Certo menino, toda vez que ia à feira, intrigava-se com as duas únicas bancas de laranja que ali havia. A primeira, sempre abarrotada, com uma verdadeira multidão de compradores; a outra sempre vazia, às moscas. Uma de frente para a outra, e o contraste era impossível não se notar.
Até sua mãe sempre preferia disputar a vez na lotada banca, deixando de usufruir da possível exclusividade de compra na banca vaziinha, bem ali ao lado. Encabulado, o menino perguntava o porque da diferença, e ela meio sem saber os próprios motivos, respondia o que pensava ser a razão do dia:
— É o preço, meu filho. Ali é mais barato!
Na próxima vez, o menino atento, observou a estratégia do concorrente, que havia igualado os preços, mas, ainda assim, permanecia vazia a sua banca.
— E agora, mamãe, indagava o menino, o preço está igual!. Por que ele não vende também?!
— Ah, meu filho, essa banca tem uma decoração mais atrativa. Veja os laços de fita. Ali na outra não tem, respondeu ela.
Mais uma vez, outro dia, e lá estavam as bancas iguaizinhas, com preços exatamente alinhados, e a multidão de um lado, o ostracismo do outro.
—Mamãe, veja!, puxou à saia de sua mãe o menino, chamando a atenção para laços de fita e cores iguaizinhos das duas banquinhas. Parece até que o homem da banca vazia, vestia uma roupa mais colorida, o que não foi bem possível ao baixinho observar, pelo amontoado de gente que tapava o vendedor da outra.
A mãe, que há essas horas já começava a ficar intrigada com aquilo, e com a falta de respostas para dar ao filho, começou a se perguntar o que a levava a sempre escolher aquele empurra-empurra todo. Foi quando percebeu, que se tratava do jeito como um e outro vendedor anunciavam seu produto. Um, o que vendia mais, sempre alegre, gritava com ênfase, as qualidades de suas laranjas; o outro, apenas “laranja, laranja, laranja. Laranja boa e barata”. Pensou estar sanada definitivamente a dúvida do garoto.
Qual não foi sua surpresa na próxima ida, ao perceber que até os discursos de ambos, agora eram também iguais, mas a diferença nas vendas permanecia como antes. Olhou para o filhinho, que já se preparava para puxar a ponta de sua saia com mais uma interrogação, e meneando os ombros sinalizou um “não sei!”.
Ficaram por ali observando, intrigados, e apenas raras vendas de um lado, e produtos sendo repostos e acabando a todo momento, de outro. Os clientes, parece que autômatos, se dirigiam mecanicamente para uma, tomando o rumo contrário da outra. Demoraram-se tanto naquela observação, que o tempo passou, e a feira foi chegando ao fim, quando puderam perceber a conversa entre aqueles dois homens:
—Amigo, me desculpe, mas não entendo o que atrai tantas pessoas para a sua banca, e nada do que eu faça resulte em vendas para mim. Compramos laranjas no mesmo local, com a mesma qualidade, nossos preços são idênticos, assim como nossas bancas. Grito as palavras que você grita; enfim, tenho copiado você em tudo, e nada resolve!
O simpático vendedor, consternado, abraçou o colega, e foi lhe dizendo:
—Meu caro jovem, tenho visto o seu esforço para vender as laranjas, sem muito sucesso. Na verdade você não precisa copiar minhas estratégias para alcançar o sucesso, aliás, nem deve. O que nos diferencia, é o fato de que, as laranjas que eu vendo, antes eu as experimento. Sei o gosto que elas tem, o quanto fazem bem para a saúde da minha família, quanta alegria trazem ao rosto do meu filho, saboreá-las…, assim, quando falo delas aos clientes, estou falando de algo que é uma verdade para mim. Eu vivo as experiências de que falo.
Aquela lição, aprendida ali na feira, valeu para o menino e para a sua mãe, especialmente para ela, que começava a se atentar para a razão da pouca eficácia do que dizia: falava da graça de Deus, mas não a experimentava diariamente em sua vida; do perdão, mas não conseguia perdoar e esquecer o seu próprio passado; do amor, mas quando sentia-se ofendia, melhor momento da expressão amorosa, dava de costas, zangada...
—Experimentar as laranjas!…, saiu balbuciando ela.
O menino e as laranjas
Leia: II Coríntios 5:17; I Pedro 1:1-9; João 3:1-12; Romanos 6:23
Por Samuel Amorim Oliveira
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em 20 de novembro de 2015