TDA na vida adulta

in pt •  7 years ago 
Escrevo esse texto para minha esposa, que não acredita que tenho déficit de atenção. Mas também o escrevo para todos aqui interessados na mente humana e nos possíveis desvios do caminho padrão.

Primeiro, mais importante que qualquer experiência pessoal, empírica, é necessário embasar, então, aqui vai um pouco do que temos hoje a respeito do TDA:

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Hoje em dia, o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) classifica o transtorno como TDAH (Transtorno de deficit de atenção E hiperatividade), por que sendo este um problema muito comum em crianças, quase sempre vem junto com o fator hiperatividade, porém NÃO é regra. Pode não haver hiperatividade. Assim como o transtorno tem uma paleta de efeitos, nuances muito grande, da mesma forma que o espectro autista varia enormemente.

Hoje já é sabido que o déficit de atenção é mais comuns em homens, é relativamente comum na população em geral (não diagnosticada), com um grande número de adultos que dão seu jeitinho de se virar com o problema sem nem suspeitar que sua falta de atenção, concentração, produtividade e disposição tem um nome específico.

Quem nunca ouviu:
-Ah eu não consigo ler um livro, leio a página inteira, mas não li nada, dai leio de novo e de novo e não entra na cabeça, não presto atenção.
-Ah matemática não é comigo
-Eu não prestei atenção, esqueci, desculpe.

Diferente do que se pensa, a medicação para o deficit de atenção só é utilizada quando o transtorno é muito agudo, e preferencialmente em crianças novas que acabaram de ser diagnosticadas. Os remédios para tal transtorno (Ritalina, Modafinil, Aderal, etc) não tem uma vida longa na qualidade de seu uso e acabam por ser prejudiciais diante dos efeitos colaterais apresentados. A nova geração de psicólogos advindas da modernidade liquida e sua subjetividade pós moderna cheia de não me toque considera muito perigoso o uso quase indiscriminado de medicação para crianças diagnosticadas com TDAH, alegando que são apenas crianças, e crianças são dispersas, energéticas e sem concentração, ignorando muitas vezes que um diagnostico psiquiatrico não é feito a torto e a direito. Naturalmente existe uma generalização ou mesmo banalização do transtorno, mas dizer que o mesmo é uma invenção da mídia e do governo é simplesmente ridículo. Só quem tem o transtorno sabe como é verdadeiro seu problema.

Mas afinal do que estamos falando, de que sintomas?

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O TDA vai apresentar nítidos sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Naturalmente tendo pelo menos dois desses sintomas como predominantes. A criança hiperativa tem quase sempre a inteligência e cognição normal ou até mesmo acima da média, é um erro comum confundir déficit de atenção com déficit de cognição. Nesse caso, vale a pesquisa séria a respeito de que grandes criadores da nossa história, grandes escritores, artistas tinham claros sintomas de déficit de atenção. Porém, como é visto, os portadores do TDA tem baixo desempenho escolar, notas baixas, baixa produtividade em atividades e assim por diante.
Algumas características do TDA são:

  • Frequentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho entre outras.

  • Com frequência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas.

  • Com frequência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra.

  • Com frequência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou incapacidade de compreender instruções).

  • Com frequência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades.

  • Com frequência evita, antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa).

  • Com frequência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (por ex., brinquedos, tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais).

  • É facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa
    Com frequência apresenta esquecimento em atividades diárias.

É bastante claro que o principal fator para a causa do TDAH é genético, a chance de seu filho ter (se você tem) é dobrada. A ingestão de açúcar na primeira infância é outro fator determinante para a predisposição a excitabilidade e sensibilidade cerebral. Alguns corantes específicos encontrados em gomas coloridas e alimentos é comprovadamente danoso para o sistema neurológico da criança, e da mesma forma, a carência de alguns minerais e elementos pode facilitar o desencadeamento do TDA.

Outro viés de estudos psicológicos garante que transtornos familiares e inúmeros problemas no período da plasticidade cerebral causa sem dúvidas algum grau de TDAH.

O adulto com TDAH provavelmente passará por alguns desses sintomas:
É Muito inquieto, comete muitos erros em atividades que exigem concentração, é desorganizado, quase sempre inconstante, desastrado, impaciente, não cumpre compromissos, pula de atividade em atividade, hobie em hobie, não para em um emprego só (por que não se sente satisfeito), não termina faculdades, perde prazos, se distrai facilmente, não fica parado, toma decisões precipitadas, dificuldade para manter relacionamentos e perde o interesse rapidamente.

A grande maioria dos adultos (30 anos pra frente, hoje em 2017) provavelmente não teve seu TDA diagnosticado e acaba se identificando com pelo menos metade desses sintomas. O que muda é o grau de hiperatividade envolvida. Muitos nunca nem pensaram em tomar remédio e encontraram seus meios empíricos e pessoais de fazer sua mente funcionar.

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O TDA não é de todo mal. Existem algumas vantagens nesse transtorno:
Não só sua cognição e erudição pode ser mais acentuada como você tem uma disponibilidade em executar multitarefas sem se embaralhar. Como por exemplo escrever um texto no steemit enquanto organiza protocolos do serviço, registra atividades dos funcionários em outra tabela, planeja sua tarde e pratica inglês em alguma plataforma virtual. Mas não consegue conversar casualmente quando precisa se concentrar demais, não consegue dar atenção externa, e assim por diante. Aqui vai uma tabela do wikipédia a respeito dos pontos positivos e negativos do transtorno:

Lado bom

  • Mais energéticos.
  • Grande expressividade corporal e verbal.
  • Talentos criativos latentes (pintura, música, criação de histórias, etc.).
  • Inovadores, interessados em diversos assuntos. Costumam surpreender com suas opiniões "fora da caixa".
  • Pioneiros, dispostos a correr riscos. O pensamento coletivo, cultura ou paradigmas não os reprimem.
  • Capacidade de "hiperconcentração" em uma atividade de interesse (uma arte, esporte, ciência, etc.).
  • Grande afetuosidade, demonstrando gentileza e comportamento generoso.
  • Frequentemente demonstram possuir uma inteligência bem acima da média.
  • Criativos. Adotam meios não ortodoxos, porém práticos em seu cotidiano.

Lado ruim

  • Grande dificuldade para transformar suas grandes ideias em ação verdadeira devido a falta de planejamento.
  • Problemas para se fazer entender ou explicar seus pontos de vista.
  • Podem ser muito sexualizados.
  • Humor volúvel, da alegria para a tristeza rapidamente.
  • Pouca tolerância à frustração.
  • Desorganização e mau gerenciamento do tempo.
  • Necessidade de adrenalina. Correm muitos riscos desnecessários.
  • Por impulsividade podem criar inimizades, pedir demissão, serem demitidos, se divorciar, romper namoros, noivados, casamentos.
  • Maior chance de abuso de substâncias (cigarro, álcool, drogas ilegais).

Meu caso de TDA é sutil o suficiente para passar batido por minha família. Mas me identifico com boa parte dos sintomas. Sempre fui muito quieto, tímido, retraído. Sempre tive dificuldades com pessoas, com sociabilidade. A escola sempre foi (desde o primeiro dia) um inferno para mim, eu simplesmente não funciono na escola, além de todo tipo de pavor e horror que tive ao ter de me adaptar a ela, sempre fui um aluno de péssimas notas em algumas matéria: geografia, matemática, educação física, e notas ótimas em outras: inglês, artes, português. Eu conseguia me virar bem com o aprendizado do que me agradava. Hoje em dia isso se repete no meu serviço freelancer, onde levo quase um mês para editar um casamento, mas um video clipe ou qualquer edição de video arte abstrata eu faço em poucas horas e se precisar passo a noite fazendo. Tenho uma dificuldade bastante acentuada para compreender certas coisas, não me dou bem com relógios de ponteiro até hoje, tenho dificuldade com conteúdos não claros, mudo incessantemente de hábitos e ideias, já passei por inúmeras ideologias e teorias, e assim sigo. Já fui diagnosticado atualmente por um psiquiatra, tive a oportunidade de experimentar dois tratamentos: Venlafaxina e Ritalina. Em ambos os caos em termos de concentração, foco e disponibilidade para atividades eu me senti agraciado por um power up divino que jamais imaginei ser possível, seria meu sonho ser sempre daquele jeito, me senti uma pessoa normal, disponível, presente, constante e focada. Mas é claro que esse tipo de coisa não dura pra sempre. Acabei deixando as medicações de lado pelos seus efeitos colaterais.

ritalina.jpg

Poderia ir mais longe com esse texto, mas já está grande demais. Alguém mais se identifica com um possível diagnóstico de TDA?

Para saber mais: https://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_do_d%C3%A9ficit_de_aten%C3%A7%C3%A3o_com_hiperatividade

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Bem dito Thomas!! Adultos também tem TDA e isso precisa ser tratado e visto com cuidado, principalmente nessa correria dos dias atuais que podem agravar o estado das coisas. E indo prum lado mais humorístico, você já viu o clipe dos Castro Brothers sobre TDA?

Hahah! Acabei de ver, muito bom. Exagerado, mas bom! xD

Parabéns, seu post foi votado e compartilhado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

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acho que é uma virtude CRIATIVA e um grande problema para... a automação! rs ADOREI SEU TEXTO!

Obrigado Teka! De certa forma ajuda sim na criatividade, mas não é sempre positivo, é mais fácil reclamar desse transtorno do que gostar de tê-lo, hehe.

Opa, de TDAH eu entendo :D Hehehehe! Então, também achava que se aplicava apenas a crianças com dificuldade de se concentrarem nas aulas. Como nunca tive essa dificuldade, levei alguns anos para descobrir que tenho todos os outros sintomas. Resumindo, a minha mente trabalha em uma velocidade e as minha ações em outra bem diferente. Não é fácil de lidar com isso, mas estou me adaptando. Obrigado por compartilhar ;)

Pois é rapaz, outra percepção errada que as pessoas tem é de confundir déficit de atenção com déficit de cognição. Uma criança ou um adulto com TDA não é burro, apenas não tem facilidade em manter o foco em algo que não é de fato interessante para ele (entre inúmeros outros sintomas, é claro) e isso é neurológico e não preguiça, birra ou qualquer desculpa que possam sugerir que ele está usando.
A questão é realmente se adaptar né? Tenho situações onde o problema é claro, em outros momentos nem lembro disso.

Post muito informativo e claro, me identifiquei com vários, mas acho que consigo lidar bem com eles. Muito bom @thomashblum!

Valeu @britohevertton! A maioria da pra lidar sem drama sim, só em graus mais sérios é que atrapalha a ponto de precisar de ajudar, mas em geral, um adulto não sente efeitos intensos, apenas crianças.

Nossa, tenho a maioria desse sintomas, o que mais me frusta é a dificuldade na concentração e por conta disso deixo tudo para a ultima hora.

A concentração, apesar de tudo pode ser praticada @eliel. Digo por mim mesmo. Não é fácil, mas vc organizando seu mindset, deixando clara as metas que pretende alcançar, colocar etapas e treinar treinar a cabeça, acaba ficando mais fácil com o passar do tempo. Aliás, a concentração é problema para todos nessa era pós moderna de informação demais, pouca gente é condicionada a ter um foco apurado, exatamente pela quantidade de ofertas a nossa mente.
Abraço.