Olá Povo!
No último dia 02/03/2018 uma nova estação do metrô de SP foi aberta na linha 5 Lilás.
Créditos: Site Caros Amigos: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQqHVAI-snvLlTv0WZ6c_wE3HNt3CC6gTIdCAgZfljFsgQZNYuWWw
Eu acompanho estas inaugurações desde que me conheço por gente, desde pequeno meu avô e meus pais me levavam após eu insistir um pouco.
Esta linha foi projetada para conectar uma região altamente populosa (Santo Amaro e adjacências) e de carência de um transporte de massa eficiente.
Nesta figura abaixo, pode-se ver em amarelo a área recentemente aberta aos usuários e a linha tracejada sem amarelo indica a parte da linha que ainda está em obras.
Créditos: O Estado de SP
Esta inauguração me levou a refletir sobre o lado histórico desta linha e suas conseqüências ao público e a mobilidade urbana da cidade.
A Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô-SP) foi fundada em 1968 e justamente neste ano, o sistema de bondes da cidade operado pelo município através da CMTC (Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos) foi desativado para sempre. Os bondes foram bem populares no público de seu tempo desde que o primeiro veículo entrou em operação pela empresa canadense Light em meados do século XX.
O Estado de São Paulo e especialmente a cidade de São Paulo experimentaram um crescimento exponencial nos fins do século XIX e no início do século XX devido a expansão da cultura cafeeira e do crescente e pujante parque industrial na área metropolitana que mudou o panorama da cidade e da área metropolitana.
Nos anos 1920, a Light, que também era operadora dos bondes e também de energia elétrica da cidade, fez uma proposta à Prefeitura para uma mudança no transporte coletivo em São Paulo. Resumidamente, a proposta consistia em que as linhas mais centrais e com alta demanda de passageiros fossem substituídas por linhas de metrô, convertendo as linhas de bonde onde ônibus e até mesmo algumas linhas de bondes poderiam completar o sistema de transporte em linhas de média e/ou baixa demanda.
O projeto original de 1927 segue abaixo e note sob o Viaduto do Chá, uma linha de metrô.
Créditos: Amaral L.A site:
Mas como pode-se observar na seguinte foto dos anos 2000, não há nenhuma linha sob o Viaduto do Chá, conforme o projeto dos canadenses.
Créditos: Wikipedia
E por quê não há?
Após a proposta, a Light perdeu a paciência com o governo de São Paulo quanto ao transporte público. Na administração do Prefeito Prestes Maia a prefeitura rejeitou o projeto da empresa canadense, e a Light planejou entregar o sistema de bondes ao governo municipal.
Na década de 1940, a cidade já tinha bondes superlotados, o que além de dificultar o deslocamento das massas, inclusive era visto como prejuízo para a Light, pois havia o dito que os funcionários do bonde diziam quando soava o sino : “Trim, trim – Um pra Light, dois pra mim!” Ou seja, como o bonde estava superlotado, o funcionário arrecadava apenas 1/3 para a empresa e ficaria para si com o restante.
Mas o plano de Prestes Maia era voltado ao modal sob pneus pelo seu projeto “Plano de Avenidas”, que acabou por ignorar o transporte público sob trilhos.
(Vale uma observação: a cidade tinha há um bom tempo um transporte de trens de subúrbio, porém sempre houveram lacunas de atendimento em diversas regiões da cidade, pois faziam parte de um sistema muito maior em distância de transporte intermunicipal e interestadual sob trilhos).
O Plano de Avenidas foi, de certo modo, um bom plano para a urbanização da cidade. No entanto, há sempre de ressaltar a falta de intermodalidade no plano, ignorando o sistema metroferroviário.
Nos anos 1950 foram introduzidos no sistema coletivo os primeiros trólebus e com isso, a prefeitura converteu algumas linhas de bondes para o novo sistema de trólebus. Após algum tempo, bondes foram trocados por ônibus movidos à diesel e linhas foram fechadas.
Na foto a seguir é uma das linhas tradicionais de trólebus da cidade que substituiu ao menos em parte uma das linhas originais de bonde: a Cardoso de Almeida-Machado de Assis. Meu pai me conta que se lembra quando era bem pequeno e havia utilizado o bonde nesta linha.
Créditos (Pinterest, foto por Berry Blumstein)
Nos anos 1960 várias linhas foram encerrando operação e a última sobrevivente foi a linha de Santo Amaro. Esta linha foi uma das principais, não só por ser uma das mais longas, mas também uma das mais velhas. Foi fechada em 1968, no ano em que o metrô de São Paulo foi fundado, como já mencionado no início.
Mas o sistema do metrô apenas começou a operar em 1974. Fácil imaginar o quanto a dependência do transporte público foi aumentando, especialmente neste região de Santo Amaro, que também teve população crescendo vertiginosamente neste período em que foi transferido aos ônibus a demanda dos bondes de outrora.
Com esta lacuna, o governo de São Paulo teve de enfrentar esse obstáculo na mobilidade dos paulistanos com que mesmo ajudou a criar, por falta de gestão. Várias horas são gastas no deslocamento pendular das regiões da Zona Sul da cidade para o Centro.
Somente em 2002 uma primeira seção da linha 5 Lilás foi finalmente aberta entre Capão Redondo e o Largo Treze, porém apenas conectando com os trens da CPTM em Santo Amaro e desconectada fisicamente das outras linhas de metrô nesta seção, onde de certo modo, se tornou uma linha isolada. Se fisicamente elas irão se encontrar, em Santa Cruz com a linha 1 Azul em Chácara Klabin com a linha 2 Verde, nem estou contando com a quebra de bitola, e mudança de alimentação elétrica (assunto para outro tópico).
Foram 34 anos de espera após o último bonde e ainda a população da área ainda não tem como se utilizar do transporte sobre trilhos partindo de Santo Amaro e se deslocando até a região de Vila Mariana/Santa Cruz.
Em 2002 a linha ficou assim longe da rede:
Créditos: Site G1
Agora, vamos comparar a Linha 5, com a Linha 101 dos bondes, a linha de Santo Amaro (grosseiramente destacado por mim):
Créditos: Pinterest
Como indicado antes, a linha teve inaugurada algumas estações nos fins de 2017 e neste março de 2018 também. Finalmente está chegando na ponta de linha planejada originalmente e teremos a devida substituição da linha de bonde de Santo Amaro pelo metrô apenas em 2018!
Créditos: Site Metrô-CPTM
Apesar dos grandes atrasos na construção, obras com indícios de superfaturamento a população em geral terá uma opção moderna, limpa, rápida e segura de transporte, quando na sua operação plena.
É de se lamentar que não houve um melhor pensamento quanto aos bondes na cidade. Houve abandono do modal de transporte, onde ao invés de tentar segregá-lo da via ou até mesmo de melhor planejar o viário da cidade, ora em educação dos motoristas em ter de conviver com um bonde compartilhando sua rua, ora em dinamizar as linhas de bondes acompanhando as grandes avenidas ainda novas, evitando cruzamentos desnecessários, atuando como um VLT atual, ou sendo seu balão de ensaio.
Seguem algumas fotos tiradas por mim na inauguração do trecho Adolfo Pinheiro-Brooklin e da Estação Santo Amaro:
E assim continua a saga do Metrô de São Paulo. Literalmente correndo atrás do prejuízo, de anos perdidos e da falta de continuidade nos projetos ou de obras morosas e altos gastos.
Extra: Vejam uma foto da exposição dos trilhos do bonde na Estação Adolfo Pinheiro da Linha 5. Passado e presente se encontraram:
Créditos Via Trólebus:
Fontes de pesquisa:
O Estado de São Paulo: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,o-ultimo-bonde,1624060
Estações Ferroviárias de SP: http://www.estacoesferroviarias.com.br/bondes_sp/stoamaro.htm
Via Trólebus: http://viatrolebus.com.br/2015/01/o-bonde-de-santo-amaro-nosso-vlt-jogado-fora/
Parabéns, seu post foi selecionado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!
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Obrigado! @brazilians! Espero contribuir mais quanto a mobilidade urbana e sua história!
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Desde sempre ver sua paixão pelos trens e crescer com isso fermentando dentro de mim também me dá um orgulho danado ao ver posts como esses.
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Orgulho meu é poder em ir num show e dizer: Tá vendo aquela cantora? É minha irmã! ;) rsrs
Essas paixões são inexplicáveis!
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Não sabia que nosso problema de mobilidade era tão antigo, infelizmente por uma escolha errada da gestão sofremos até hoje com essa falta de mobilidade em SP.
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Um dos grandes problemas é que o planejamento/execução da rede não acompanhou o boom demográfico. Ainda penamos por más escolhas ou na hesitação destas.
Tot ziens!
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Muito legal o projeto dos anos 20 pro metrô de SP. Dizem que essa época tem similaridade com os tempos atuais onde as empresas trazem soluções revolucionárias (uber, bike sharing, airbnb, hyperloop, etc), sem muito controle do governo (tudo é novo e sem regulamentação) e com investimentos privados eventualmente especulativos (criptomoedas, ações). Valeu! Sucesso e boa sorte mais uma vez!!
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Verdade Wagner!
Gostei de sua analogia com os anos 1920. Claramente vivemos em um período de especulação como tempos atrás, vamos filosofar aqui: Será que seria a efervescência do início dos séculos? Início do século XX, e agora no início do século XXI tivemos e temos empreitadas arriscadas, como tidas adiante de seu tempo (fica uma reflexão!).
Obrigado por ter gostado!
Sorte pra nós todos, sempre!
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