RE: #introduceyourself | Chagay! | Sobre como prefiro ser tratadx!

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#introduceyourself | Chagay! | Sobre como prefiro ser tratadx!

in pt •  7 years ago 

Bem vindex! Tinha essa curiosidade. Cheguei a perguntar ao @leodelara. Agora já somei o que de certa forma já sabia, de perguntar como quer ser chamado, vivemos tanto no automático, movidos pelo nosso inconsciente que por vezes as coisas mais simples passam despercebidos! Sucesso na plataforma!

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  ·  7 years ago (edited)

Na dúvida pergunte. Imagino que o seu automático e o seu inconsciente sejam treinados para ser binários (ou é h ou é m), assim como eu também cresci aprendendo isso. Desautomatizar é muito importante , o que pode ser algo bem simples para você é é muito importante para nós que temos não só nossa identidade de gênero constantemente desrespeitada frequentemente como também a nossa humanidade. Pra mim desautomatizar foi uma questão de auto-conhecimento auto-cuidado e sobrevivência. É algo realmente simples de se fazer, e tem muita gente que não faz simplesmente por ser intolerante, transfóbico mesmo.

Certamente. Mas é importante levar em consideração que o inconsciente de todos são binários. E isso vem desde a genética a cultura. E não deixará de ser. O que modifica com a cultura e que molda o inconsciente que já um pouco diferente do inconsciente individual, é o inconsciente coletivo. Que molda a base de funcionamento do “consciente” coletivo. Não se desautomatiza o que é automático, e tem que ser, por natureza. A linhagem está para além do sexo biológico, e molda o mito cultural. Esse sim nos moldamos com aprendizado. Quanto mais instintivos somos, mais dificuldade de se aprender. E auto conhecimento pelo que entendo é algo dificílimo. Pois conhecer além das marcas da criação é algo que demanda muito auto conhecimento. E tempo. Tempo que está para além do nosso tempo. Até o Cid 10(nosografia diagnostica) a medicina considerava a transexualidade uma doença, que felizmente mudou há algumas semanas com o Cid 11. Assim como a Homosexualidade, que também sofreu do mesmo viés. A medicina que caminha por tempos ruins, e vem se adaptando ao tempo. A cultura precisa de muito mais tempo, e de movimentos dispostos ao diálogo, ou representações de linguagem como a arte em suas diferentes direções. Ou seja somos animais por natureza, instintivos, todos em busca de conservação e sobrevivência. Que são instintos automáticos, e através da linguagem, em suas diferentes formas, conseguimos moldar esses instintos de maneira geral. Na prática e dificílimo, ainda mais com contexto político, social que vivemos. Sempre vai haver o um e o outro, a dicotomia que vai formar o pensamento, e deve, porém o um e o outro, está na linguagem e não no sexo biológico. Com educação e dispostos a amenizar o mito que nos molda a esse tempo, ajudaremos a construir novos tempos, que talvez não estaremos, mas tempos de amor, do amor de Eros. Só através do amor que mudamos uma sociedade que hoje vive os polos dos pensamentos dicotômicos, que não se desenvolvem, e se tornam cada vez mais instintivos e agressivos.

  ·  7 years ago (edited)

Eu usei a palavra inconsciente como leigo pensando o senso comum. Mas acho que talvez nem mesmo no senso comum essa palavra caberia na minha fala. Pode ser que não tenha sido a melhor escolha. Estou pensando sobre.

Vou tentar dialogar com algumas coisas que você falou embora tenha muitos conceitos que você colocou ai que eu não domine.

Sobre o auto conhecimento ser algo difícil: para algumxs de nós, não existe outra opção, quando você é um corpo que passa por um processo de desumanização violento pelo sistema colonial (ainda presente e em constante manutenção), o auto conhecimento é urgente para a própria sobrevivência. O auto conhecimento é sobrevivência porque aprendemos muitas vezes que nós não existimos, ou que a nossa existência é um erro, um problema, uma impossibilidade, um pecado, uma perversão... da temos uma lista interminável de agressões a nossa existência. É difícil também porque envolve se dar conta de inúmeras violências, micro e macro violências, mas também é se dar conta da nossa grandiosidade. É difícil para nós porque somos silenciadxs o tempo inteiro, muitas vezes não é possível falar ou se expressar de inúmeras formas. E acho que auto conhecimento nesse caso tem muito haver com descobrir a sua humanidade e como é possível não apenas existir mas entender as maravilhosidades dessa existência. Não penso em auto conhecimento como um projeto inacabado, pelo contrário, é um processo continuo e interminável, mas está acontecendo, pode ser difícil, mas a gente tá diariamente tentando tornar cada vez menos difícil, tentando visibilizar cada vez mais o maior número de possibilidades de existência.

Dai acho que compreendo a relação que você faz com educação, inconsciente, linguagem e como elas se afetam. Só acredito que precisamos entender que essa dificuldade de sair do binário não é universal, sendo que temos inúmeras possibilidades de existências; para dar um exemplo apenas entre muitos outros, podemos pensar nos terreiros: muitos Orisàs por exemplo estão longes de ser binários - ousaria dizer que nenhum delxs mas essa é uma outra conversa. Nesse e em outros espaços, as o automaticidades são outras muito diferentes das brancas ocidentais ou das ocidentalizadas. Não sei exatamente do que você está falando quando diz que não é possível desautomatizar o que é automático por natureza, mas eu utilizei essa palavra porque entendo que essa bináridade automatica não é universal, pois ela não está presente dessa maneira em muitas culturas e corpos que existem e falam mas muitas vezes não são escutadas. Talvez ai possamos pensar no papel que (não) ocupamos no imaginário coletivo seja lá qual seja o conceito de imaginário coletivo, pois eu não consigo pensar em uma coletividade, e sim em coletividades, e talvez a coletividade que você esteja pensando é uma coletividade que traz uma pensamento hegemônico que se entende universal.

Tem muita coisa ai no seu texto para ser explorada. São coisas muito profundas que dariam no mínimo um TCC (lá vem a acadêmica). Acho que vou deixar para continuar esse dialogo em outro momento mas antes deixo para pensarmos sobre a universalização de certos conceitos como cultura, por exemplo, é importante sempre falarmos de pluralidade e de local de fala. Quem está falando, de onde, com que experiência.

"A arte e a prática de amar começam com nossas capacidades de nos conhecer e afirmar (...) A afirmação é o primeiro passo para cultivarmos nosso amor" bell hooks

[bell hooks, é mulher negra autora, teórica feminista, artista e ativista social estadunidense]