Rio de Janeiro, cartão postal mais famoso e badalado desse Brasil. Pois então, esse é o destino que a jovem protagonista, Conceição (Ceição), escolhe para fugir de uma vida sofrida e sem reais perspectivas de melhora no interior de Minas Gerais.
Quando chega na capital, pouco tempos ela é acolhida por uma simpática e amorosa família (aquela onde sempre cabe mais um na mesa) do subúrbio carioca... E em meio a esse novo cenário que ela irá encontrar a sua essência e ver o quão desafiadora a vida na cidade grande pode ser.
Em seu novo lar Conceição irá descobrir novos e vários tipos de sentimentos, dentre eles, o amor de uma verdadeira família (ainda que a mesma não compartilhe do mesmo sangue), a força de uma nova paixão e o sucesso que virá em forma de estrelado ao consagrar-se como musa do bailes funk da comunidade. Tudo isso, sem perder a pureza que lhe é costumeira... Mas ela terá que pagar um alto preço para manter-se íntegra a si mesma. Será que ela irá conseguir derrubar todos os obstáculos?
Criada por Luiz Fernando Carvalho, a mini série é focada principalmente no capricho estético de um roteiro que tem como força motora principal o comprometimento de oferecer ao público a intensa realidade de uma sociedade cercada por desigualdades, acentuada violência e depreciação recorrente de valores.
O modo como o roteiro trata de todos esses temas (que em suas vertentes singulares são bem ramificados, gerando vários sub plots na trama ao longos dos seus 8 episódios) acontece através de um cruzamento de histórias que acontecem no tempo presente. Basicamente, o plano de fundo ganha vida por causa das questões de valores éticos, morais e sociais que são apresentados a cada novo episódio.
Embora a série tenha alguns pontos falhos bem pontuais (como a falta de aprofundamento em algumas das temáticas sociais problematizadas pelo próprio roteiro), é perceptível ver o esforço em criar algo decente de ser assistido.
No elenco, nomes completamente desconhecidos. Essa foi uma decisão do próprio criador, que fez questão de que a série não tivesse nenhum rosto conhecido (principalmente nos papéis principais). A maior prova disso foi a escalação de Érika Januza (atriz que encabeça o elenco, que por sinal, faz um trabalho pra lá de competente... contando com artistas do Nós do Morro e Afroreggae), que até então, trabalhava como secretária em uma escola no interior de Minas Gerais.
A gama de personagens é muito interessante e diversificada. Todos se entendem muito bem (soa muita naturalidade na tela) e personificam bem as alegrias e tristezas de se viver em um conturbado subúrbio. Todos esses aspectos fazem com que a atenção do público seja cativada de forma gradual e sincera, garantindo o interesse pelos episódios que se seguem.
Em quesitos técnicos, destaque para a edição de cenas (sempre movimentada e de fácil conexão - geralmente direta - entre as tramas) e para a fotografia (um trabalho minucioso que tem um senso estético muito bonito na tela). Esse combo é algo que fica ainda mais estilizado com o ótimo trabalho de direção que cria toda uma atmosfera dramática condizente ao que a trama quer mostrar para o telespectador.
Suburbia é um esforço extremamente válido e muito bem produzido. Considerando o escasso material da Rede Globo apra séries / miniséries de TV, pode-se dizer que este exemplar é um dos que merece uma atenção especial não apenas por sua qualidade estética (que é algo facilmente visível), mas principalmente pela grande importância que cerca a história pela qual acabou ganhando as telas.