Cristãos não pagam impostos?

in sdj •  5 years ago  (edited)

Não deveriam. Mas calma, não se ofenda com a primeira frase, ainda vamos discorrer a questão.

TEXTOS PRINCIPAIS PARA ANÁLISE:

Mt 17: 24 – 27 / Mt 22: 15, 17-22 / Rm 13 / 1 Co 14:34

É com muito temor que me disponho a escrever esse artigo. Esse é um tema que vem se desenvolvendo em minha mente e coração e tenho pedido a Deus que não me encubra o seu conhecimento, pois sou falho e pecador e careço de sua misericórdia para não estar completamente cego e distante da sua Palavra.

O texto que vem a seguir não foi construído sem dor, dúvidas, tempo e muito temor. Sabendo que a Palavra como diz o Ap. Paulo a Timóteo é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra. 2 TM 16-17

Comecemos por Matheus 17. Esse talvez seja o texto principal acerca do tema. Pedro é interrogado sobra a “responsabilidade” de seu mestre quanto aos impostos. Ele diz que Cristo paga seus impostos. Imagino a cena e a expressão facial de Pedro nesse momento. Imagino também que ele deve ter ido para casa pronto a questionar a Cristo sobre o assunto. Conhecendo a Pedro como nos é apresentado nas Escrituras, ele devia estar um tanto indignado com a perguntar em si quanto desnorteado com seu conteúdo. Não acredito que sua resposta deva ter sido tão enfática e com absoluta certeza. Mas prossigamos.

Assim que Pedro chega em casa, antes que ele comentasse qualquer coisa sobre o ocorrido com alguém ou com o próprio Cristo, este o interpõe e pergunta:

Que te parece, Simão? De quem cobram os reis da terra os tributos ou os impostos? Dos seus filhos ou dos alheios?

Pedro responde:
Dos alheios.

Jesus completa:
Logo estão livres os filhos.

Agora Cristo nos apresenta o que é essencial para a abordagem do tema:
Mas, para que os não escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir e, abrindo-lhe a boca, encontrarás um estáter (moeda); toma-o e dá-o por mim e por ti.

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Moeda de ouro ou de prata usada na Grécia Antiga. No cristianismo, moeda de ouro que correspondia a 4 dracmas, usada para o pagamento de impostos.Moeda de ouro ou de prata usada na Grécia Antiga. No cristianismo, moeda de ouro que correspondia a 4 dracmas, usada para o pagamento de impostos.
estáter

Bom, esse texto seria o suficiente para fecharmos questão sobre o assunto. Mas ainda há dúvidas quanto a licitude do pagamento de impostos.
Sabemos que impostos, apesar de ser uma lei falha, não natural, ela é também antiética. Seguindo os preceitos da Lei Natural ela é uma prática criminosa, agressiva, coercitiva e não voluntária, pois se trata de roubo impetrado pelo estado.

Daí a Cesar o que é de Cesar!
Ok. O que é de Cesar?

Em Matheus 22 Cristo não está a sós com os seus e é interpelado publicamente acerca dos impostos. E o Mestre dos mestres, como todo bom mestre se sai (como diria meu pai) “pela tangente”. Cristo vinha sendo “observado" havia um bom tempo, por pregar sobre temas e assuntos que as autoridades da época não aceitavam. Já buscavam preparar armadilhas para o pegarem afirmando categoricamente algo contra os Governadores à época.

Cristo dá a resposta, que na verdade não responde à questão feita, mas que o livra de ser preso. E as pessoas ainda o admiram por isso. Essa imagem devia ter sido linda!
Pretendo discorrer melhor essa passagem mais a frente, mas responda esta pergunta? O que é de César? Antecipando a resposta: Não são os impostos! Há uma resposta e vou apresentar mais à frente no texto.

Aos que afirmavam que o que deve ser dado a César são os impostos (Mateus 22). Lembrando que Cristo não fala que deve ser dado os impostos a César, mas sim para dar a César o que é de César. Surge então o argumento da carta do Ap. Paulo aos crentes romanos, em Romanos 13.
Na carta especificamente no capítulo 13 o Apóstolo fala de Autoridades a que estamos sujeitos. É claro que Paulo está falando da Autoridade Estatal Coercitiva, e o que ele retrata ali deve ser cumprida pelos Cristãos. No entanto, a desobediência civil é descrita na Bíblia em inúmeros casos. E apresenta claramente a desobediência à Autoridade Estatal quando está se sobrepõe à Autoridade Celestial. Lembrando que estamos sujeitos a Autoridade Estatal, mas antes desta estamos sujeitos a Autoridade Celestial.
Ou seja, quando a Autoridade Estatal desobedece a LEI NATURAL esta deve ser categoricamente desobedecida. Um exemplo bíblico é a passagem da desobediência das mulheres que desobedeceram ao Faraó quando este solicitou a execução de bebês no Egito

As parteiras, porém, temeram a Deus e não fizeram como o rei do Egito lhes dissera; antes conservaram os meninos com vida.
Portanto, Deus fez bem às parteiras. E o povo se aumentou e se fortaleceu muito.

Gn 1: 17 e 20

Outro exemplo extraordinário é o de John Bunyan que foi preso por pregar:

Em 12 de novembro de 1660, Bunyan, numa franca desobediência civil tipicamente puritana, foi aprisionado por pregar, acusado de fazer reuniões sem autorização do governo e não se conformar com a obrigação de usar a liturgia da Igreja Anglicana, permanecendo doze anos na prisão de Bredford – sem nenhuma acusação formal ou sentença. Recusando sua própria liberdade, que dependia de ele parar de pregar, sua resposta foi: “Se eu for solto hoje; pregarei amanhã”.
Servos de Deus. Franklin Ferreira. 2015

Essas são pessoas que tinham em sua mente a verdadeira diferença entre Autoridade Estatal e Autoridade Celestial.

O Apóstolo fala que pagamos tributos para manter tal Autoridade, sem a qual determinadas funções, como justiça, não poderiam ser exercidas sobre nossas vidas. No entanto, temos instrumentos hoje de não necessitarmos da coerção estatal, da expropriação por tributos para que haja justiça (Posso discorrer melhor sobre Justiça Privada e Voluntária, como também em Arbitragem de Contratos em um outro artigo, se houver necessidade). Lembre-se que Paulo estava falando para os Romanos que passavam por uma perseguição religiosa, sendo acusados de ateus por não se dedicarem a religião estatal divinizada na figura do imperador. Eles não precisavam sofrer perseguição também por não pagar impostos (pois acredito que era essa a questão dos Cristãos Primitivos em Roma). Ou seja, a mensagem que Paulo queria passar era: preguem o Evangelho mesmo que isso lhes custem alguma coisa material. Se os impostos forem o preço da liberdade de se pregar o evangelho, então paguem o preço. A história vai nos mostrar que os Cristãos Romanos pagaram um preço muito mais alto do que impostos.

Discorrendo mais esse assunto. Uma questão que gostaria de levantar é: deveríamos dar mais impostos, em relação a nossa renda, do que damos como Dízimos e ofertas? Cerca de 45% da nossa propriedade nos é tomada a força todos os anos pelo Estado (e há, por incrível que pareça, cristãos defendendo esta atrocidade econômica-social e por que não religiosa) enquanto damos voluntariamente 10% do que produzimos. Vejo cristãos reclamar da devolução de 10% ao único Rei sobre nossas vidas, mas estar totalmente conformados com a expropriação (roubo) de 45% da propriedade nos dada por Deus pelo que chamamos de Mordomia Cristã.

Se pensarmos mais a fundo, tem sido roubado de Deus aquilo que Ele nos pôs como mordomos para cuidar, e estamos totalmente satisfeitos com isso! Isso deveria ser não só um absurdo para mim como também pra você.

Mas, seguindo ...

Pode ter ocorrido a você que se questionou sobre o descrito acima: Por que não devemos tomar a palavra de Paulo aos Romanos como uma regra geral para a igreja atualmente? Ótima pergunta!
Bom, pelo mesmo motivo que não tomamos as palavras de Paulo aos Coríntios quanto ao silêncio das mulheres na igreja. Paulo escreve a cada igreja algo muito singular, algo que ocorria a uma igreja, mas poderia não estar ocorrendo em outra. A mensagem de Paulo serve também para os dias atuais pois igrejas podem estar passando pelos mesmos problemas pelos quais essas igrejas passaram no passado.
Na primeira carta de Paulo aos Coríntios ele afirma que as mulheres não falem em público, não vou entrar nos detalhes aqui para que o texto não fique mais extenso do que já está ficando. Mas Paulo fala para as mulheres de Coríntio para que se abstenham de falar em público por conta de um contexto social onde as mulheres não eram bem vistas falando em público. Isso demostrava um desrespeito com a sociedade local, e para não fechar portas ao Evangelho naquela localidade era necessária essa abstinência.

A liberdade cristã tem um limitador fundamental que é o Amor. Tanto a abstinência da fala (1 Co 14:34) como o ter de pagar impostos (Mt 17:24-27) para não escandalizar outros irmãos na fé ou a sociedade em geral foram sacrifícios assimilados pelos primeiros cristãos que devemos tomar por exemplo. Eles limitaram a sua própria liberdade em detrimento da liberdade da pregação e aceitação do evangelho. No entanto, eles sabiam que não podiam se conformar ao mundo.

Devemos ter o pleno conhecimento que estamos fazendo isso para agradar o coração de Deus e não porque um legalista nos diz que é certo ou errado. Legalistas cristãos chegaram a defender a escravidão porque estava na Lei, outros defenderam o Arianismo Nazista e outros defenderam a igualdade social pela força no comunismo e socialismo, à esses deve ser pregado o verdadeiro evangelho. O evangelho que defende a Lei Natural, apresentada na Bíblia, acima das constituições nacionais.

Cristo salva uma prostituta da “Lei”. Quando estavam prontos a empregar a Lei sobre esta, Cristo sabiamente a defende sabendo da ineficiência desta lei, mas sem agredir aos opressores. Isso é interessante. Pelo contrário, o ato de Cristo muito provavelmente os levou a repensar acerca da lei que estavam defendendo.

Que sejamos como Cristo Jesus, nosso salvador e redentor o LÍDER SUPREMO de nossas vidas. Que não nos submetamos a constituições e contratos ideologizados, inverídicos e irreais e submetamos o nosso coração e vida a Lei que realmente estamos sujeitos, quando entregamos a nossa vida na mão d’Aquele que é o SOBERANO.

Respondendo aos "Cesaritos". (Mt 22:15,17-22)
Nada!
Exato. Isso é o que devemos dar a César. Nada! E ainda complemento com mais uma pergunta. Se o imposto é de César, o quanto deve ser dado a este? 10%, 20%, 85% ou 100%? Alguém pode afirmar que devemos dar na proporção do que ele nos proporciona de serviço. Faço outra pergunta. Você tem demandado esse serviço, ou este serviço lhe é imposto, como o serviço de saúde obrigatório ou a moeda estatal, também obrigatório ... entre outros?
Quando Deus nos torna mordomos d’Ele devemos ser responsáveis com o que chega e com o que sai de nossas mãos. Devemos priorizar trocas voluntárias e legítimas de compra e venda. E quando fazemos essas trocas voluntárias, nenhum ente estatal tem o direito de nos roubar parte do que definitivamente produzimos com a ajuda do Altíssimo. Devemos de fato é nos defender contra essa atrocidade.

Rousseau, idolatrado por estatistas e até muitos cristãos falava da religião estatal e previa os impostos como uma espécie de dízimo. Não caiamos nessas armadilhas.

Finalizando.

Os cristãos pagam impostos. Ponto!
Mas não porque queremos ou porque a lei humana nos diz que devemos e é “certo”. Mas única e exclusivamente para que não sejamos pedra de tropeço para os irmãos mais fracos na fé ou para os que ainda não chegaram nela. Se o custo que o mundo nos cobra pela liberdade de pregar o Evangelho é esse sacrifício, então isso nem deveria ser chamado de sacrifício.

Estejamos alertas e prontos a alertar aqueles que ainda dormem deitados em berço esplêndidos, conformados e iludidos com as mentiras e enredos nos quais foram introduzidos.

Que a paz de Cristo Jesus esteja convosco. Que o Evangelho seja pregado, e que esse evangelho nos traga um ambiente social mais livre e próspero, sabendo sempre que o nosso Reino não é desse mundo, somos cidadãos do Céus. Mas como Cristo não quis que saiamos do mundo (Jo 17:9-15), então devemos transformá-lo com a renovação do nosso entendimento, para que então algum dia experimentemos qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Rm 12:2)

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Filipe Dias é CEO do ICPL, um cristão orgulhoso do Evangelho e um pecador envergonhado. Mora no Rio de Janeiro, sua Nação, com sua linda e digníssima esposa.
Amante de Café, Livros, o Club de Regatas Vasco da Gama e Lapiseiras, nessa ordem.
Cristão Reformado Libertário Tomista-Weberiano e apesar de eventuais contradições, em processo de perfeição. É. isso mesmo, Perfeição!
Geógrafo de Formação, Economista por Ambição, Cientista Político por Atração.

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