Quem quer remédio?!

in cronica •  8 years ago 

Divido com vocês hoje, a história de um jovem médico, que se formando, abriu mão de tentadoras ofertas de emprego, escolhendo atuar em um longínquo povoado, abandonado; esquecido por todos, pelo amor que tinha à missão de salvar vidas.

Superados os obstáculos iniciais, da separação de seus familiares, sob intenso choro de todos, partiu aquele abnegado ser para o seu grande “Eldorado”. Queria ver mudadas, em curto espaço de tempo, todas aquelas fatídicas estatísticas da mortalidade infantil do lugarejo.

Decidira montar um hospital com tudo que tivesse de melhor: estrutura, equipamentos, medicamentos, técnicas…, e seu empenho nisso era tão grande que conseguira mobilizar a muitos, inclusive o patrocínio paterno, decisivo à concretização do sonho.

Em um inacreditável curto espaço de tempo, lá estava o hospital, construído e equipado, pronto para receber centenas de crianças e lhes salvar as vidas acometidas pelas diversas moléstias. No dia seguinte à inauguração, lá já estavam centenas de pacientes, além de vários outros, que do lado de fora olhavam desconfiados toda aquela estrutura e não acreditavam ser gratuito o tratamento ali ofertado, e precisavam disso ser convencidos.

Para lhe prestar o necessário auxílio, o médico contratou uma competente enfermeira, e toda manhã, detinha-se a examinar individualmente cada pequeno paciente que tinha ao seu cuidado, prescrevendo para cada caso as medicações, exames e tratamentos que requeria.

O desapontamento daquele jovem logo veio, ao perceber que todo o seu esforço pessoal e investimentos pareciam não dar resultados naquele lugar. Enfermidades de simples cura evoluíam para óbitos. Os medicamentos, de comprovada eficácia em qualquer outro lugar do mundo, pareciam não fazer nenhum efeito por ali. A dor a cada pequeno paciente perdido era lancinante, a expor a sua incompetência de extirpar tão simples moléstias.

Estava quase pra desistir de tudo, quando sua teimosia falou mais alto, instigando-o a observar o que acontecia naquele hospital na sua ausência. Escondeu-se e pôs-se a observar a ministração, por parte daquela famosa enfermeira contratada, dos tratamentos por ele prescritos.

Boquiaberto e incrédulo com o que via, percebeu que a senhora, jamais ministrava qualquer medicamento. Nenhum exame era realizado. Forjava a todos os resultados.

Em um salto, irritadíssimo, o médico não se conteve, exigindo daquela funcionária imediata explicação daquilo tudo que vira, e do por que não seguia às suas prescrições.

Em tom de quem muito sabe das coisas da vida, e de quem fala com um jovem sonhador, aquela senhora explicou:

  • “Sabe o que é doutor?! Aqui nesse lugar, hoje em dia, raríssimas crianças querem medicamentos e exames. Isso lhes causa dor! Espetar-lhes uma grossa agulha no braço?! Ai que dó! Medicamentos amargos?! Não!!! Prefiro amá-los! Olha doutor, eu os distraio quando eles estão com dor! Febre? Eu os abano! Pra que remédios?! Vai por mim doutor: nem fale em remédios amargos, agulhas doídas. Isso não funciona mais!!!”

Ali estava diante dele, inacreditavelmente, a razão de todo o fracasso de vários tratamentos, e até a causa do óbito de não poucas crianças! Aquela senhora havia transformado o seu hospital em um local de distração de pessoas que careciam de tratamento sério, ainda que amargo. Descobriu ainda, que havia até equipes de divertidores, grupos de cantores, abraçadores e distribuidores de carinho, enfim, a oferta de tudo o que fosse agradável aos pequenos pacientes. Menos o que lhes era vitalmente necessário para a salvação.

Fico a imaginar aquele médico e os pais das crianças vitimadas…, o desapontamento, a irritação e o turbilhão de sentimentos diante das abjetas atitudes de tão incompetente e relapsa enfermeira, que apenas deveria fazer o serviço para o qual foi contratada. Não se lembrará ela de que sua vida apenas foi salva por que algum dia, alguém a contrariou dando-lhe remédio amargo para beber?! Distração cura enfermidade mortal?!

Quanto ao hospital, sei que os óbitos cessaram-se. Pacientes começaram a ser salvos: ainda que com choro ao tomar remédios, esperneios na hora de se espetar o soro na veia, biquinhos e caretas ao se submeter a exames.

Quanto à enfermeira…, sem dúvidas responderá pelos óbitos que causou, pelas lesões que provocou… a demissão foi só o início do processo.

Nós, igreja, somos a enfermeira. Como estamos nos portando: divertindo e distraindo ou ministrando tratamento? Se o sal não salgar, o que ele estará fazendo na cozinha?!

Quem quer remédio?!
Leia: II Timóteo 4:1-3; Marcos 11:15-17; Romanos 5:5
Por Samuel Amorim Oliveira
e-mail: [email protected]
em 29 de julho de 2016
Curta: facebook.com/CadinhoDeProsa

Authors get paid when people like you upvote their post.
If you enjoyed what you read here, create your account today and start earning FREE STEEM!
Sort Order:  

Congratulations @amorimperito! You received a personal award!

Happy Birthday! - You are on the Steem blockchain for 3 years!

You can view your badges on your Steem Board and compare to others on the Steem Ranking

Vote for @Steemitboard as a witness to get one more award and increased upvotes!