Uma história da Canção de Coimbra no decorrer do séc. XX (pt. 2)

in pt •  6 years ago 

Os Anos 20 da Canção de Coimbra

Este período, apelidado por uns de “Primeira Década de Oiro” e por outros de “Primeiro Modernismo” da Canção de Coimbra, caracterizar-se, segundo Rui Lopes (2001), por transformações significativas que acabam por romper de certa forma com as práticas do passado, tanto ao nível vocal, instrumental, assim como da origem das próprias letras. Lucas Junot (1902-1968) e António Menano (1895-1969) são apontados como os principais responsáveis pelo estilo lírico que o canto tomava nesta altura (Lopes, 2011). Por sua vez o grupo de Artur Paredes, (1899-1980), filho de Gonçalo Paredes, e Edmundo Bettencourt (1899-1973), imprimem novas características à Canção de Coimbra (Lopes, 2011). Artur Paredes, “numa estreita ligação à família Grácio[ Família de violeiros que até à actualidade parecem ter mantido a sua actividade, do que é exemplo a (re)criação do Guitolão em 2001 (Castela, 2011).]”, acaba por levar a alterações na estrutura da própria guitarra e da técnica de utilização da mão esquerda na sua execução (Sousa in Lopes, 2011). Por sua vez Edmundo Bettencourt, para além do seu potencial vocal, adapta letras que poderiam ser consideradas como tradicionais ou típicas de outros pontos do país: Canção do Alentejo, Tirana do Faial ou Senhora do Almortão (Lopes, 2011). Castela (2011), por sua vez, defende que foi Artur Parede que, numa tentativa de romper com a tendência que o filão académico tinha para se aproximar do Fado, procurou de alguma forma revitalizar as músicas populares Futricas no seio académico. No entanto, continua, “é preciso entender que estas reformas não terão sido logo aceites pela comunidade Futrica, pois a guitarra toeira era considerada o instrumento ideal para as músicas tocadas nas festas populares da cidade (Castela, 2011). Este novo modelo de guitarra será solidamente implantado apenas depois da morte do “guitarrista barbeiro” Flávio Rodrigues da Silva, em 1950, sofrendo alterações progressivas até meados dos anos quarenta. (Castela, 2011).

Flávio Rodrigues da Silva surge como uma figura quase incontornável, talvez por ser dos poucos não-estudantes, para além da família paredes, que surgem como singulares representantes do chamado filão popular da Canção Coimbrã. Como foi avançado na introdução, Flávio Rodrigues gozaria de uma relação relativamente próxima ao meio académico, e como professor de guitarra, de alunos da Universidade inclusive, constituiria um interessante caso de interação entre estudantes e não-estudantes, entre os filões popular e académico de uma parte da realidade musical da cidade. Do grupo deste guitarrista, Trio Coimbra, que iniciou a sua actividade em 1923, faziam ainda parte Augusto Silva Louro (violão) e José Maria dos Santos (violão) (Lopes, 2011).


Sobre a década de 1930-1940 pouco ou nada é referido. O trabalho de Rui Lopes (2011) omite quase por completo qualquer referência a este período, excepto que seria na década seguinte que despontariam os guitarristas provenientes desta. O Trio Coimbra de Flávio Rodrigues continuava, no entanto, em actividade até aproximadamente 1950. O grupo de Artur Paredes, ou pelo menos o próprio, manter-se-ia activo certamente. Talvez este espaço de tempo assim delimitado, por década, por “números redondos”, não seja a melhor forma de contemplar a dinâmica dos movimentos que agitaram o contexto musical da cidade. Mas mais importante ainda, quiçá, será o facto de este década talvez se apresentar como uma continuidade da anterior, não surgindo ao que parece nenhum discurso particularmente focado ou incisivo nesta época.

Fim da segunda parte.

Veja também: Uma história da Canção de Coimbra no decorrer do séc. XX (pt. 1)
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Obras Citadas:


Castela, L. P. (2011). A Guitarra Portuguesa e a Canção de Coimbra: Subsídiospara o seu estudo e contextualização. Dissertação de Mestrado em Estudos Artísticos (Estudos Musicais), apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Franklin, A. (2 de Janeiro de 2012). Diário As Beiras. Obtido em 30 de Maio de 2013, de www.asbeiras.pt: http://www.asbeiras.pt/2012/01/fado-de-coimbra-e-patrimonio-da-humanidade/
Lopes, R. (2011). José Dória. Obtido em 3 de Junho de 2013, de Universidade de Coimbra: http://www.uc.pt/antigos-estudantes/info/cancao_coimbra_folder/cancao_coimbra_docs/jose_doria
Lopes, R. P. (2011). A Canção de Coimbra como Património Imaterial. Trabalho elaborado no ânbito da disciplina de Património Cultural, do Curso de 2º Ciclo de História, Especialização em Museologia.
Pelouro da Cultura-AAC. (2002). Canção de Coimbra: Testemunhos Vivos. Coimbra: Coimbra Editora.
SF/AAC. (s.d.). Ínicio. Obtido em 01 de Junho de 2013, de Secção de Fados da AAC: http://seccaodefado.net/home.php?module=inicio

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