Escrevo esse texto é exatamente meia noite do dia 12 de junho, dia dos namorados no Brasil. Curiosamente, quem começou a tradição de comemorar esse dia em terras tupiniquins (na América se comemora em fevereiro) foi o pai do ex-prefeito de São Paulo, João Dória. Era pra ser um dia comercial. Acertou em cheio. Longe de mim ser o chato de ficar reclamando de datas especiais, são muito bacanas e necessárias para uma vida monótona, que enjoa fácil. Mas pra um solteiro essa data não significa nada.
Há pouco vimos mais um capítulo da história sendo escrito: Donald J. Trump, presidente do melhor país do mundo, se encontrou com o pior ditador do mundo atual, Kim Jong-Un. Uma esperança sendo costurada. Mais uma narrativa falecendo e um tapa na cara do palpitariado mundial. THIS IS WEST!! Sem exagero, é o encontro mais importante da história desde o encontro entre Reagan e Gorbachev, que culminou na queda do muro de Berlim e fim da URSS. Um jogo de xadrez está sendo jogado sob a nossa observação, na nossa "lifetime" (não encontro uma tradução para o termo). Que época para se estar vivo.
Na quinta-feira começa mais um mundial de futebol. O clima já mudou: a emoção toma conta, a animação chega ao nosso corpo e a espera do hexa se acende. Sem xaropismo e mimimi, a Copa do Mundo sempre foi importante para o brasileiro, é uma tradição... tradição que pretendo continuar seguindo por muitos anos.
Nasci em 98, ano em que o Brasil, sob o comando de Mário Jorge Lobo Zagallo, perdeu a final da Copa por 3x0 da França. Minha mãe conta que os fogos estavam preparados, mas o destino mudou a realidade. Tinha quatro anos em 2002, lembro vagamente da farta mesa do café da manhã e da carreata depois, em cima de um jipe e com a cara pintada. Em 2006, com 8 anos, dormi nas quartas de final, não vi o gol da França que nos tirou da Copa, mas lembro até hoje a música do Latino "Nem blablabla nem chororo, Brasil deu mole, a bola entrou". 12 anos em 2010, na abertura da Copa na escola, Mandela foi ovacionado pelos alunos, fato que iniciou um vucovuco enorme, fazendo a direção cancelar o telão e todos voltarem pra sala. Lembro-me de comemorar um gol que não foi gol naquele fatídico jogo contra a Holanda, que nos eliminou. Foi lá que iniciei minha teoria de que o uniforme azul dá azar.
A Copa de 2014 nos deixou de quatro. Tudo o que aconteceu foi usado depois como metáforas e reflexões. Foi para isso que serviu aquela derrota vergonhosa. O Brasil precisava daquela humilhação. Uns dizem que a vida imita a arte, ou que a arte imita a vida. Num país como o nosso, o futebol imita a vida, ou a vida imita o futebol. O 7 X 1 nos serviu para que pudéssemos, enquanto sociedade, descermos de um pedestal no qual nos colocamos, sem arrogância e prepotência. Deu resultado? Talvez. Vamos ver.
A Copa do Mundo é um espelho. Sobretudo para o Brasil. A seleção representa o "Homem Brasileiro". Em 2014, esse homem caiu de quatro. E em 2018? Se deixarmos de lado a prepotência, a arrogância, o valor da imagem, do dinheiro e nos preocuparmos com, como dizia Nelson Rodrigues, os valores gratuitos (isso é honra, dignidade, amor a camisa, etc), quem sabe o destino nos reserva bons momentos. Lembro ao brasileiro: a Copa é o espelho, os valores gratuitos não devem ser mostrados apenas pelos jogadores, mas por nós. Quem sabe assim, o "Homem Brasileiro" (com H maiúsculo) se levantará glorioso, na conquista de uma sexta estrela, para o orgulho de uma nação maltratada. A máxima de Nelson, entretanto, ainda vale como aviso:
"Amigos. No dia em que deixarmos de prezar os valores gratuitos, vamos cair todos de quatro, todos."
Levantaremos?