escalabilidade (transações por segundo) como também a confiabilidade. Um moeda não pode crescer se há usuários perdendo recursos devido à falta de confirmação das transações (o valor não chega ao destino ou demora dias para que a transação seja confirmada). Também é necessário que sejam criados mecanismos mais robustos de confirmação das transações e meios de optar por uma transação pública, ou seja, sem anonimato (algumas pessoas podem desejar que suas transações sejam possam ser rastreadas, de forma similar a uma transferência feita por meio de um banco).
Muitos testes ainda são necessários para que as plataformas estejam realmente prontas para lidar com grandes volumes de transações de forma confiável. Além disso, centenas de milhares de linhas de código precisam ser escritas para que diversas grandes idéias se transformem em recursos disponíveis ao público. Isso é feito por desenvolvedores realmente talentosos, mas que muitas vezes não atuam full-time nesses projetos. Isso ocorre porque o retorno de um projeto crypto ainda é baixo e, por que não dizer, incerto. Sendo assim, o desenvolvedor é obrigado a dividir seu tempo entre o desenvolvimento da plataforma e alguma outra atividade mais rentável (eles também precisam comer e pagar suas contas). Mas algumas mudanças mais recentes tem alterado um pouco esse panorama. Há projetos, como é o caso do IOST (IOS Token) que estão sendo desenvolvidos por equipes aparentemente full time, financiadas por recursos dos sócios- fundadores e de fundos de investimento. Isso talvez permita a liberação total da criatividade dos desenvolvedores, visto que manterão seu foco inteiramente em um único projeto. Por outro lado, desviar um pouco o foco e participar de outros projetos é uma forma de encontrar soluções novas para problemas desafiadores. Aparentemente todas as estratégias tem um ponto positivo e um ponto negativo.
Em resumo, tanto o Bitcoin quanto as diversas outras plataformas de criptomoedas precisam encontrar soluções para os problemas já conhecidos e também precisam se preparar para lidar com uma concorrência cada vez mais forte. Conforme a tecnologia se consolida, novos players entrarão no mercado e, em algum momento, pode ser necessário encarar nomes de peso que podem até não ter os melhores talentos individuais, mas tem recursos financeiros e materiais em abundância.

E você, qual sua opinião? Alguma dessas hipóteses parece plausível? O que mais poderia estar impedindo a adoção maciça do Bitcoin como meio de pagamento? Dê sua opinião ou escreva um artigo e informe o link nos comentários.

Photo by David McBee from Pexels

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