Esse texto seria uma resposta, mas tomou vida própria
Sobre a campanha, vi que a agencia responsável é muito pequena. Focada exclusivamente em growth marketing. Ou seja, essas propagandas em midias socias que buscam exclusivamente o engajamento. Acho estranho dar tanto dinheiro para uma empresa pequena como essa. Na página deles não tem nenhum grande case.
Tiveram habilidade em recrutar personalidades bastante conhecidas para essa tarefa. Tata Werneck é um fenômeno. Eu pouco a conheço, mas parece que ela é atriz, apresentadora, humorista etc. Nas midias sociais são poucos brasileiros que chegam perto do sucesso que ela faz. Principalmente em engajamento, as pessoas respondem ao que ela fala, repercute. E isso é refletido nas dezenas de campanhas que ela participa. Acho que não teria escolha melhor. E o Cauã é muito conhecido também, global e tal.
Isso mostra um pouco do projeto da empresa Atlas. Eles buscam varejo. Jovens, que utilizam as redes sociais com frequência e conhecem pouco sobre Bitcoin, embora já tenham ouvido falar sobre os "lucros". Que possuem renda suficiente para uma poupança, ou titulos do governo, mas não o suficiente para se aventurar na bovespa. Por não possuir o suficiente para o longo prazo, ou não possuir conhecimento. E o melhor, quando sacam, não é um valor fora do comum. Facilita a liquidez.
Ai começa a ficar ainda mais curioso. Essa galera tem Reais, dificilmente Bitcoins. Provavelmente estariam dispostas a arriscar em algo em que não vão pesquisar o suficiente sobre a mecanica e planejamento de uma empresa. Nunca leram um balanço ou esmiuçaram um código no github. Já que tem o endorsement de pessoas muito conhecidas, tem sede, tem milhares de empregados, tem investidores, tem chuva de prata E tem o Furlan.
Quando ouvi que o Furlan participaria da associação criada pela Atlas, estranhei. Depois vi que não era o Luiz Fernando Furlan da Sadia, mas o seu primo.Só que fica uma curiosidade. Por qual razão não foram atrás de corporações ou grandes investidores? Porra, o ex presidente do CADE abre qualquer porta no Brasil. Teve contato direto com os principais empresários do País. Com os principais politicos. Enfim, talvez foram, não sei.
Mas isso me fez lembrar da interessante história da familia Furlane do seu relacionamento com o cambio de moedas.
Luiz Fernando Furlan é neto do fundador da Sadia. Foi um dos responsáveis por ela se tornar uma quase gigante internacional. Trabalhou para o governo do Lula como Ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Pois bem, saiu quando a sua empresa faliu e ele teve que correr para tentar resgata-la. E faliu depois de receber seguidas injeções de dinheiro nos mesmos moldes que a JBS recebeu. Via fundos de pensão e BNDES.
Essa grana que ela havia recebido era para, também, criar uma gigante internacional. Uma estratégia parecida com a JBS. Que exportasse frango para o mundo todo. A Sadia já exportava bastante e explodiu quando criou laços com mercados que estavam em plena expansão. Russia, China, India etc. Por conta disso, tinha uma atuação pesada no cambio utilizando derivativos. Com o tempo, ela virou uma empresa de especulação, o frango era um detalhe.
A Sadia sempre foi uma empresa diferente. Utilizava os lucros da linguiça para algumas apostas e sempre foi próxima aos governos. Seu fundador chegou a ser Senador pela Arena. Fundou uma empresa de aviação para fugir dos buracos nas estradas e ganhou gordos incentivos por conta disso. A transBrasil. Fundou corretoras e investiu em outros ramos.
O pai do Luiz Fernando Furlan foi um dos primeiros a pensar mais no mercado financeiro do que na fabricação de salsichas. Nos anos 80, havia feito uma série de operações no mercado e foi repreendido pelo sogro:
Walter Fontana fizera na surdina um levantamento da compra e da venda de ações da Sadia nos últimos tempos. Osório Furlan havia realmente comprado papéis da Sadia. Mas, em vez de repassá-los para a fundação, anexara uma parte substanciosa deles ao seu portfólio.
Sem que ninguém no clã soubesse, Osório ultrapassara o teto de 10% das ações que cabiam individualmente a cada sócio controlador. Abocanhara 14% das ações e, caso seduzisse alguns familiares, mandaria na empresa. Nada mal para Osório, que fora garçom em Concórdia, a cidadezinha catarinense onde nascera a Sadia, antes de se casar com a filha mais velha de Attilio Fontana e virar diretor da empresa.
“Attilio Fontana desconfiava do mercado financeiro. Todas as vezes que um banco lhe oferecia ganhos fantasmáticos com papéis, ele dizia não. Um dos herdeiros da Sadia me contou que, certa vez, após ter recusado um investimento, Fontana reuniu os conselheiros da companhia, à época todos da família, e perguntou: “Essa empresa existe para quê?” Ele mesmo respondeu: “Para vender frango, vender peru e fazer solsicha. Se é para fazer diferente, é melhor abrir um banco. Mas não quero ter um banco, quero ter um frigorífico.””
Já nos anos 2000, a empresa continuava apostando em operações do mercado. O Consultor Malvessi fez uma pesquisa sobre a empresa e encontrou fatos curiosos
Malvessi chamou a atenção para o excesso de operações financeiras feitas pela companhia. Demonstrou em um PowerPoint que desde 1996 o lucro da Sadia vinha, em grande parte, de transações com papel, e não mais com frango e peru. O recurso às aplicações financeiras se deu quando o presidente do conselho era Luiz Fernando Furlan.
- Nessa, disse que o lucro operacional — o que vem da venda dos produtos — representava 57% dos ganhos da empresa. Os outros 43% provinham de transações financeiras.
Com essa habilidade no mercado financeiro, eles planejaram uma compra HOSTIL da Perdigão. Não conseguiram. Mas na operação o cunhado do Luiz Fernando Furlan utilizou informação de bastidores e lucrou bastante na Bovespa. Mais tarde foi acusado pela CVM por essa operação irregular a chamada inside trading. A compra acabou dando errado. Os fundos de pensão se uniram e evitaram utilizando os instrumentos do mercado.
Mesmo assim, parecia que tudo estava indo bem na Sadia. Tinha caixa, pagava gordos dividentos. Até o tombo numa aposta. Planejando comprar um outro frigorifico por alguns Bilhões, alavancaram ainda mais as operações no mercado. Principalmente no cambio, apostando numa queda do dolar.
No dia seguinte, às oito e vinte da manhã, o diretor-financeiro Adriano Ferreira entrou chorando na sala de Walter Fontana Filho. Disse-lhe para esquecer a compra da Frangosul e anunciou: havia perdido o controle das operações de câmbio e a Sadia estava com 5 bilhões de dólares a descoberto no mercado de derivativos. A empresa tinha fechado posições de câmbio a 1,60 real, apostando que o dólar não subiria. Mas, naquele dia, a moeda já havia ultrapassado 1,80 e essa diferença, pelo contrato com os bancos, tinha que ser paga em dobro.
Quebraram. Sim, uma empresa com milhares de funcionários. Escritórios. Um caixa gordo. Quebrou por apostar numa série de operações com cambio que deram MUITO errado. Tentaram ainda durante algum tempo um resgate do governo. Conseguiram um emprestimos de quase 1 bilhão do Banco do Brasil. Mas a ajuda do BNDES, que já havia ajudado a JBS, não chegou.
A vontade do governo era outra. Queriam uma fusão com a Perdigão. A Perdigão, é bom frisar, tem como principais investidores os fundos de pensão das estatais e o próprio BNDES. E assim surgiu a Brasil Foods.
A Sadia ficou com 32% da nova empresa — sendo 12% da família — contra 68% da Perdigão.
Bom, hoje a BR Foods está um pouco confusa. Mudou o conselho, mudou presidente, mudou diretoria. O Previ e outros fundos começaram a ser mais atuantes exigindo TRANSPARENCIA. Um outro frigorifico tenta uma fusão, a China não quer mais flango, o Pedro Parente chegou etc.
Não sei se existe uma relação direta entre a familia Furlan, BR Foods e a Atlas. Ou relação entre alguém que já tenha trabalhado na Sadia e a Atlas, ou com a aceleradora Wow. Ou com o fundo Tarpon. Talvez o Furlan, ex-CADE, atue como uma espécie de lobista apenas, embora seja um tento estranho que alguém com tantos anos no governo tenha se apaixonado logo pelo Bitcoin. Talvez ele tenha, assim como Satoshi, uma revolta contra o sistema bancário e os instrumentos que levaram a crise financeira.
Mas a Atlas tem uma história pra lá de estranha. Uma sede que é apenas uma caixa postal num paraiso fiscal dos EUA, mas com uma subsidiaria num mega escritório em SP. Com dinheiro para campanhas milionárias, mas sem recursos para uma auditoria. O ex mentor da aceleradora, vira diretor. Que possui um algoritimo revolucionário trabalhando em exchanges internacionais, mas só vende planos no Brasil.
É um conjunto de fatores que permitem especular os mais doidos cenários.
Fontes:
http://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-setembro-negro-da-sadia
https://www.instagram.com/tatawerneck/?hl=en
https://portaldobitcoin.com/bancos-200-mil-atlas-brigas-abcb/
https://www.istoedinheiro.com.br/noticias/financas/20061025/sadia-sem-segredos/14881
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