Posts anteriores da série:
1 - Evidência de um limite para a vida humana
2 - A Importância da Estupidez na Investigação Científica
Olá a todos
Hoje trago um novo artigo: O Paradoxo da Dieta.
Apesar dos enormes esforços para promover o consumo de alimentos saudáveis e a crescente preocupação do público com o controlo de peso, o número de indivíduos com excesso de peso continua a aumentar. Refeições saudáveis são menos propensas a promover o aumento de peso, por isso as pessoas assumem erradamente que adicionar um alimento saudável a uma refeição, diminui seu potencial para promover o aumento de peso.
Este argumento pode ser ilustrado pela descoberta de que as pessoas tendem a acreditar que a adição de uma opção saudável a uma não saudável diminui, em vez de aumentar, o teor calórico da refeição. Isso significa que as pessoas tendem a acreditar que uma opção saudável (como por exemplo uma salada) tenha calorias negativas. O autor refere-se a essa percepção como a ilusão de calorias negativas.
O aumento da compreensão sobre o peso foi identificado como um aspecto fundamental na mudança de comportamentos destinada a reduzir o consumo excessivo. É possível então esperar que as pessoas preocupadas com o controlo do seu peso possam determinar com mais precisão o conteúdo calórico de uma refeição?
Na verdade não.
Como esta investigação irá demonstrar, não é esse o caso. A convicção de que a adição de um elemento saudável numa refeição reduz o seu potencial para promover o aumento de peso, não é atenuada entre os indivíduos preocupados com o controlo do seu peso. Na verdade, ocorre o contrário: é muito maior para esses indivíduos. Assim, indivíduos conscientes do seu peso, incluindo aqueles que estão numa dieta, são mais propensos a acreditar num paradoxo muito comum: uma refeição pode levar a uma perda de peso simplesmente adicionando um elemento saudável a essa refeição. O autor refere-se a esse fenómeno como o "paradoxo da dieta".
Com base em estudos anteriores, esta investigação argumenta que a ilusão de calorias negativas é devida a uma tendência das pessoas em categorizar alimentos como saudáveis ("virtudes") e não saudáveis ("vícios") de acordo com a classificação bom/mau.
Quando se apresenta uma refeição que combina alimentos saudáveis e não saudáveis, cria-se uma impressão geral que a combinação de virtudes/vícios é mais saudável do que somente a refeição com os vícios. Como as pessoas dependem das suas avaliações da salubridade de uma refeição para determinar seu conteúdo calórico, conclui-se erradamente que uma refeição combinando um elemento saudável e não saudável tem menos calorias do que o elemento não saudável sozinho.
Esta linha de raciocínio sugere que a ilusão de calorias negativas é mais provável de ocorrer entre indivíduos que têm uma tendência mais vincada em categorizar alimentos em virtudes e vícios.
Na experiência realizada pelo autor, indivíduos receberam quatro refeições e pediu-se para estimar o teor calórico de cada refeição. Os dados mostram que os indivíduos entrevistados acreditavam que a refeição não saudável sozinha tinha em média de 691 calorias. Logicamente, seria de esperar que a adição de outro alimento a esta refeição aumentaria seu teor de calorias.
Os dados mostram, no entanto, que a adição de um alimento saudável resultou numa diminuição significativa no teor calórico da refeição para 648 calorias. Esta diferença foi observada em todas as quatro refeições testadas, indicando a prevalência da convicção de que se pode consumir menos calorias simplesmente adicionando um elemento saudável a uma refeição.
O gráfico de barras indica as estimativas médias do teor calórico de uma refeição:
A diferença entre as avaliações da refeição não saudável sozinha (barras brancas) e a refeição não saudável combinada com um alimento saudável (barras pretas) mostra a ilusão de calorias negativas.
A adição de um alimento saudável diminuiu em média o teor calórico estimado da refeição combinada para 96 calorias para indivíduos conscientes do seu peso, mas apenas 26 calorias para aqueles menos preocupados com seu peso. O paradoxo da dieta foi observado em todas as quatro refeições testadas, dando suporte à argumentação de que os indivíduos conscientes do seu peso são mais propensos a acreditar que simplesmente adicionando opções saudáveis se pode diminuir o teor de calorias de uma refeição.
Pode-se argumentar que a ilusão de calorias negativas decorreu da crença dos participantes de que o item não saudável era entendido como sendo um pouco mais saudável (e portanto mais propenso a ter menos calorias), apenas porque estava ao lado de um alimento muito saudável. No entanto, é sabido que colocar um alimento saudável ao lado de um não-saudável, não diminui o seu conteúdo calórico. Isto sugere que o paradoxo da dieta não pode simplesmente ser atribuído a uma mudança na percepção das pessoas sobre a salubridade dos componentes individuais de uma refeição, sendo antes o resultado de uma avaliação holística de combinações de alimentos saudáveis e não saudáveis.
A descoberta de que a motivação dos indivíduos pode levar a predisposições na tomada de decisão, levanta a questão de identificar os fundamentos psicológicos desse processo. Neste contexto, pode-se argumentar que o paradoxo da dieta pode ser atribuído ao facto de os indivíduos racionalizarem as suas decisões de tal forma que aqueles mais preocupados em controlar o seu peso também são mais motivados a pensar que a combinação de um vício e uma virtude tem menos calorias.
Esta investigação mostra que concentrar-se apenas em virtudes pode implicitamente promover a crença errada de que os aspetos saudáveis da refeição podem compensar os seus aspectos não saudáveis e que uma refeição pouco saudável pode ser mais saudável e menos propensa a promover o aumento de peso simplesmente adicionando um alimento saudável.
Desta forma, focar a atenção do público sobre a quantidade de alimento consumido pode ajudar a eliminar a ilusão de calorias negativas e, por sua vez, eliminar o paradoxo da dieta.
É igualmente importante de salientar que níveis mais elevados de motivação em que falta o conhecimento correspondente, podem levar a resultados contraproducentes. Neste contexto, a política pública deve-se concentrar não apenas em incentivar os consumidores a controlar o seu peso, mas também em educá-los sobre aspectos importantes da alimentação saudável, como a diferença entre a salubridade de uma refeição e sua capacidade para promover ganho de peso, bem como a importância de monitorizar a quantidade total de alimentos consumidos.
Bibliografia:
Chernev, A., The Dieter's Paradox, Journal of Consumer Psychology (2010), doi:10.1016/j.jcps.2010.08.002
Até à próxima,
Legman