[BLOG] A consciência da privacidade
Privacidade online é uma coisa que me desestabiliza emocionalmente e psicologicamente. Eu acho tão divertida e fascinante a integração entre serviços e dispositivos que a Google oferece tanto quanto eu sou fã de carteirinha da Mozilla, DuckDuckGo e suas iniciativas pró privacidade e segurança de dados, assim como, diga-se de passagem, eu detesto anúncios (os desonestos e invasivos), mas reconheço o lado benéfico das propagandas em geral para criadores de conteúdo digital.
São dois lados de uma mesma moeda. Num deles temos a facilidade de serviços ótimos que cobram de nós atenção e dados pessoais e, do outro, necessitamos e devemos, para mantermos uma sociedade livre e democrática, ter controle, ou, pelo menos, a consciência da privacidade e segurança de nossas informações.
Eu vejo nessa questão três vertentes de opinião. “Não me importo em compartilhar algumas informações pessoais em troca de um serviço”. Esta parece-me a mais aceita. Concordar em abrir mão do controle de suas informações em troca de um serviço é algo que fazemos diariamente, sem, na maioria das vezes, sequer nos darmos conta. É uma questão de mascarar custos, colocando uma fachada de “gratuito” e retirando das vistas do consumidor o valor que ele paga, sem saber, para utilizar determinada plataforma. É a aplicação da máxima “o que os olhos não veem o coração não sente.”
Entre malefícios e benefícios, o descontrole de suas informações traz mais malefícios, definitivamente. Numa sociedade onde o dinheiro é, para muitos, uma divindade e o consumo é o louvor a ele, somos compelidos a crer que para sermos “salvos”, leia-se aceitos socialmente, precisamos vender nossas vidas até a exaustão para obter recursos financeiros e praticar o ato de “louvar”, ou seja, consumir.
Com a perda de nossa privacidade damos mais informações que são usadas para aprimorar as técnicas de persuasão, que, através dos constantes, invasivos e cada vez mais convincentes e eficazes anúncios, nos induzem a comprar, gastar e trabalhar para repetir o ciclo (nos dizendo que assim seremos felizes, cheios de amigos e todas essas baboseiras). A falta de controle de nossas informações gera também a possibilidade de termos nossas opiniões influenciadas por grupos de interesse dos mais diversos, tendo em vista que saberão exatamente o que fazer para atingir de forma certeira seu público-alvo.
📸 Asus Zenfone 4
Passando para a segunda vertente de opinião, temos aquele pessoal que cuida com cada site que entra, coloca 10 plugins de segurança e bloqueio de anúncios no navegador, não tem nenhuma rede social e adota as mais diversas formas de se defender. Definitivamente suas informações estão bem protegidas, pelo menos a maioria delas, e não será com os dados desse usuário bem resguardado que os anúncios e estratégias de manipulação serão aprimorados.
A grande questão dessa segunda vertente, que nos leva naturalmente à próxima, é: Vale a pena? Compensa deixar de usar certos serviços e produtos em nome da privacidade? Até onde é vantajoso toda essa precaução e abstenção?
A terceira corrente de opinião, que responde, até certo ponto, essas perguntas, nos diz que deve haver um equilíbrio entre aquilo que você mantém para si e aquilo que você aceita que seja “disponibilizado” para diversos fins a medida em que utiliza certos serviços digitais.
A questão principal nesse assunto é, assim como em tantos outros aqui do blog, a tomada de consciência. Quando percebemos a importância da privacidade e começamos a selecionar aquilo que compartilhamos já estamos contribuindo para a saúde da internet e da sociedade. Me diga, por exemplo, para que raios serve postar fotos pessoais numa rede social? Pergunte a si que benefícios reais trará certa atitude e quais as possíveis consequências dela, a fim de analisar se vale ou não a fragilização de sua privacidade e intimidade.
Não precisamos nos abster por completo de utilizar um produto ou serviço digital uma vez que ele capture informações do usuário, o que precisamos fazer é, conscientemente, selecionar as informações que compartilhamos online para que seja criado um equilíbrio entre nossa privacidade ser mantida, a sociedade e a internet fiquem saudáveis e ainda possamos desfrutar de confortos trazidos por plataformas e empresas que desenvolvem aplicações de qualidade a um preço que cabe a nós escolher, conscientemente, como e se queremos ou não pagar.
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