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Sinopse: Em Londres, um empresário dono de um restaurante chinês tenta se vingar dos terroristas que mataram sua filha. A investigação logo o leva a um jogo de gato e rato com um oficial britânico cujo passado pode esconder a identidade dos assassinos.
A temática da "busca pela vingança" sempre foi um dos plots cinematográficos mais utilizados nos filmes em qualquer lugar do mundo. O que as tornam diferentes uma da outra (separando-as assim em resultados ruins, medianos e ótimos) é justamente o foco de suas tramas e a profundidade com a qual seus personagens são tratados... Felizmente, essa tentativa do astro de ação Jackie Chan corresponde às expectativas e mostra muito serviço.
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O ponto de partida do roteiro é um ataque à bomba que tem a sua autoria reivindicada por um grupo terrorista irlandês. No meio das vítimas fatais está a filha de Quan, que por não conseguir a ajuda que julga necessária da polícia local para solucionar o caso e punir os culpados, acaba assumindo para si mesmo a responsabilidade de fazer esse trabalho.
No entanto, embarcar nessa jornada requer dele é esforço não apenas físico (principalmente considerando à sua idade) mas principalmente mental porque será preciso revisitar um passado cheio de lembranças amargas (algo com o qual ao longo dos anos ele aprendeu a lidar) e reavivar um lado dele há tempos adormecido: um agente de campo letal das forças especiais.
Inicia-se então uma trama onde o foco é muito mais complexo do que "fazer justiça com as próprias mãos", porque o roteiro além de ser eficientemente ambientado é também pautado em problemas extremamente atuais envolvendo arcos políticos (no caso, acordos de paz entre as autoridades britânicas e os separatistas norte-irlandeses) de grande importância que colocam em dúvida a lealdade de personalidades do alto escalão governamental e seus demais assessores.
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Além disso, é importante destacar que o roteiro ainda trás consigo uma carga dramática muito boa (embora esse aspecto devesse ter tido um pouco de espaço durante à construção da história) e abre portas para vários debates entre moral e ética que tem o poder de trazer e / ou inflamar ótimos discursos perante à sociedade. Um discussão sobre até onde o ser humano é capaz de ir para defender os seus próprios interesses (seja para o lado bom ou para o lado ruim).
Liderado pelo competente Jackie Chan, o filme ainda conta com Pierce Brosnan e um elenco de apoio consistente. Ambos adicionam as suas carreiras atuações sólidas (mas Chan surpreende mais por fazer um papel totalmente diferente do que já costuma fazer), e fazem isso na pele de personagens eficazes e que colocam sobre à mesa sérias complexidades inerentes aos seres humanos que surgem quando se encontram pressionados por situações que já estão fora de controle.
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Coreografado com cenas de ação instigantes (ainda que não estejam no padrão dos antigos filmes protagonizados por esse mestre das artes marciais) à base de lutas, tiros e explosões. A edição de cenas ajuda bastante nesse aspecto, já que o jogo de câmeras é bem utilizado e cria ótimas sequências com ângulos diferenciados... Inclusive, alguns deles são bem rápidos e frenéticos.
A incessante jornada pela justiça se constrói de maneira convincente (pelo menos na maior parte do tempo... porque em algumas cenas tudo se resolve "magicamente" num piscar de olhos) e desenvolve cenas críveis para que o filme ganhe fidelidade perante aos olhos do telespectador. Mas mesmo com limitações aparentes, é possível ver o velho espírito do antigo Chan ao longo das cenas mais movimentadas.
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No geral, O Estrangeiro é um suspense que alterna entre um ritmo mais acelerado e algo mais soft. Uma decisão assertiva do diretor Martin Campbell (que faz um trabalho firme e alinhado) para que à trama ganhe forma e peso para causar o impacto necessário na audiência e mesmo que as surpresas escondidas nas linhas do roteiro sejam - em sua maioria - previsíveis, ainda sim é um filme que desperta curiosidade sobre o que vem a seguir.