NEOTRIBALISMO: A ASCENSÃO DA ALT-RIGHT, OS NACIONALISMOS CONTEMPORÂNEOS E A NOVA ORDEM MUNDIAL

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Resumo: Este trabalho visa refletir sobre a recente e emergente ascensão de expressões políticas ligadas a movimentos nacionalistas radicais, estabelecendo seu foco ao contexto estadunidense e a emergência da Alternative Right (Alt-Right) , e como esses fenômenos se relacionam entre si. Através da investigação dos discursos propagados, utilizando das mídias de notícias e de uma bibliografia referente a investigação de temáticas convergentes, este estudo se dedica a análise dos componentes ideológicos que sustentam tais narrativas, tentando compreender como discursos que chegam a apelar a agendas marginalizadas e altamente tidas como rechaçadas na sociedade atual, passaram a ganhar voz considerável no ambiente do debate público internacional. Em suas assertivas, evidencia a conexão entre a Alt-Right e os movimentos nacionalistas contemporâneos; suas raízes ideológicas e históricas. E encontra no discurso de reação à ordem liberal institucional no sistema internacional um forte componente de convergência, que dá espaço as mais extremas posições e evidencia uma crise de identidade na sociedade contemporânea, trazendo à tona as controvérsias do ideário de uma sociedade aberta cosmopolita.
Palavras-chave: Alt-Right, Tribalismo, Nacionalistas, Identidade, Cosmopolitismo

1 INTRODUÇÃO
O ano de 2016 foi palco de uma das mais polêmicas eleições que os Estados Unidos da América presenciou. A candidatura de Donald Trump pelo partido republicano e, mais ainda, sua inesperada vitória, foi fonte de diversas controvérsias e tem sido uma reviravolta na política estadunidense. Em meio a esse cenário, destaca-se a ascensão de certos movimentos rotulados como representantes da extrema-direita americana. O protesto de grupos neonazistas ocorrido na cidade de charlottesville no ano de 2017, o fenômeno de páginas e fóruns de Internet que propagam conteúdos de cunho radical e uma militância fervorosa a favor do governo de Donald Trump passou a chamar a atenção nas redes de notícias mundo afora e representa como esses grupos têm encontrado abertura para se expressarem politicamente dentro do contexto norte-americano. Entretanto, o fenômeno do novo reacionarismo que vem se expandindo não se limita a experiência estadunidense e faz coro com diversos movimentos emergentes na Europa nos últimos três anos: dentre alguns, destacam-se a forte atuação do United Kingdom Independence Party (UKIP) , partido nacionalista britânico, como líder da movimentação a favor do vitorioso Brexit , e a marcante campanha de Marine Le Pen na França.

No meio de tais movimentos, têm se evidenciado um forte surgimento de ideologias que, não obstante, apelam a já conhecidos discursos radicais identitários, levantado bandeiras como o nacionalismo branco e a defesa da purificação do povo europeu. O ressurgimento de grupos radicais ligados a narrativas nacionalistas e racialistas trazem à tona os fantasmas do século XX. O nazismo alemão e o fascismo Italiano não são, hoje, realidades concretas ameaçadoras tais como eram no contexto da segunda guerra mundial. Entretanto, negar a existência de discursos semelhantes que trazem consigo resquícios de tais ideologias, se mostra como uma alienação da realidade empírica, haja visto que a pregação de uma identidade constituída na ideia de raças e o apoio a posturas políticas reacionárias são elementos basilares de alguns desses grupos emergentes que estão cada vez mais a ganhar voz nos ambientes políticos e no debate público contemporâneo. Essa movimentação se coloca em contrapartida a ordem liberal internacional estabelecida no período do pós-guerra fria, que trouxe consigo uma realidade particularmente nova na maneira como o sistema internacional têm sido constituído, ultrapassando uma função sistemática, mas acima de tudo criando um ambiente cada vez mais de interdependência, cooperação e compartilhamento de valores que sustentam a noção de uma Sociedade Internacional. (BULL, 2002)

A emergência desses grupos carrega a demonstração de que essa nova ordem mundial é ameaçada por uma crise identitária que faz ressurgir os mais brutais e irracionais sentimentos ideológicos como uma resposta ressentida a esse processo de transição. As ações de Donald Trump na presidência em muito tem demonstrado o caráter antiliberal de sua governança, na medida que tratados e acordos dos quais os Estados Unidos, um dos principais atores (senão o principal) no Sistema Internacional, fazem parte vão sendo negligenciados pelo atual presidente, sendo um exemplo de problemáticas que colocam em xeque a consistência das instituições liberais perante a soberania e vontade arbitrária do Estado moderno, questionando até que ponto as aspirações cosmopolitas que objetivam a maximização do compartilhamento de valores e normas no ambiente internacional são capazes de demonstrar sua eficácia.

Este artigo, portanto, visa refletir, a partir do arquétipo que a direita alternativa americana (Alt-Right) representa com seu discurso ideológico, sobre a maneira como o novo reacionarismo se apresenta como um fenômeno muito mais abrangente e articulado em suas diversas manifestações do que como casos particulares e isolados, buscando encontrar os elementos que fazem com que narrativas tão marginalizadas e já desmoralizadas historicamente ganhem certa notoriedade no ambiente público contemporâneo, demonstrando como a ascensão e a adesão desses discursos pelas massas reflete problemáticas ligadas diretamente ao destino da ordem liberal ocidental e suas instituições.
Entender o surgimento da direita alternativa americana se propõe aqui a compreender um fenômeno maior do que a mesma, mas que tem na sua essência a mais significativa representação possível da problemática apontada. A Alt-Right não é o único movimento nacionalista a se destacar no cenário político internacional, tal como já apontado, a saída do Reino Unido da União Europeia é um desses exemplos pertinentes, junto do forte crescimento de movimentos nacionalistas em países europeus que dialoga em muito com a ascensão da nova direita americana e com a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos da América.

Ao longo da exposição, o texto irá se restringir, portanto, a uma análise do movimento americano, tendo nos movimentos similares europeus apenas referências análogas, haja visto que um dos objetivos é, acima de tudo, entender como a direita alternativa e seu discurso personificam da forma mais elevada possível aquilo que tais movimentos paralelos também representam de diversas maneiras. Todos estes, por mais diversos que possam ser, demonstram possuir um elo em comum e agem em prol de uma determinada visão de mundo. É justamente essa visão de mundo que precisa ser identificada no discurso da direita alternativa.
Sendo um movimento disperso, de caráter quase exclusivamente novo e virtual, a Alt-Right não pode ser caracterizada a partir de uma filosofia altamente articulada e bem sistematizada. Sua ideologia repaginada pouco se encontra em livros e grandes tratados uniformizados. A filosofia da qual a Alt-Right se alimenta tem seus antepassados ideológicos, seus fundamentos teóricos, mas sua face atual ainda vem sendo moldada, e se modela a partir de um ativismo dinâmico, adaptado aos mecanismos da presente geração. Entretanto, é possível um mínimo rastreamento daquilo que está no coração do novo movimento reacionário. Para isso é preciso identificar os principais elementos que constituem seu discurso, encontrando nas suas ideias os elementos basilares que servirão como ferramenta para uma verdadeira compreensão de sua ascensão como movimento político.

Dentre tais será dado enfoque no forte apelo de pertencimento tribal que rege o fenômeno nacionalista; sua fundamentação racial; e a agenda que tal narrativa carrega em seu discurso político. Por conseguinte, será exposto a oposição nacionalista ao discurso cosmopolita e sua forte reação ao sistema internacional globalizado contemporânea. Por fim, irá ser analisado como o esse novo nacionalismo de oposição ao cosmopolitismo emergente se articula politicamente e se apresenta como uma alternativa viável e atrativa para as massas no debate público contemporâneo.

2 DO TRIBALISMO
O foco na política de imigração é hoje o ponto mais importante na agenda da direita alternativa. A narrativa de uma América apenas para os seus e o combate à imigração tem sido o elo de convergência entre estes grupos e a atuação governamental. A perspectiva tribal alimentada a partir de uma noção de raças é usada como justificativa teórica para os problemas sociais americanos e como o fundamento mais basilar da direita alternativa na propagação de seu discurso político. Jared Taylor, um dos principais representantes intelectuais do movimento e editor da American Renaissance , argumenta em seu livro White Identity, como a diversidade racial propagada é causa dos mais diversos conflitos encontrados no seio da sociedade, sendo a luta entre as raças os elementos basilares de diversas problemáticas envolvendo a criminalidade (Taylor, 2011).

A proposta de Donald Trump em construir um muro com a fronteira do México é a personificação dessa política de imigração focada no isolamento. Para a Alt-Right é esse elemento que faz de Trump um componente necessário para o avanço da ideologia propagada. Um presidente que tenha coragem para contrariar o status quo e pregar uma política de imigração rígida é o que a direita alternativa almeja como uma forma de avançar seu projeto ideológico. Como afirma Richard Spencer, outro nome de peso do movimento, presidente do Nacional Policy Institute e criador do próprio termo direita alternativa, ao responder à imprensa sobre o que ele e a Alt-Right esperam acerca da atuação de Donald Trump, diz: “obviamente o muro (na fronteira com o México) e que seja duro com a imigração ilegal. Essas são coisas que ele prometeu e estão na base do seu movimento.”

A política de isolacionismo tem demonstrado ser uma fonte de inspiração de articulações políticas nos últimos anos. A eleição de Donald Trump e outros casos recentes já citados representam, acima de tudo, que esse sentimento floresce também no meio das massas, a ponto de dar voz a movimentos políticos que se articulam através dessa demanda social. Esse fenômeno se apresenta como uma espécie de manifestação dos sentimentos tribais que sempre estiveram presentes ao longo da história humana e que, ao ser confrontado em mundo de múltiplos contatos culturais, acaba apresentado reações esperadas e ao mesmo tempo imprevisíveis.

2.1 Realismo Racial
O ponto de partida do pensamento propagado pela direita alternativa encontra seu fundamento em uma tradição intelectual já conhecida desde do século XIX, tradição esta que foi base para diversas ideologias e sistemas que propagaram o discurso tribalista de uma sociedade constituída por raças. O realismo racial, também conhecido como racismo científico ou racialismo, apresenta uma narrativa, antes de tudo, de caráter intelectualizado. Presente em trabalhos de autores como Johann Friedrich Blumenbach, Joseph Arthur de Gobineau, entre outros, a ideia consiste na afirmação da raça como um fator real e altamente relevante no desenvolvimento do ser humano enquanto tal, tanto no que tange sua identidade biológica, quanto social. Essa teoria, entretanto, foi perdendo espaço no ambiente cientifico e hoje é tida como desqualificada na maneira como busca conceituar a ideia de uma identidade racial como fator naturalmente determinante na vida do indivíduo.

Mesmo tendo seu status rebaixado à pseudo-ciência, a ideia naturalista e determinista da raça ainda se demonstra bastante enraizada em certos discursos contemporâneos e, não obstante, seu conceito é por vezes evocado como legitimamente científico. É o que pode ser notado na narrativa que rege a ideologia da Alt-Right; o realismo racial é assumidamente utilizado como fundamento da busca por uma identidade branca, como argumenta Jared Taylor, a visão que prevalece na mídia e em alguns ambientes acadêmicos é de que a raça não pode ser legitimada nem mesmo como uma categoria biológica [....]. Essa visão ignora o grande escopo de trabalhos científicos que sugerem a raça e a consciência étnica como enraizadas na psicologia humana. (TAYLOR, 2011, p. 81)

Para a direita alternativa, a raça é um fato inegável, tal elemento é o que compõe a ordem social e, portanto, deve ser aquele pelo qual se estabelece as bases de uma atividade política. A raça, ainda por cima, não apenas divide os seres humanos biologicamente, mas é a fonte de comportamentos e hábitos sociais que são associados ao fator racial, de tal maneira, que a defesa da supremacia branca se faz presente na medida em que o discurso de salvaguarda das supostas virtudes intrinsecamente brancas que constituem o ideal civilizacional são designados como elementos da própria identidade racial, como expressou Richard Spencer ao associar conceitos como poder, força, beleza e atitude a identidade racial europeia (Informação Verbal).

2.2 O Estado Étnico
A proposta política ideológica que traz a Alt-Right é explicitamente o que é conceituado como um Estado étnico. Como, para os adeptos do movimento, as relações comunitárias devem ser fundadas a partir do elo sanguíneo e, portanto, racial, a estrutura política de uma sociedade deve se fundamentar também no conceito de raças. Em suma, o Estado se torna a realização de um poder racial personificado. Para a direita alternativa, a criação de um estado para os brancos é a simples atualização das origens estadunidenses, como afirma Richard Spencer, "Os Estados Unidos foram definitivamente um Estado étnico. Um dos primeiros documentos legais, o ato de imigração de 1790, limitou a imigração para os EUA somente para pessoas brancas. Esse país foi efetivamente definido pela raça desde sua concepção." (Informação Verbal)

O discurso das raças acaba por se demonstrar não apenas como um discurso de reação ou revolta, mas um projeto político estabelecido e suas raízes são comuns a totalitarismos passados dos quais a humanidade teve o desprazer de presenciar a ascensão. Um projeto político baseado na raça se vê necessariamente dependente de uma reestruturação da estrutura do Estado. A ideologia do novo tribalismo encontra, portanto, um eco em manifestações políticas que também evocaram os mesmos princípios, como demonstra Karl Popper na sua análise dos tribalismos no século XX, "De acordo com as modernas doutrinas totalitárias, o Estado como tal não é o fim mais elevado. Este é, antes, o Sangue, e o Povo, a raça. As raças superiores têm o poder de criar Estados. O mais elevado alvo de uma raça ou nação é formar um Estado poderoso, que possa servir como potente instrumento de sua auto-preservação. "(POPPER, 1987, p. 70)

Assim, a militância supremacista consiste em fazer emergir uma consciência coletiva que trará ao indivíduo sua noção de pertencimento a uma comunidade. Como afirma Spencer, “criar uma consciência entre europeus-americanos. Essa é minha meta de vida”. Essa psicologia de apelo a um despertar de uma consciência comunitária também encontra eco na mentalidade nazista alemã. Pensava Hitler , que o reconhecimento do elo sanguíneo tem como seu objetivo final o despertar de uma consciência individual perante a sua raça. (HITLER, 2016)

Para Spencer, esse é o ideário que move sua ideologia. Sua projeção, mesmo não concreta, é um sonho revolucionário. A projeção de uma ligação comunitária racial guia as mentes reacionárias e move ativistas em prol da aspiração de uma sociedade dividida em cores e faz da direita alternativa uma atualização ideológica em prol da afirmação de uma identidade branca e europeia em detrimento de outras etnias.

2.2.1 Sangue e Solo
O ideal de uma sociedade organizada a partir de uma concepção de raças não é novo e tem seu fundamento no mito do Blut und Boden (Sangue e Solo) que foi usado pelo já citado Hitler como expressão de sua ideologia supremacista. O sangue se refere a conexão sanguínea entre os povos, o solo à povoação ancestral em determinado contexto geográfico. Karl Popper (1987), evidencia como o mito do Sangue e Solo é um produto fraudulento do Idealismo Hegeliano, que, para Popper, é o pai das ideologias totalitárias do século XX. A noção do “Espírito” é substituída tal como no marxismo por um elemento material, entretanto, enquanto para Marx a matéria se constitui na produção, na ideologia racialista, o espírito é o sangue - a raça (Popper, 1987). Este mesmo lema é utilizado como elemento de fundação das aspirações tribais do movimento norte-americano. Porém, reduzir o fenômeno da Alt-Right a uma réplica exata do nazismo alemão seria um equívoco reducionista. Como afirma Richard Spencer, “não, não queremos reproduzir a Alemanha nazista. Isso é um movimento do passado e que não nos ajuda e não vai a lugar algum”.

O novo tribalismo supremacista realça sua vantagem política justamente no fato de ser um movimento atualizado, adaptado às plataformas e aos problemas do século XXI, buscando projetar sua essência reacionária a partir de um idealismo jovem e revolucionário. Uma de suas características é o engajamento através das redes sociais: o uso de fóruns, blogs e interações virtuais através de memes , faz com que o projeto de construir um Estado próprio para a raça branca, onde o bem comum como proteção da raça e sua “civilização”, alinhado a uma pregação idealista, jovial e inofensiva seja um dos motivos do forte engajamento que Alt-Right consegue abarcar. Esse discurso carregado por uma ideologia reacionária e historicamente violenta com antecedentes claros no que tange suas ideias, acaba se tornado uma ferramenta de revolta e insatisfação contra um establishment político atual.

A raça, como fator, antes de tudo, que apela a um elemento imagético, se torna um aspecto altamente atrativo no ímpeto de afirmação da identidade e acaba por ser um instrumento de explicação dos supostos problemas políticos e sociais existentes. O mito do sangue e solo é uma expressão radical do apelo identitário existente nas relações humanas e quando há um vácuo perante tal demanda, a identidade se torna o centro da busca incessante das ideologias, a ponto de fazer ressurgir clamores extremos que dizem apresentar as respostas ao momento de crise. O fator identitário tem se tornado um elemento cada vez mais delicado e inflamado os mais diversos debates políticos contemporâneos, a problemática que se apresenta evidente é que se há tanto uma busca por identidade, se conclui que há falta dela. O indivíduo, como ser social, tem encontrado esse vácuo na maneira de lidar com o pertencimento comunitário. O neo tribalismo revela, portanto, as consequências inevitáveis desse problema de identidade. Sua ascensão, porém, se demonstra renovada, pois a medida que possui seus fundamentos ligados as experiências já vividas na história, seus métodos e discursos se apresentam atualizados, trazendo um novo rosto, novos inimigos e uma nova maneira de se fazer política.

3 DO COSMOPOLITISMO
O fim do século XX é marcado pela personificação inicial de uma nova aspiração na maneira de modelar as relações entre os Estados. As guerras que protagonizou fez com que este período fosse marcante para uma percepção realista de mundo. Duas grandes guerras além da famigerada guerra fria, acabou marginalizando as propostas liberais de uma sociedade cooperativa e harmônica. Entretanto, o período pós-guerra em consonância com a queda do muro de Berlim e o fim da dicotomia mundial que fazia do mundo um palco de tensões ameaçadoras entre os Estados Unidos e União Soviética, foi responsável por ir desenvolvendo uma reviravolta nas relações políticas que seriam estabelecidas no século XXI. O mundo capitalista saiu vencedor, o Estado liberal e a democracia burguesa suplantaram seus inimigos.

As consequências do triunfo do capitalismo e a derrota dos nacionalismos totalitários foram as mais variadas: Globalização, acentuação de acordos e tratados internacionais voltados à cooperação, o foco na expansão dos Direitos Humanos, a criação de blocos econômicos de livre-comércio, além da singular interação multipolar e multicivilizacional nunca antes visto na história (HUNTINGTON, 1997) junto a outros elementos que seguem um ponto característico em comum - uma visão cosmopolita de mundo.

Devido às experiências traumáticas que o século passado proporcionou, a aposta na cooperação e internacionalização das relações deixou de ser uma simples aspiração idealista e se tornou uma alternativa contundente perante um mundo que tentava encontrar respostas mais sofisticadas às investidas de Estados soberanos na busca pela hegemonia. O nacionalismo e sua utilidade como organizador do elo social passou a ser questionado, como aponta o filósofo Sir Roger Scruton
"No momento em que a paz foi estabelecida após 1945, com a Alemanha em ruínas e os Estados-nação do Leste Europeu sob rígido controle soviético, uma espécie de consenso foi surgindo entre a nova classe política — categoria que foi incumbida de reconstruir as nações derrotadas. Segundo esse consenso, a Europa foi dilacerada pelo nacionalismo e o futuro do continente poderia ser garantido somente se as lealdades nacionais, que provocaram tanta beligerância, fossem serena e discretamente substituídas por outra coisa."(SCRUTON, 2016, p. 56)

Na virada do século esse discurso foi ganhando cada vez mais forma e a proposta da qual se refere Kant (2008) de uma paz perpétua que se constituiria a partir de uma federação
de Estados, onde a preservação da soberania nacional ainda existiria, mas sendo submetida de forma consentida, através do uso da razão, a um bem comum universal, nunca esteve tão próxima e sua propagação nunca esteve tão elevada por um sentimento otimista que enxerga no futuro a possibilidade de um sistema internacional cada vez mais perto do progresso e da paz tanto almejada. Após o fracasso da Liga das Nações, evidenciado pela ascensão da segunda guerra mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) se apresenta como uma alternativa mais articulada, atualizada e consistente na maneira como estabelece a sustentação de suas instituições. O indivíduo como elemento identitário aplicado a todos os homens vem sendo levado cada vez mais ao pé da letra. A proposta dos Direitos Humanos evidencia esse elemento característico universal que vem sendo implementado. No mundo atual ser um indivíduo, em tese, tende a ser um status de maior significância do que ser brasileiro, britânico, canadense, argentino ou estadunidense.

A noção de um direito inerente a cada indivíduo pelo simples fato da existência de pessoalidade evoca claramente a tentativa de se estabelecer uma noção universal de ser humano. Os direitos humanos não se limitam a fronteiras e a elementos particulares como etnia, cultura, religião, sexualidade, gênero e afins. Sua aplicação é tida como conveniente e, mais ainda, necessária a todo o indivíduo para a garantia da própria dignidade da pessoa humana.

A aplicabilidade desse direito se dá envolta de uma série de controvérsias a respeito de sua legitimidade. Entretanto, não cabe aqui uma discussão jurídica no que tange os problemas em torno das barreiras que o mesmo encontra. O que se deve ser notado é que sua existência tida como um ideal a ser alcançado representa de maneira concreta e positivada a consolidação cada vez mais desenvolvida de uma concepção universal identitária contra uma modulação social construída através da identidade nacional. Suas aspirações remontam a tempos antigos, como, por exemplo, a revolução francesa do século XVIII, entretanto, sua estruturação normatizada foi efetivamente desenvolvida no século passado e sua expansão é um dos aspectos mais característico do mundo atual na sua busca pelo indivíduo universal.

3.1 O Antiglobalismo
Em meio a esse mundo cada vez mais universalista e multicultural, diversos questionamentos a respeito da capacidade de concretude em relação aos ideais liberais são levantados. A ideia do homem universal é confrontada a medida que as particularidades que os indivíduos nutrem em suas características e modos de viver evidenciam elementos altamente relativos ao contexto em que habitam. As divergências culturais, religiosas e sociais são capazes de moldar a forma como o homem, um ser social, enxerga a própria realidade, se adequando a ela a partir de sua experiência.

Essa afirmação de uma identidade cultural frente a tentativa de formulação de um indivíduo universalizado, se torna ferramenta de estruturação do que pode ser chamado de uma espécie de teoria política da conspiração - o Globalismo: o termo, que possui diversas variantes e um caráter polissêmico, é usado aqui em prol de uma narrativa ideológica específica, a narrativa de que as grandes corporações mundiais dominadas por ideais progressistas revolucionários, pretendem desestruturar o mundo ocidental e o poder dos Estados soberanos, almejando a criação de um Estado Mundial e a implementação de uma nova ordem. Mais precismanete, o Globalismo seria “como um conjunto de organismos globais e internacionais [....] dominado por burocratas que querem instaurar ao redor do mundo um único sistema” (Informação Verbal), como define Richard Spencer .

A narrativa do Globalismo não é exclusiva da direita alternativa americana. O movimento ao redor do Brexit, contrário a União Europeia, que é vista como um dos braços da ideologia Globalista, tem em seu posicionamento uma forte reação a ideia de um projeto político que vá de encontro aos valores da soberania nacional. Nigel Farage, um dos principais líderes do movimento a favor do Brexit em um debate sobre Globalismo x Nacionalismo organizado pelo Wall Street News, argumenta:
"Essa revolução de 2016 é algo que será estudado por séculos adiante, porque algo aconteceu em 2016 e o foi o renascimento do conceito de Estado nacional. E por décadas, o que vinham tentando fazer era construir novas forças artificiais de estruturas supra-nacionais."(Informação Verbal)

É aqui que o fenômeno Alt-Right é conjecturado como algo que ultrapassa os limites das particularidades da política norte-americana. Não se pode comparar com total equivalência movimentos diversos, como o Brexit, a Alt-Right e outros nacionalismos emergentes. Cada um deles possuem suas particularidades, são guiados por elementos históricos próprios de cada contexto e possuem conteúdos políticos distintos em diversas questões. Entretanto, para se entender a ascensão explosiva do movimento estadunidense mesmo com suas mais controvérsias agendas é necessário compreender o discurso que faz tal movimento ter algum tipo de apelo perante o público comum. O racismo, a supremacia branca e o neonazismo não são elementos novos no contexto político americano, movimentos como a Ku Klux Klan (KKK) já militam a favor de uma identidade branca muito antes dessa nova direita pensar em fazê-lo. Os motivos históricos que levam o surgimento de tais movimentos são diversos e próprios da formação dos Estados Unidos da América.

A fama crescente da Alt-Right não representa uma adesão em massas desses discursos já presentes na sociedade americana. O ponto elementar neste trabalho, é buscar refletir justamente sobre como um movimento que prega ideias tão antigas e ao mesmo tempo marginalizadas passou a ter tamanha ascensão, a ponto de influenciar significativamente na eleição presidencial e dialogar até mesmo com aqueles que não almejam ou adotam uma ideologia racialista.

O combate ao Globalismo e a afirmação do Estado nacional em busca de uma identidade frente os avanços de uma concepção cosmopolita de mundo vêm se demonstrando um fenômeno plural em diversos países através de diversos movimentos distintos e é elemento basilar na compreensão do fenômeno Alt-Right. A direita alternativa faz coro a essa narrativa que vem cada vez mais se popularizando. Sua ascensão não representa, de fato, uma conversão em massa de ideias supremacistas, mas um anseio geral em busca de uma política de identidade e representação frente às mudanças da sociedade contemporânea.
O que une tais movimentos e os conecta ao povo, fazendo-os eleger uma candidatura, e ganhar referendos, é o inimigo em comum. O inimigo a ser derrotado tende a ser o elemento de maior peso na construção de uma ideologia: a burguesia para o socialismo, o judeu para o nazismo e, neste caso, “a nova ordem mundial” que é capaz de dar voz até mesmo às mais reacionárias posturas. Como aponta Samuel Huntington, “os inimigos são essenciais para os povos que estão buscando sua identidade e reinventando sua etnia” (Huntington, 1997, p. 8).

Em torno desse inimigo é revelado de onde vem a fonte da força de tais movimentos. É, acima de tudo, um grito de guerra identitário. Como a candidata Marine Le Pen, umas das representantes do movimento contrário a UE na França afirmou, “chegou o tempo de derrotar os globalistas”. O levante de tais ideologias demonstra, acima de tudo, um clamor por identidade. Em um mundo cada vez mais plural e multicultural, a afirmação da identidade se tornou instrumento capaz de evocar as mais extremas ideologias.

3.2 A Superação do Conservadorismo
Uma das principais características na atuação política da direita alternativa, e nisso se explica a própria terminologia da expressão “alternativa” associada ao movimento, é sua oposição às expressões conservadoras vigentes designadas como “mainstream” ou pertencentes ao “establishment”. A narrativa de que o conservadorismo republicano tradicional (a direita vigente) não é mais capaz de responder aos anseios do povo, é um dos elementos basilares na construção do discurso da Alt-Right. “Conservadores não tentam mais conservar o que é mais importante: seu próprio povo”, argumenta Jared Taylor.

A direita alternativa se apresenta como a nova direita redentora, verdadeira, que resgata uma eficaz expressão política em oposição a um dito conservadorismo vendido e corrupto. Manifesta-se aqui uma clara oposição interna dentro dos movimentos políticos à direita. O mesmo fenômeno também é refletido no que tange ao andamento do Brexit: a ascensão de um partido à direita se opondo não só aos adversários políticos tradicionais à esquerda, mas se apresentando como uma alternativa ao conservadorismo vigente também pode ser percebida na posição do Partido Conservador britânico em relação ao referendo. O assunto não era unanimidade e nem fazia parte da agenda oficial do partido enquanto tal, prova disso é que o então primeiro-ministro, David Cameron, atuante na época do referendo e membro do Partido Conservador, se colocava fortemente a favor da União Europeia. A atuação ideológica em oposição ao bloco europeu foi levada adiante por um outro partido, o UKIP, que já tinha em sua agenda a pregação da independência do Reino Unido como carro-chefe.

Nesse ressurgimento do nacionalismo frente o mundo de interdependência, a narrativa da direita alternativa e seus equivalentes é de que o conservadorismo tradicional não é mais suficiente no posicionamento contra a ideologia globalista, sendo o mesmo apenas mais um contribuinte de tais interesses. É necessária uma nova direita. Uma direita alternativa, que resgate os valores que devem ser cultivados para o mantimento da civilização.

Conceituar conservadorismo é em si mesmo uma tarefa árdua e talvez até incapaz de ser realizada de maneira definitiva. O ideal, como propõe João Pereira Coutinho (2014), é pensar em conservadorismos, no plural, compreendendo a expressão política conservadora como um fenômeno heterogêneo e bastante amplo, que muitas das vezes acaba por designar até mesmo movimentos, ideias e expressões políticas auto-excludentes. É o que evidencia o fenômeno Alt-Right e sua oposição a direita tradicional americana, uma narrativa que é colocada por muitos como conservadora e ao mesmo tempo se opõe às expressões conservadoras presentes.

É justamente isso que faz Donald Trump ser a figura popular mais representativa desse movimento mesmo não estando diretamente ligado a ele: sua candidatura foi altamente rejeitada pelo Partido Republicano, nomes de peso dentro do conservadorismo americano, em suas variadas vertentes, tais como Ted Cruz, Rand Paul, Mitt Romney e Marco Rubio eram alternativas muito mais bem vistas dentro da estrutura do partido. Trump era rechaçado tanto pela sua improbabilidade de vitória, quanto pela sua postura e posicionamentos bem controversos em relação aos candidatos tradicionais. Em um artigo para o Politico Magazine, Yuval Levin, escreve sobre como os conservadores perderam o GOP com a vitória de Donald Trump: "Para dizer o mínimo, este ciclo eleitoral revelou graves falhas e fraquezas à direita, e o Partido Republicano estará trabalhando para dar sentido a tudo isso por anos. Mas para conservadores - quero dizer aqueles que defendem alguma versão do difícil equilíbrio do tradicionalismo na arena moral, mecanismos de mercado para enfrentar nossos desafios econômicos e a força americana em um mundo perigoso, todos regidos por um constitucionalismo de governo limitado - essas lições tristes do ano, nos passam com temor uma implicação abrangente: não podemos mais tratar o Partido Republicano simplesmente como nosso."

3.2.1 O Fenômeno Trump
A eleição de Donald Trump demonstra a relevância e personifica essa ascensão da direita alternativa no cenário político norte-americano e de seu discurso antiglobalista. Donald Trump não pode ser considerado um declarado membro do movimento, em alguns momentos o mesmo tenta dissociar sua imagem de tais grupos. Em declarações à imprensa Trump afirmou, “Não é um grupo que eu queira estimular. E, se eles estão motivados, quero investigar isso e saber o motivo”. A aproximação de Trump em relação a Alt-Right é um fenômeno mais complexo do que aparenta ser. Em suma, a eleição de Trump é mais o reflexo dos sentimentos políticos que estão sendo revogados pelas massas do que uma projeção racional e articulada de um determinado movimento político.

Donald Trump e a Alt-Right representam o mesmo sentimento, mas seus respectivos surgimentos possuem suas peculiaridades. Porém, o que os une não deixa de ser explicitado: a forte busca de afirmação da soberania americana e uma oposição a estrutura política vigente faz de Trump o representante político desse sentimento generalizado. De tal forma a candidatura de Donald Trump foi profundamente apoiada e incentivada pelos grupos da direita alternativa, pois com sua postura polêmica, por vezes agressiva, e sua agenda de combate à imigração apelando a uma ação política mais isolacionista, o atual presidente acabou entrando em consonância com os ideais propagados pelos ativistas da Alt-Right.
O apoio de tal movimento a Trump se dá, portanto, como uma espécie de oportunismo: Trump é mais uma ferramenta para a Alt-Right do que um representante, e o contrário também se sustenta; Trump não se demonstra um ideólogo supremacista, mas não deixa de surfar em cima desse discurso na sua maneira de fazer política.

Em suma, Donald Trump e a Alt-Right andam de mãos dadas como alternativas vivas à esquerda e à direita tradicional norte-americana. O objetivo em enfatizar sua peculiar personalidade e postura, é uma ferramenta utilizada pela Alt-Right para fomentar uma oposição ao conservadorismo republicano e se tornar uma alternativa política viável de representação contra o establishment político.
Ao ser confrontado pelos eleitores tradicionais acerca de sua postura distinta, Trump respondeu: “Esse é o Partido Republicano. Não o Partido Conservador”. Para a Alt-Right, isso soa como música, pois representa uma abertura a um discurso cada vez mais radical como alternativa política viável dentro da estrutura institucional estadunidense. E é nesse sentido, que Trump se torna peça importante para o movimento e personifica a ascensão da ideologia tribalista. “Salve Trump, salve a vitória, salve nosso povo”, proferiu Richard Spencer . O fenômeno Trump é a face de sentimentos políticos muito mais profundos e perigosos, não é em si mesmo a representação de tal movimento, mas traz consigo o sentimento que faz com que a Alt-Right tenha voz, e torna o elo entre o poder e as ameaças ideológicas que novo reacionarismo abarca em sua narrativa, possível.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O século XXI vive as consequências de um processo contínuo de transformação das relações políticas e internacionais. O mundo globalizado, cada vez mais interdependente e conectado tem despertado uma tendência cada vez mais voltada a unificação da identidade. Entretanto, o ideal liberal universalista se vê confrontado pela incapacidade de promover uma representatividade perante as mais diversas identidades culturais. O homem, como ser social, depende e clama por um elo de união que o identifique e o faça conviver de forma minimamente pacífica com aquele que está ao seu lado, cotidianamente. Como afirma Scruton, "Oposição, discordância, livre manifestação e a solução conciliatória como regra, tudo isso pressupõe uma identidade comum. Tem de haver uma primeira pessoa do plural, um “nós”, se os muitos indivíduos existem para ficar juntos, aceitando as opiniões e os desejos dos demais, independentemente das divergências." (SCRUTON, 2016, p. 58)

Na prática, a sociedade cada vez mais aberta e desligada de elementos culturais que estão presentes na afirmação da nacionalidade, tem gerado temores, conflitos e vêm colocando em xeque aspirações universalistas. O apelo a uma forte e radical afirmação identitária é umas respostas a essa transformação cosmopolita, de tal maneira que abre espaço para as mais diversas e extravagantes ideologias. Para além de uma guerra ideológica, é possível conceber um conflito identitário, colocando em evidência o insucesso do cosmopolitismo.

A ascensão enérgica de diversos grupos nacionalistas ao redor do globo, presente no fenômeno da Alt-Right e sua ideologia racialista repaginada por uma expressão política atrativa e adaptada às plataformas contemporâneas, representa uma das expressões mais radicais do que a busca por uma identidade e um apelo a união de massas é capaz de produzir, a ponto de uma nacionalidade “abstrata” por si só não ser mais o único ponto de afirmação, sendo até a mesmo a raça uma forma de apelo à identidade capaz de ganhar voz no debate público. Aqui, o elemento ganha um caráter além da disputa ideológica, mas, antes de tudo, cultural, como propõe Samuel Huntington, "No mundo pós-guerra fria, as distinções mais importantes não são ideológicas, políticas e econômicas. Elas são culturais. Os povos e as nações estão tentando responder a pergunta mais elementar que os seres humanos podem encarar: quem somos nós? E estão respondendo a essa pergunta da maneira pela qual tradicionalmente a responderam - fazendo referência às coisas que mais lhes importam. As pessoas se definem em termos de antepassados, religião, idioma, história, valores, costumes e instituições. Elas se identificam com grupos culturais: tribos, grupos étnicos, comunidades religiosas, e, em nível mais amplo, civilizações." (HUNTINGTON, 1997, p. 20)

A análise de Huntington sobre a emergência do aspecto identitário e cultural que iria ocorrer a ponto de tomar o protagonismo dos principais conflitos no século atual, tem se demonstrado cada vez mais sensata e relevante para o debate em torno da compreensão das crises contemporâneas. Desde o terrorismo islâmico aos problemas referentes a imigração, é evidente que os elementos étnicos e culturais têm sido o refúgio preferido daqueles que buscam sua própria identidade. A tentativa universalista que o ocidente vem tentando produzir encontra, portanto, seu maior obstáculo - isto é, um vasto número de hábitos, costumes, e aspectos culturais que envolvem as relações humanas em seus respectivos ambientes.

É evidente, entretanto, que as aspirações que envolvem o cultivo à cooperação legislada das relações entre os Estados é um passo importante na tentativa de estabelecer meios para o mantimento da ordem no sistema internacional, como aponta Scruton, "A verdade no internacionalismo é que os Estados soberanos são pessoas jurídicas e devem negociar entre si por meio de um sistema de direitos, deveres, obrigações e responsabilidades: em outras palavras, por meio do “cálculo dos direitos e deveres” [....]. Os Estados soberanos devem estabelecer acordos voluntários que tenham força de contrato por lei, e esses pactos deveriam ser vinculativos aos governos consecutivos, da mesma maneira que um contrato de um escritório de advocacia vincula os sucessivos diretores. Para fazer com que esses acordos sejam possíveis, os Estados devem ser soberanos — ou seja, capazes de decidir as questões por si mesmos — e também estarem dispostos a renunciar os poderes para essas entidades responsáveis pela manutenção dos acordos internacionais e da lei que as rege."(SCRUTON, 2016, p. 163)

A busca por relações de cunho cooperativo universalizada é um dos maiores legados que o mundo contemporâneo tem construído, no entanto, a negação dos limites que tais aspirações possuem tenderão a alavancar cada vez mais os problemas elementares que têm emergido nos últimos séculos e, dentre eles, a forte ascensão de um novo tribalismo como uma resposta radical e até mesmo perigosa às crises atuais. Tal elemento demonstra o fracasso do empreendimento ocidental em tentar estabelecer seu projeto de universalização cultural (HUNTINGTON, 1997).

Por fim, entende-se que o ponto basilar no entendimento do surgimento de narrativas políticas tão atípicas e marginalizadas ganharem tamanha expressão no debate público, se trata de um fenômeno muito mais extenso e problemático do que aparenta ser. A ascensão da Alt-Right e dos novos tribalismos contemporâneos, é a inevitável consequência de uma crise de identidade que não consegue encontrar nas promessas cosmopolitas um elemento de sustentação civilizacional, de tal maneira que até os mais primitivos dos discursos se torna uma alternativa atraente na busca pela movimentação das massas, explicando não apenas o surgimento energético do movimento norte-americano, mas toda a onda identitária e nacionalista que tem ganhado voz nos últimos anos.

Victor Oliveira da é estudante de Relações Internacionais

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