Olá comunidade da steemit.
Vou fazer o meu primeiro artigo na steemit sobre uma experiência que tive recentemente e que está exercendo um grande impacto na minha vida, um retiro de meditação. E através do compartilhamento da minha experiência espero motivar mais pessoas a fazerem o mesmo. Afinal, estamos em um tempo onde a busca pela espiritualidade está crescendo cada vez mais.
Como funciona um retiro?
O retiro que participei foi realizado em Curitiba - PR organizado pelo centro Vipassana da cidade, eles são organizados pelos alunos antigos, ou seja, alunos que já participaram "sentados" de outros retiros agora se voluntariam para servir.
O retiro é 100% gratuito. Isso é feito para permitir que todos possam participar, independentemente de classe social. No final do curso os alunos podem doar. Portanto o movimento ainda está vivo até hoje pois as pessoas que participam do retiro veem valor naquilo e doam para que mais pessoas possam se beneficiar da experiência.
O retiro tem uma rotina bem definida, são 10 horas de meditação por dia, durante 10 dias, com intervalos para café da manhã, almoço e lanche da tarde.
->Acordávamos às 4:00h da madrugada com o toque do sino, e o último sino era tocado às 22h para o apagar das luzes.
->Não podíamos nos comunicar, nem uma palavra, durante os dez dias, exceto para nos comunicarmos com os professores durante 5 minutos por dia.
->As meditações podiam ser feitas na sala de meditação ou, em alguns horários, em nossos quartos.
->O objetivo do curso é ensinar a meditação Vipassana, da maneira original como buddha ensinou e como o Sr. S.N. Goenka vem ensinando.
Quando se fala em 10 dias de meditação, a primeira reação da maioria das pessoas é "você é doido, não aguento nem 5 minutos vou aguentar 10 dias". Mas, acredite ou não, o curso é projetado para ensinar meditação desde os primeiros passos até o último, tenha você já meditado alguma vez na vida ou não. Dez dias são ótimos para aprender a técnica por inteiro e ainda pegar no ritmo para quando voltar para o dia a dia ter energia para manter a prática com disciplina.
-> No retiro, éramos tratados da melhor forma possível, os alunos antigos eram os assistentes que cuidavam de tudo para que pudéssemos meditar com a maior tranquilidade possível. Eles preparavam as refeições com um carinho muito grande (diria que a parte mais gostosa do dia haha)
Como foi a experiência:
O primeiro dia foi para mim o mais difícil, após começar o nobre silêncio você está lá, sozinho com sua mente a mil ainda da viajem longa e de toda conversa acumulada, todas as preocupações do dia a dia à flor da pele. Toda hora vinha a vontade de dar uma olhada no celular, conversar com alguém no whats app, fazer alguma coisa que ficou pendente... Aí você se lembra que ficará por lá por mais dez dias e aos poucos vai se acostumando com a ideia. Isso faz parte do retiro, para uma boa meditação é importante ter uma mente tranquila.
As primeiras meditações também foram as mais complicadas, a cada 5 minutos eu mudava de posição, os 4 primeiros dias testaram minha criatividade de diversas formas, testei infinitas formas de sentar, com travesseiro, cobertor, almofadas, dobradas ou enrolada, de joelhos ou pernas cruzadas... E ainda mais para mim que trabalho o dia inteiro sentado mas com uma postura péssima... Bastavam 5 minutos de coluna ereta e a ardência começava.
No primeiro dia fomos ensinados a observar a respiração entrando e saindo pelas narinas, somente observar o sentido do ar (entrando, saindo, entrando, saindo). No segundo, com a mente mais tranquila e afiada começamos a procurar sentir o ar tocando o nariz nas regiões internas das narinas, na entrada, e no lábio superior. No terceiro, o professor pede para que comecemos a observar as sensações nesta parte do rosto (calor, frio, pressão, leveza, peso, contração, expansão, tensão, vibração, etc). Onde agora parece não estar acontecendo nada, conforme o tempo passa começamos a sentir diversas sensações que nem sabíamos existirem.
Essa ordem é dada pois conforme praticamos a meditação nossa mente vai ficando mais e mais afiada e sensível, no quarto dia reduzimos a área de observação para somente a parte superior do lábio, pois reduzir a área observada torna a mente mais aguçada.
No terceiro dia eu estava com tanta dor que fui me encostar na parede, mas durante o intervalo do almoço quando fui tirar dúvidas com a professora, ela me pediu para retornar para meu lugar e ficar lá... Eu saí de lá extremamente frustrado, achando que nunca ia conseguir meditar. Mas foi no quarto dia que as coisas começaram a fazer algum sentido. Até aquele momento estávamos praticando a meditação anapana, que tem como objetivo aguçar a acalmar a mente. A partir do quarto dia nos ensinaram os primeiros estágios da meditação Vipassana.
Na meditação Vipassana começamos observando o topo da cabeça, depois a nuca, o rosto, ombros e, descendo por cada parte do corpo, chegamos até os pés. Deixamos a concentração em cada parte do corpo por um tempo e sentimos as sensações que estão acontecendo alí, da mesma forma como observávamos no lábio superior.
Falar é fácil, agora fazer...
A todo momento aparece algo para te distrair, acertar a técnica é muito difícil. Mas não deveríamos esperar que fosse diferente, afinal a mente está fazendo algo que nunca fez em toda nossa vida, contrariando todo seu método de funcionamento.
Nos últimos dois dias eu estava muito mais contente, já estava conseguindo ficar uma hora inteiro sentado sem mudar de posição. Todas aquelas dores não me incomodavam mais e a vontade de levantar e me mexer estava sob controle.
Mas aí você deve estar se perguntando, o que ficar observando as sensações tem a ver? Existe toda uma explicação por trás da técnica de meditação que faz parte dos ensinamentos de buddha, explicar tudo aqui faria o texto ficar ainda maior do que já está, mas pelo menos um resumo é necessário. Existe muito conteúdo disponível na internet para quem quiser se aprofundar mais.
Mas por quê a técnica funciona?
Podemos dividir essas sensações que observamos em duas categorias, as agradáveis e as desagradáveis.
Ao sentir uma sensação desagradável, nossa mente automaticamente cria aversão àquilo, queremos que acabe, que cesse, queremos fugir. E isso nos faz sofrer. Um bom exemplo é a dor, ao ficar com as costas eretas os músculos forçam de uma maneira que não estão habituados, a mente entende aquilo como sendo errado e começa a reagir com aversão e aí aparece a dor. Por baixo da dor existe uma sensação... que é desconfortável, mas ainda assim é só uma sensação.
Com a sensação agradável é o contrário, criamos desejo, queremos que aquilo continue para sempre e quando eventualmente acaba ficamos muito tristes, queremos aquilo de volta, e sofremos. Igual quando entramos em um banho quente e a água de repente vem gelada. Não há nada de errado com a água gelada, seu corpo aguenta, mas você queria tanto o conforto da água quente que aquela água gelada parede vir de uma geleira e trincar seu ossos. Como a água do mar, depois de um tempinho acostuma e nos sentimos extremamente confortáveis lá dentro, apesar do arrepio quando a água bateu pela primeira vez nos pés.
Além disso, temos que perceber 3 características básicas de toda sensação:
- São impermanetes, pois elas começam e terminam
- São insatisfatórias, pois independentemente da sensação que sentimos, devemos estar conscientes de que aquilo é uma reação da mente ao que está sendo sentido e não é a sensação em sí
- Não são eu, ou seja, não existe nenhuma característica que faça parte de um eu imutável e permamanente. Estamos em constante mudança, instante a instante.
Pensamento na origem do sofrimento, e com as 3 características em mente, conseguimos então criar equanimidade com as sensações. Ou seja, ficar calmos e serenos diante de qualquer sensação que aparecer.
Estes conceitos já são difíceis de serem entendidos na teoria e só passsam a fazer sentido depois de algum tempo de prática.
E afinal, o que isso mudou em minha vida?
Fiquei 10 dias somente sentado tentando observar o corpo e sem reagir... Irônico né, estamos sempre aprendendo a fazer coisas, a como reagir às coisas, e o retiro se tratou de como observar sem reagir. Agora percebo como a verdadeira característica de uma mente não é a intensidade com que ela consegue reagir às coisas, mas sim quanto ela consegue sentir sem se sentir abalada, sem perder o centro, a equanimidade.
1. Melhora nos relacionamentos:
Cheguei em casa e já ví mudanças em meus relacionamentos com as pessoas, observo muito melhor minha reação aos comentários dos outros, vejo quando seus comentários me causam sensações desagradáveis que me fariam responder de maneira inadequada, o que geraria ainda mais negatividade. Agora posso ver que essa reação é algo da minha mente, que irá passar e que não constitui a verdade do fato, somente a impressão que tive e sou capaz de tomar uma atitude mais moderada.
Ou seja, aprendi a ver as coisas com outro ponto de vista não somente horas depois quando estou remoendo algo que aconteceu, falando com um amigo sobre o ocorrido. Agora vejo antes mesmo de tomar uma atitude. Imaginem isso no seu trabalho ao lidar com os seus chefes e subordinados, imagine sempre ser capaz de falar as coisas de maneira que você não se prejudique depois.
2. Mudança de hábitos:
Cheguei do retiro e ao sentar no sofá aqueles velhos hábitos que eu tinha começam a se manifestar, um por um, numa cadeia interminável, hábitos que sabemos estarem nos causando mal e mesmo assim não temos força para mudar. Agora sabendo como eles surgiram, como se manifestam e como vão embora sou capaz de mudar qualquer hábito. Imagine agora você poder dormir todas as noites com a sensação de dever cumprido, executar todas as tarefas que planejou (e ainda mais), feliz por ter evitado aqueles velhos hábitos que te faziam perder horas do dia.
3. Aumento da concentração:
Sabendo de onde surgem as distrações, consigo notar muito rapidamente que algo está me tirando do me centro, tirando minha concentração, já observo isso e largo, voltando à minha atividade. Quanto mais ensino a mente a fazer isso mais afiada ela fica. Por exemplo, consegui escrever este artigo inteiro parando somente uma vez para fazer um lanche, antes do retiro eu teria parado no segundo parágrafo e nem teria voltado a escrever.
Gostaria de escrever mais sobre budismo, sobre minhas experiências e aprendizados, portanto comentem, apoiem, critiquem.
Sejam todos felizes
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