Hoje trago uma contribuição ao #boxdeseries, que estou devendo há um tempo, e que @wiseagent já me indicou a direção.

Trarei as séries em uma “brincadeira”, tentando dar ênfase na perspectiva do funcionamento mental, e assim começarei com séries que vão direto a esse ponto.

Não sou um crítico técnico, e será mais uma resenha, interpretando os personagens e condução da série. E lembro é minha interpretação, não quer dizer que é a mais correta, nem tem esse objetivo, só conhecemos alguém, quando nos colocamos a compreender aquele individuo, e isso se dá pessoalmente, no contato humano, e com objetivo de ajudá-lo com seu sofrimento, acolher o Pathos é o mais importante..

Aqui como disse é uma "brincadeira", acredito ser importante trazer um pouco de alguns conteúdos ao momento atual, e levar ao público nessa nova fase da tecnologia, fora das academias, na linguagem que podem se misturar com a linguagem atual, e talvez um dia conseguimos entender um pouco alguns conhecimentos.

E começo trazendo Manhunt: Unabomber - 2017 - Netflix.

Alerta a quem não viu, contém spoilers!!

Baseado em fatos reais, Manhunt: Unabomber, em seu primeiro caso, traz uma complexa investigação do FBI, atrás de um indivíduo que estava mandando cartas com bombas pelo correio americano.

Essa investigação que durou cerca de 20 anos, foi possível devido a estruturação e persistência dos investigadores, que encontraram grande resistência ao entendimento da psicologia humana como um fator determinante para se entender muitos casos.

Essa resistência se contempla hoje ainda em muitas áreas, que esquecem do quanto humanos nós somos, e se atrelam somente a dados que por vezes restringem nosso pensamento a interpretação dos mesmos, quando excluímos o fator humano.

Na série Jim “Fitz” Fitzgerald, é especialista em traçar perfis de criminosos investigados, que dentro das circunstâncias apresentadas, se identifica com o caso, ou melhor se identifica com o manifesto do Unabomber, do qual as cartas lançadas a imprensa o direcionou nessa investigação.

Jim aparenta um indivíduo de moral rígida, de intelectualidade apurada, não gostando de muitos contatos sociais afetivos, que lutava pelo seu reconhecimento profissional, enquanto mesmo que com resistência a suas investidas, seus superiores acabavam cedendo a cada nova circunstância que Jim trazia, do caso que já não era mais um caso, era o caso que ele precisava resolver.

Posteriormente Jim se torna indispensável ao caso, onde seus superiores, irão recorre-lo, e Jim e Ted terão seus destinos cruzados. Hoje só trarei sobre Jim.

Como sua esposa traz, sua “teimosia” o movia, nunca era o bastante, cada vez o objetivo era maior, e tinha que ser completado.

Para isso Jim estudou linguística e as cartas exaustivamente, nada mais se encontrava em seus pensamentos, somos movidos pelo inconsciente, e o livre arbítrio é só um teatro cultural, a voz do grande Outro ali o move a se provar, e mais forte do que seu consciente, do que seus próprios vínculos afetivos, do que qualquer outra coisa em sua vida.

É o significante que martiriza os neuróticos.

E nessa busca incessante, Jim se encontra em uma martirizaçao moral, nao foi a toa que essa busca se tornou incessante, a identificação, processo primário lá da nossa construção psíquica inicial, é um fator muito importante para isso, ele se identifica com o Manifesto Unabomber, com as ideias de seu autor Ted Kaczynski, e ao mesmo tempo que busca provar que Ted é o autor dos atentados, se martiriza por compartilhar de muitas das ideias de Ted.

O não reconhecimento das investidas de Jim, só o alimentam, só alimentam sua busca, seu foco durante 20 anos, que serão marcadas por frustrações, rompimentos dos vínculos familiares, incluindo sua família, e um ideal que deve ser completado a qualquer custo.

E seus conflitos morais, que angustiam em seus pensamentos perseverantes, em que sua própria moral o martiriza se mostram evidentes nas emblemáticas cenas esperando o sinal abrir, no que se vê em sua identificação com Ted, refém de algo muito maior.

Algo que une as identificações tanto de Ted quanto de Jim.

Afinal já discutimos aqui, em outras ocasiões, que a loucura tem toda razão. Não há um meio termo. É a pura lógica, e a exclusão do outro, não se pode não saber, já não é permitido. Não é mais o sim e/ou não, é somente o sim, ou somente o não, não é mais o certo e/ou errado, é somente o certo, ou somente o errado...

Sem flexibilidade, sem reflexão com maior elaboração afetiva, é a lógica em seu mais puro funcionamento, o afeto já se esvaiu, não há mais o que se liga Ted realidade social, não há um outro, e sim nesse caso a caça dele.

Ainda estamos começando, e no próximo trarei um pouco do Ted!

Espero que gostem! Obrigado pela leitura!

A sociedade industrial e suas consequências têm sido um desastre para a raça humana. Elas não apenas aumentaram em muito a expectativa de vida nos países "avançados", como também desestabilizam a sociedade, tornaram a vida frustrante, sujeitaram os seres humanos a indignidades, provocaram sofrimento psicológico generalizado (no Terceiro Mundo, sofrimentos físicos também) e infligiram graves danos ao mundo natural. O contínuo desenvolvimento da tecnologia irá agravar essa situação.

O sistema tecnológico industrial poderá sobreviver, ou poderá entrar em colapso. Se sobreviver, é possível -apenas possível- que com o tempo chegue a um nível reduzido de sofrimento físico e psicológico. Mas isso só poderá acontecer depois de passado um período longo e muito doloroso de adaptação, e apenas ao custo da redução permanente dos seres humanos e muitos outros organismos vivos à situação de produtos criados artificialmente e meras peças na máquina social.

Manifesto de Unabomber – A Sociedade Industrial e seu futuro - Ted Kaczynski

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