CRÍTICA | A Morte Te Dá Parabéns 2

in pt •  6 years ago 

Toda continuação é intrigante enquanto ainda não é lançada. Dúvidas e possibilidades diversas orbitam a obra e o imaginário coletivo. Eu, sempre que decido assistir a uma continuação, fico especulando acerca do caminho que a equipe criativa tomou, como, por exemplo, será que há uma nova trama que justifique coerentemente a continuação? Será que tentarão o arriscado ‘algo novo’ ou buscarão o repetitivo ‘mais do mesmo’ inflado pelo novo orçamento? Etc. Fiz essas e outras perguntas por dias quando soube que haveria uma continuação para o divertido A Morte Te Dá Parabéns (de Christopher Landon, 2017). Aguardei o filme com receio já que o primeiro capítulo parecia ser mirabolante e conclusivo demais para uma sequência. Tive medo de decepção (imagino que você entenda o sentimento. Talvez não com esse filme, mas com qualquer outro que derivou de algo que você adorou). Mas A Morte Te Dá Parabéns 2 esclareceu às minhas indagações ansiosas com respostas tão positivas quanto divertidas.

A depender do olhar, A Morte Te Dá Parabéns é um filme ousado. Ciente do peso inerente da continuação, o roteiro de Christopher Landon (que também dirige o filme) não se intimida e arrisca aventurar-se por um ambiente perigoso: a explicação. Uma das coisas que favorece o charme do primeiro filme é a falta de uma explicação sobre porque Tree (Jessica Rothe) está presa num loop temporal que se reinicia todas as vezes em que ela é assassinada por um serial killer que usa uma mascara de bebê. Mas a explicação demonstrou-se irrelevante já que a proposta não dependia de uma lógica. Ou seja, o motivo é o de menos, o que vale é a jornada. Explicar como isso acontecia, então, não era apenas desnecessário, mas também perigoso. O efeito poderia repetir a influência negativa que Kingsman: O Círculo Dourado (Matthew Vaughn, 2017) exerce em Kingsman: Serviço Secreto (Idem, 2014) ao, indiretamente, eliminar o teor dramático da morte de um personagem ao trazê-lo de volta na sequência. Ou seja, ao saber que o personagem não morrerá de fato, aquela que é uma das grandes cenas do filme de 2014 perde o impacto. Ou algo ainda pior como a gambiarra do assassinato do Tio Ben em Homem-Aranha 3 (Sam Raimi, 2007), que mexe no cerne do primeiro filme (Homem-Aranha, 2002). Mas felizmente A Morte Te Dá Parabéns 2 não prejudica a obra anterior com a explicação. O valor narrativo do esclarecimento é, principalmente, uma justificativa plausível e hábil em oferecer novidades à trama. Assim, A Morte Te Dá Parabéns 2 é aquele tipo de sequência gratificante que oferece algo novo ao espectador.
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A forma com que a maldição do loop retorna à Tree é o melhor exemplo de como o roteiro soube lidar com a responsabilidade da continuação. Além de criar situações orgânicas para os momentos expositivos, incorporando-os à necessidade da trama (o que também funciona como boa piada), a nova perspectiva sobre o loop dá à obra um divertido frescor. E também soma relevância a personagens pouco aproveitados no primeiro filme. É divertido acompanhar como essa nova perspectiva, de Ryan (Phi Vu), dá robustez ao universo. É como um olhar nos ‘bastidores’ da maldição de Tree.

Enquanto Ryan lidera a história, a mixagem de som dá pistas sobre o que está acontecendo. O uso dessa linguagem não é muito sutil, mas ainda assim permanece como uma sugestão. O som reverso das badaladas do sino apontam a direção da obra. Antes disso, até a vinheta da Universal Studios já mirava o norte: viagem no tempo e multiverso. É normal imaginar que isso não daria certo, mas para mim funcionou perfeitamente. Quanto à complicada lógica que envolve tais teorias, abstenho-me de avaliar suas precisões. Tudo me pareceu em ordem. Além de ser uma comédia (majoritariamente) e slasher, a continuação é, também, uma ficção científica.

Após a apresentação da trama, Landon abraça o absurdo e escancara a autopercepção da obra enquanto filme. A utilização natural da exposição já ajudara a construir essa percepção própria. Parte considerável da comédia parte desse entendimento da obra, permitindo cenas cujo exagero é o punchline, como a montagem de suicídios – e a exagerada e hilária queda do avião, por exemplo. Isso também prepara o terreno para o mistério sobre quem é dessa vez o assassino, embora não seja esse objetivo. É fácil antecipar uma coisa ou outra, mas é divertido perceber como a trama mirabolante e coesa sempre consegue surpreender de alguma forma, seja com uma revelação ou com diferentes plot twists em momentos inesperados e coerentes. Mesmo tratando-se de um loop, o roteiro de Landon encontra diversas formas de não ser repetitivo.

Essa mesma autopercepção também permite que a obra, ao abraçar o absurdo, se jogue numa grandiloquência que funciona bem, principalmente na conclusão e no epílogo. Pode ser uma piada, talvez uma homenagem (ou ambos, quem sabe?!), mas A Morte Te Dá Parabéns 2 toma pra si um caminho parecido demais com a Marvel para sugerir capítulos futuros. Até mesmo os créditos (os detalhes da Sissy, que é o aparelho de construído por Ryan) parecem inspirados pelas conclusões da Marvel. E a explicação final, com os agentes secretos, funciona tanto quanto piada, como referência e promessa.

Diante uma obra tão amarrada, natural e divertida, Jessica Rothe brilha numa personagem cativante e humana. Expressiva, a atriz consegue transitar pelas diferentes nuances da obra, indo do slasher à comédia com facilidade contagiante. Apurada no timming cômico, certeira nos momentos dramáticos (há um drama pessoal envolvente que guia a boa mensagem do filme sobre a necessidade de tomar decisões difíceis e a aceitação de que não é possível ter tudo), Rothe é fundamental para o sucesso e envolvimento com o filme.

Lembro até hoje da gratificante surpresa que foi assistir A Morte Te Dá Parabéns, com sua divertida proposta slasher/Feitiço do Tempo (Harold Ramis, 1993). É muito gostoso sair do cinema assim, feliz com o que assistiu. A Morte Te Dá Parabéns 2 consegue repetir essa sensação através de um filme sincero, certeiro e divertido. Não é um mais do mesmo caça-níqueis, mas uma obra merece sucesso (é a minha torcida, pelo menos) pela qualidade que oferece ao público.

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Assisti ao primeiro (na TV por assinatura) e estava até gostando... Até aquele final horrendo aparecer!

Se algum dia eu assistir a essa continuação, com certeza também será pela TV.

Que pena. Eu adorei o final. O segundo é um pouco diferente, talvez até te atraia mais. Mas com o preço do ingresso, é melhor não arriscar e esperar na TV. Rsrs