A implantação de Agroflorestas em larga escala é um caminho inevitável. Ja existe muita produção e muita pesquisa na área, ao mesmo tempo muitas pessoas não fazem a minima idéia do que seja. Listo aqui 10 características das agroflorestas que considero principais.
1 - Biodiversidade
Podemos dizer que agrofloresta é quase o contrário da monocultura. Enquanto a monocultura se preocupa em eliminar todas as outras espécies de animal e planta para ‘não competir’ com a cultura desejada, trabalhando com a ideia de competição, a agrofloresta trabalha na implantação de uma biodiversidade cada vez maior, trabalhando com a ideia de colaboração. Mesmo que existam diversos modelos de agrofloresta, um padrão entre eles é o aumento da biodiversidade. Porém esta biodiversidade não é aleatória. Pelo contrário, a união das plantas é muito estudada, criando um sistema de apoio mútuo, onde o trabalho do homem e a aplicação de insumos diminuem consideravelmente com o tempo.
2 - Regeneração
Na maioria dos casos, esta biodiversidade toda tem que ser implantada praticamente do zero. O grande barato está em pegar áreas degradadas pela monocultura, com solo fraco e erodido, e neste local degradado pelo homem, implantar de forma inteligente um sistema agroflorestal, provando não só a capacidade produtiva do sistema, mas também a capacidade de regeneração da terra utilizando este sistema. Com a quantidade de terras degradadas, onde as monoculturas parecem mais uma hidroponia do que uma lavoura, e a produção chegando ao seu limite, a agrofloresta vem como uma solução para o meio ambiente mas também para o agricultor, que acaba desistindo de plantar e indo para cidade.
3 - Estratificação
Onde tem mais vida? Em uma plantação de soja ou em uma floresta? Onde tem mais matéria organica? Na floresta, claro. A floresta possui multi-extratos, ou seja, existem plantas, e animais, que trabalham em alturas diferentes dentro da floresta. Algumas árvores ficam acima de todas as outras, absorvem bastante energia solar, e geram muita matéria orgânica, mais abaixo vem outros estratos, com árvores menores, que absorvem mais um pouco da luz, mais abaixo vem arbustos, cada vez mais baixos. Quando chega ao solo, somente uma mínima porcentagem do sol não foi absorvida pelas plantas. Esta estratificação gera uma grande capacidade de captação do sol, e consequentemente, de geração de matéria e energia para o sistema. Em contraponto na monocultura apenas uma pequena porcentagem do sol é absorvido, e o resto acaba apenas aquecendo o solo e ajudando a matar a biodiversidade na superfície. Então, a floresta tem mais vida por que é mais eficiente na absorção da luz do sol, utilizando para isso multi-extratos. A agrofloresta segue exatamente este modelo, apenas focando em plantas alimentícias ou de uso comercial, gerando então muito mais alimento e outros produtos por metro quadrado do que uma monocultura.
4 - Poda
A poda imita um processo natural na floresta. As árvores mais altas estão sempre crescendo (absorvendo energia do sol) e deixando cair seus galhos e folhas no chão, gerando uma grossa camada de matéria orgânica muito importante para a vida. A poda na agrofloresta é uma forma de acelerar este processo, trazendo a matéria orgânica de cima para o solo, criando uma camada cada vez mais grossa de matéria orgânica no solo, fazendo desnecessário a compra constante de insumos para manter a fertilidade do solo. Outra vantagem da poda é que ao jogar a matéria de cima no solo, está também abrindo espaço para o sol, e entre outros motivos, criando um rejuvenescimento constante do sistema.
5 - Matéria Orgânica
Um dos pontos bases da agrofloresta é a criação de matéria orgânica, em grandes quantidades. Inclusive, segundo alguns, matéria orgânica nunca é demais. É esta matéria sobre o solo que vai criar o ambiente necessário para a abundância da vida. No momento da implantação, principalmente sobre solos degradados, é necessário que se traga de ‘fora’ a matéria orgânica inicial, para o preparo da terra. Porém, após instalado o sistema, a ideia é que o próprio sistema gere sua própria matéria. Existem duas formas básicas para isso: uma ja foi mostrada, e é a poda, retirando os galhos e folhas das árvores e os depositando no chão; A outra forma é a capina seletiva e o corte das plantas no corredor. Explicando melhor, ao implantar a agrofloresta, se faz uso de corredores. Nestes corredores são plantadas plantas adubadeiras, como capim elefante, pastos, pequenas leguminosas. De tempos em tempos cortam-se essas adubadeiras, e distribui-se sua matéria picada nas bordas dos corredores, onde estão plantadas as espécies de interesse comercial. Esses corredores então são como fábricas de matéria orgânica, e essa abundância de matéria orgânica é que o vai dar vida para a floresta.
6 - Produção de alimentos
Não adianta termos uma linda floresta se não tivermos uma produção de alimentos, madeiras e medicinas que gere retorno social e econômico. Note que parte de uma floresta nativa não nasce ‘sozinha’, mas também é plantada por animais, conscientemente ou não. Ao criarmos uma agrofloresta estamos selecionando espécies florestais que possuem interesse para o ser humano. A lista de espécies é gigantesca. Em uma agrofloresta de exemplo podemos ter: Eucalipto, Araucária, Mogno, Ipê, Jacarandá, Abacateiro, Palmeiras de Açaí, Coco, Pupunha, Palmito, Laranjeiras, Limoeiros, Bananeiras, Café, Cacau, Mandioca, Tomate, Couve, Rúcula, Batata, Etc. Pode ser fácil pensar que plantar tudo isso junto vai dar errado, que as plantas vão competir entre si, mas não é verdade. Se for feita da forma correta, as plantas colaboram entre si, através de diversos processos. Um deles é chamado Alelopatia:
7 - Alelopatia
Apesar do nome em sua origem sugerir uma doença, o termo hoje é usado tanto para efeitos negativos ou positivos. Uma planta produz uma certa quantidade de substâncias químicas que acaba liberando no solo. Essas substâncias podem incentivar ou inibir o crescimento de outras espécies. Em uma agrofloresta procura-se organizar as plantas para que a Alelopatia seja benéfica nos dois sentidos: Inibindo o crescimento de plantas indesejadas, e incentivando o crescimento de plantas desejadas. Como dá para imaginar, o processo é complexo, e muito dele se dá através da tentativa e erro, apesar de haver muitos estudos relacionados a isso. Na agricultura orgânica podemos ver algo parecido com as chamadas plantas companheiras, onde 2 ou mais espécies são plantadas juntas e favorecem o crescimento uma da outra, principalmente onde se cultiva por muito tempo as mesmas espécies.
8 - Auto-regulação
A parte mais trabalhosa da agrofloresta é a implantação. Além de preparar todo o terreno, é preciso também trazer insumos na medida certa, organizar o sistema e plantar cada metro quadrado. Conforme o tempo passa, este trabalho diminui, podendo chegar ao ponto da auto-regulação, onde não é mais necessária a intervenção humana para a manutenção da agrofloresta, a não ser claro para a colheita. Note que uma floresta nativa não necessita de intervenção humana para crescer. Na verdade é até bastante trabalhoso destruir uma floresta. Isso se da por que a floresta se auto-regula. Ela produz sua própria matéria orgânica, ela consegue todos os seus minerais, as planta cumprem seu ciclo completo de nascimento, crescimento, reprodução e morte. O ambiente alcança uma complexidade suficiente para não precisar mais de ajuda. Esse é um dos objetivos de uma agrofloresta, pelo menos pelo meu ponto de vista.
9 - Liberdade Econômica
Se não for economicamente viável, a agrofloresta estará fadada a se tornar apenas mais um experimento bonitinho e interessante. Mas não é o caso. Apesar de sua implantação ser mais difícil do que uma monocultura, a agrofloresta acaba trazendo ao agricultor uma independência econômica. Com o passar dos anos, o custo de manutenção cai, e o volume das colheitas aumenta. O resultado disso é óbvio, liberdade econômica no futuro. Uma agrofloresta bem feita, além de alimentar a própria família, também gera uma produção por hectare significativamente alta. Uma agrofloresta bem feita é como uma previdência privada para o agricultor, com suas árvores de madeira e colheitas anuais de frutíferas, medicinais e outras. A principal dificuldade é o financiamento inicial. Os bancos geralmente não oferecem uma linha de crédito específica (com prazo alongado), o que dificulta a adoção em larga escala. Felizmente existem muitas pessoas trabalhando para resolver este problema.
10 - Inclusão do ser humano
Você já ouviu falar em APP (Área de Preservação Permanente), APA (Área de Preservação Ambiental) Reserva Legal? No intuito de preservar o que sobrou das florestas do país criou-se leis que regulamentam estas florestas remanescentes. Claramente as leis foram feitas usando uma visão em que o ser humano não combina com a floresta, e que uma coisa é a natureza, e outra é o ser humano. Assim, sobra ao ser humano cultivar os seus pedaços de terra com grãos e bois, e deixar intocada as florestas remanescentes. Isso são chamadas muito sabiamente por Ernest Gotsch de Áreas de Exclusão Permanente, onde o ser humano é excluído permanentemente da natureza. Porém podemos ter outro ponto de vista, de o ser humano como uma grande ferramenta da natureza. Além de ser parte da natureza, o ser humano também é uma ferramenta preciosa, capaz de construir biodiversidades incríveis com seu trabalho. Assim como destruímos, também temos uma tremenda capacidade para construir. Isso é tão verdade que em algumas agroflorestas existe mais biodiversidade (mais vida) do que nas florestas nativas de sua região. O pensamento que nos exclui da natureza é falho, e provavelmente a causa de muitos males que a humanidade enfrentou até hoje. É bem provável que esta exclusão da natureza tenha ser dado por medo, mas foi um medo gerado pela ignorância, e agora esclarecidos, podemos voltar a nossa natureza e criar um mundo de abundância nunca antes visto (será o paraíso voltando?).
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