Sobre os desejos da mente e as necessidades da alma.

in desejos •  6 years ago 


Esperamos ansiosos pelos momentos de realizações, pela conclusão de metas, pela formatura, pelo nascimento dos filhos, pela promoção no trabalho, aumento de salário, aposentadoria, netos, satisfação financeira... Nos perdemos realizando metas criadas pelo senso comum. Mas será que viver consiste em passar por esta Terra e cumprir tais etapas? E será que o cumprimento dessas etapas irão me trazer a satisfação que eu imagino que vão? Ou irá apenas despertar mais desejos?

Dizer que a vida acontece na própria trajetória para a realização dos sonhos não mais convence. Isso soa como se o sentido da vida estivesse condicionada pelo cumprimento de sonhos, e não o contrário. Quem é que definiu que a nossa vida funciona por etapas de realização? .

Viver com intensidade exige que não sigamos caminhos pré-estabelecidos. Viver com intensidade exige abrir caminho e descobrir o percurso a cada passo. Viver é surpreender-se com o mundo e com a gente mesmo. É descobrir algo novo a cada instante, é renovar o olhar e não rotular o que acho eu acho que já conheço. É estar aberto para ser melhor e corresponder de uma maneira sempre nova ao que o mundo me pede. É estar aberto para conhecer o meu lugar nesse mundo de forma sincera.

Rubem Alves tem uma crônica genial que traz um trecho assim: “E esta música que você está dançando? É de sua autoria? Ou é um Outro que toca, e você dança? Quem é este Outro? Lembre-se do que disse o poeta ‘Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim’. Mas, se você é isto, o intervalo, você já morreu… Acorde! Ressuscite!” Rubem Alves

Quantas vezes paramos para pensar se o caminho que determinados pra nossa vida corresponde aos verdadeiros anseios do nosso ser?



A vida está passando. E nós, de fato, sabemos para onde estamos caminhando? Nós, como humanos, estamos sempre atrás de algo não palpável. A nossa mente é orientada por metas. Mas, de fato, será que estamos chegando a algum lugar diferente do lugar que estávamos há dez anos atrás, por exemplo? Mudamos? Estamos crescendo? Quantas vezes no dia buscamos sermos melhores do que fomos ontem, de verdade? Melhores para o mundo e não apenas para nós mesmos. Desafio simples, sofrido, transformador... E quantas vezes sentimos que a realização que alcançamos ontem mudou de fato o que somos hoje?

Quantas vezes ao dia olhamos para este mundo de aparências, com um olhar afastado e desconfiado, e damos um passo atrás? Quantas pessoas buscam VERDADEIRAMENTE ser um ser humano melhor, ao invés de permanecer centrado na meta de ser um simples "melhor profissional", ou "alguém mais bem sucedido", por exemplo.

Para ser um ser humano melhor, não é necessário nos esconder atrás de religiões e crenças pessoais. A religião, quando institucionaliza a bondade, a sinceridade, a generosidade, muitas vezes, acaba deturpando a ideia que temos a respeito dessas virtudes e da importância delas pra o crescimento da humanidade, como um todo. Não é necessário pertencer a um grupo ou levantar símbolos e cartazes para ser melhor. Basta buscar ser sincero consigo mesmo. Basta olhar para os nossos defeitos, nossa arrogância, nossa soberba, nossa impaciência, nossa vaidade ou nosso egoísmo... e então nos desprender deles. Basta tornarmo-nos livres dos rótulos, da ditadura do consumo, das competições, da moda e das padronizações, e de todas as formas impostas pelo ambiente em que vivemos que acabam determinando, de certa forma, quem somos - pois nos enche de desejos, padrões, metas vazias e falsas necessidades. E para atingi-las, corremos desenfreadamente atrás de recursos financeiros e passamos várias horas por dia nos dedicando a ampliá-los.

Materialmente, a abundancia de recursos financeiros pode representar liberdade, sim.. Pode representar, inclusive, maior TEMPO LIVRE para viver uma vida mais intensa, mais significativa, mais cheia de sentido pessoal. Mas buscar a abundância de recursos para a satisfação de desejos vazios - provenientes de padrões sociais incorporados cegamente - pode ser uma prisão também. Principalmente se eu dou a isso mais importância do que tem, na prática, e se eu gasto a maior parte da vida simplesmente correndo atrás disso.
Quem somos nós diante dessa bagunça que é o nosso dia a dia correndo atrás de nossos desejos? E de onde nasceram esses desejos?

Devíamos frequentemente nos fazer a pergunta:
Qual é o meu lugar nesse mundo?
Aos desejos de quem estamos servindo? Ou, nas palavras de Rubem Alves, "Essa música que estamos dançando é de nossa autoria, ou é um outro que toca, e a gente dança?"

"O sentido da vida é estar vivo. É tão claro, tão óbvio e tão simples. Mesmo assim, todo mundo não para de correr em pânico, como se fosse necessário conseguir alguma coisa além de si próprio."
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