Os primeiros filósofos gregos, criadores do modo clássico de pensar ocidental, desenvolveram desde o início de suas reflexões um vocabulário próprio. Dentre os vários termos elaborados nestes precípuos tempos do pensamento filosófico, temos a "doxa" e a "episteme". Em poucas palavras "doxa" significa opinião, no sentido de argumento vulgar, popular, irrefletido, impulsivo, errado. E, por outro lado, "episteme" significa certeza, no sentido de argumento bem elaborado, bem pensado, analisado, correto. A realidade, a vida, é sabidamente muito complexa e apreendê-la racionalmente não é tarefa simples. Para cada fato observável podemos aludir uma série infinita de argumentos para descrevê-lo. Cada pessoa tem seus pontos de vista particulares, suas experiências particulares. Encontrar uma forma de pensar corretamente não é fácil. É claro que navegar de forma superficial durante a vida, até um animal pode fazer. No entanto, se cremos que a razão é o que nos diferencia dos animais, então nada mais óbvio do que cuidar do pensamento como se fosse algo muito valioso. Desta forma não faz sentido deixarmos de aproveitar essa nossa condição humana, e perder a oportunidade de burilar nossa razão. Essa razão os antigos denominavam de "logos", e deram-lhe enorme importância, conduzindo a humanidade para um florescimento jamais visto. Distinguir, portanto, "doxa" de "episteme" é uma tarefa cotidiana do ser humano esclarecido.
O campo de atuação da "doxa" é muito mais amplo do que a da "episteme". A inteligência para discernir entre vulgaridade e conhecimento requer um longo desenvolvimento mental. Todo homem é um animal. Todo animal esta imerso na natureza. E esta impõe leis naturais inflexíveis, de tal forma que somente um seleto grupo da espécie humana tem condições de refletir profundamente. A humanidade estratifica-se naturalmente de acordo com suas condições predisponentes para pensar com acuidade. Isto ocorreu por toda a história humana, em todos os lugares. Análogo à forma piramidal que os animais se dispõe na escala alimentar, dispõe-se os homens quanto ao uso do "logos". Talvez alguém argumente que não! Que a capacidade intelectual do ser humano é quase a mesma. Sim, a "capacidade"! Capacidade como potência não realizada! Mas são poucos que desenvolvem suas capacidades mentais. Esta claro que os seres vivos tendem a priorizar suas necessidades vitais. Por várias questões: econômicas, culturais, políticas e outras; uns dedicam mais tempo ao raciocínio, outros menos. As ideias igualitárias sempre existiram, podem ser prerrogativas importantes dentro de um contexto adequado. Mas a igualdade generalizada é um absurdo, uma pretensão dogmática, contrária a todas as evidências. O fato é que o homem tomado particularmente é absoluta e completamente diferente de qualquer outro. Em qualquer grupo numeroso de pessoas, no topo da pirâmide intelectual está a "espisteme", na base a "doxa". A "doxa" é característica da maioria. Apesar de tudo, a subida nesta pirâmide intelectual não exige uma especial condição econômicas, somente uma pequena noção "epistêmica" e uma grande dose de vontade. Por isso a filosofia destaca-se como fonte inefável de bem-aventurança. Pois consegue elevar o ser humano com um pequeno impulso intelectual, naquilo que ele tem de mais valioso: a razão. Isso se deve à predisposição à sabedoria que vive latente, em sua forma potencial, dentro do homem, pronta para ser despertada. Apesar das tentativas recorrentes das ideologias degradantes, que querem submeter o homem a um padrão dogmático de pensar, sempre há aqueles que atingem a "espiteme". E a "episteme" sendo a verdade e a certeza, estando já incubada dentro do homem, inevitavelmente eclode. A sabedoria é intrínseca ao ser humano. Faz parte de sua completude com a sabedoria da natureza. A natureza, se considerarmos um criador supremo, é divina. Se não consideramos um ser supremo, é divina por si mesma, pois é tudo que existe. A vontade no homem direciona-se para o alto, tendo o alto, sob qualquer interpretação, a razão por meio ou fim. A condição mais baixa, do ponto de vista humano, é sua condição animal instintiva. O instinto não pensa, somente age. Mas a ação, no homem, não é suficiente para sua integral realização na vida. Por isso galgar patamares rumo à "episteme" é muito importante. E isso depende muitas vezes de deixar para trás as "doxas" que adotamos sem querer.
A opinião popular é "doxa". Geralmente a opinião fácil, com grande amplitude de uso, é "doxa". Mas por que tem enorme alcance? Porque direciona-se principalmente à emoção, e a emoção é instintiva. Já nascemos com os sentidos, sentimentos e emoção plenamente desenvolvidos. Ao contrário da intelecção que necessita amadurecimento gradual. Ou seja, somos plenamente emotivos desde o nascimento, mas só potencialmente intelectuais. Como o desenvolvimento racional é custoso, forma-se automaticamente, em qualquer sociedade, uma pirâmide "espistêmica". A ciência que estuda, dentre outras coisas, o caminho ascencional à "episteme" chama-se "espistemologia". Os processos mentais, considerados de forma abstrata, dividem-se em uma inerente dicotomia: processos dedutivos e processos indutivos. Todo e qualquer processo mental é mais acentuadamente indutivo ou mais acentuadamente dedutivo. Frente a uma argumentação qualquer, o mínimo que se espera de um método espistêmico é uma análise indutiva e dedutiva da questão. Isso na prática, a grosso modo, significa que não podemos aceitar um argumento generalista sem que tenhamos uma respectiva evidência particular; nem um argumento particular que não tenha certa generalidade, pois serviria apenas àquele fato em particular e nada mais. Dois exemplos rápidos podem clarear estes conceitos. A ciência atual é dita indutiva, por quê? Porque parte sempre das experiências particulares realizadas para generalizar uma lei. Antes, é claro, propõe-se uma hipótese, que poderia ser confundida com um processo dedutivo, por partir de uma antevisão geral antes de realizar as experiências que a comprovariam. Contudo esta antevisão não é propriamente uma dedução, pois a dedução parte do geral ao particular sem a necessidade da experiência. A hipótese é uma espécie de chute a ser confirmado. Um exemplo característico de dedução são as regras matemáticas da geometria. Parte-se de postulados axiomáticos e dependendo deles, apenas deles, tidos como certos e indemonstráveis, chega-se ao uso particular de suas regras, por meio de encadeamentos lógicos. Assim por exemplo: "por um ponto no espaço passam infinitas retas". Não há como provar isto, contudo é um postulado válido.
Estes conceitos expostos acima, de forma sucinta, nos ajudarão a analisar um argumento que tenho visto propagar-se pela mídia e que me parece ser absurdo. Ouço dizer algo parecido com "Noventa por cento da riqueza do mundo está nas mãos de treze pessoas". Tanto faz a porcentagem e a quantidade de pessoas envolvidas no argumento. Não é objetivo aqui encontrar a verdade deste notável argumento. O que me interessa é analisá-lo dialeticamente, pois ele faz parte de um imaginário popular deletério. E essa corrupção lógica, característica da "doxa", deve ser combatida, assim como qualquer outra "doxa". Neste caso não é necessária muita capacitação.
Vamos iniciar identificando qual o impacto psicológico de um enunciado semelhante a este? É muito óbvio, basta sentir em si mesmo, quando ouvimos uma assertiva deste tipo, que o impacto é emocional. É uma assertiva que ao mesmo tempo causa repulsa e uma velada união entre os interlocutores. Se existem pouquíssimas pessoas que controlam todo o mundo, então pobre de nós que não fazemos parte da família destes poderosos. A comoção é imediata. É um impacto tão forte que por alguns segundos ficamos atordoados, incapazes de raciocinar. E é justamente nestes segundos que um orador experiente captura a inteligência, principalmente dos menos aptos a raciocinar, e sem dar tempo de recuperação, emenda outros e outros argumentos numa rapidez inebriante. Dessa forma o sofista vai conquistando o tempo do ouvinte para outras absurdidades num enlace sem fim. Mas o argumento é fraquíssimo. Por exemplo: como é possível alguém medir a riqueza de alguém que é muito mais rico do que quem está medindo-a? Você nunca terá acesso a informações, principalmente econômicas, das pessoas que são muitíssimas mais ricas do que você. Pelo simples fato de que quem as tem vai escondê-las a todo custo de você. Só esse questionamento, se for levado adiante já derrubaria o sofisma enunciado. O sofista poderia dizer que se fazem estimativas ou que existem órgãos públicos internacionais que declaram essa verdade. Porém todos estes argumentos que o sofista apresentaria são dedutivos, você não conseguiria, nem se quisesse, conferir os dados fornecidos. Ou será que você terá acesso algum dia a dados confiáveis sobre o patrimônio dos homens mais poderosos do mundo? Ah, mas um hacker espalhou esses dados, diria outro sofista. E você vai confiar em hacker? Você conhece esse hacker, ou poderá conhecê-lo para comprovar? O que estou querendo dizer com isso tudo é que uma informação desta magnitude - "Treze famílias controlam o mundo" - é uma informação não falseável. Não há como ter certeza da sua falsidade! Esse é o sofisma! Você lança uma ideia que não tem jeito do interlocutor provar que é falsa, apesar de que o sofista também não consegue provar que é verdadeira. A intenção não é provar nem racionalizar nada, a intenção é atingir prontamente a emoção. Um argumento não falseável é do tipo: "Se Papai Noel não existe prova pra mim que ele não existe!". É impossível provar que Papai Noel não existe, da mesma forma que é impossível provar que o coelhinho da páscoa não existe. Não há como provar que algo não existe. Só há formas de provar que algo existe se você mostra evidências absolutamente lógicas, no caso especulativo, ou evidências concretas. No contra-argumento que eu estava usando também não consigo provar que não existem as "Treze pessoas que mandam no mundo", pois me faltam evidências concretas ou evidências absolutamente lógicas. O máximo que posso demonstrar são evidências quase absolutamente lógicas, batizadas de bom senso. Porém sabemos que nem todo mundo tem bom senso. Entretanto posso ao invés de provar o argumento, desmascarar o sofista evidenciando suas intenções. E por fim posso derrubar todo o argumento refutando não o seu conteúdo, mas a direção que esse tipo de argumentação leva - no melhor dos casos ao "nadismo". O que temos até agora é que o argumento não é falseável. Temos também que o objetivo da assertiva é despertar a emoção e não a razão, que é uma característica da "doxa". Voltaremos adiante com este argumento, mas antes vamos raciocinar sobre filosofia versus ideologia.
Aristóteles algumas vezes baseava seus argumentos nas suas célebres quatro causas. Dizia que tudo que é possível de existir possui quatro causas: a causa material, a causa formal, a causa eficiente e a causa final. Quais são as causas de uma cadeira, por exemplo? A causa material da cadeira é a madeira, sua causa formal é o formato do objeto, a causa eficiente é o artesão que fez a cadeira e a causa final o sentar-se nela. Podemos estender estas causas a argumentos com o intuito de estabelecer uma forma de raciocinar dialeticamente. Essa adaptação é meramente uma ferramenta de raciocínio. Poderíamos utilizar outras, como por exemplo a decadialética ou a pentadialética, que se firmam em outros conceitos. O que nos importa aqui é saber que dialética é um meio de raciocinar. Existem muitas dialéticas, mas todas elas precisam de um rigor lógico, sem o qual não seria dialética e sim diálogo sofístico. Hegel definiu uma dialética que ficou famosa e que se baseava nos conceitos de tese, antítese e síntese. Essa dialética permitiu, aos seus adeptos, uma dialética predominantemente materialista. Comte posteriormente, sob a atmosfera de uma sociedade saturada de dialética Hegeliana, desenvolveu um método positivo. O positivismo é eminentemente materialista e preconiza um progresso material através da ciência em todas as áreas. Já vimos que o exercício do raciocínio depende de várias predisposições, inclusive, mas não necessariamente, econômicas. Sabemos que mesmo o mais ignorante ser humano quer subir economicamente independente de qualquer outra coisa. E luta para isso. Dependendo de alguns fatores, consegue. À medida que sobe financeiramente depara-se com uma camada cultural um pouco diferente. Uma característica da ignorância é entender somente o superficial, o aparente, o material. Para se socializar nessa nova camada o ignorante resoluto, aquele que recusa o melhoramento intelectual, que deseja luxúria ao invés de sofisticação, que vê no mundo somente um mundo de coisas, que não gosta de pensar, muito menos raciocinar, que acredita na força e não no juízo, deparando-se na sua nova condição, o que faz? Macaqueia, imita, dissimula, tenta enfim aparentar cultura intelectual. Como ele é um impostor, vai propagar imposturas. Temos então aqueles que sobem na escala intelectual piramidal e outros que simulam essa subida. Evidentemente os iguais se atraem. Os impostores lançam suas imposturas intelectuais e os ignorantes as captam, por osmose, sem esforço, essa pseudo-intelectualidade. E nas baixas camadas mentais ocorre um frenesi de imitação das imposturas pseudo-intelectuais. Então espalham-se sentenças que mais parecem cacoetes, como esta ideia abordada dos "Treze homens mais poderosos da Terra", como se fosse a desvelação de uma grande verdade. Queria pedir desculpas ao leitor que se sinta ofendido. A burrice não é uma condição eterna, apesar de que sair dela dá muito trabalho. O inefável é que o caminho está sempre aberto. Se alguém de boa vontade se enredou nestes tipos de argumento sofísticos, eu também já cai várias vezes, não se apavore, lembre-se, o erro só continua erro enquanto não o corrigimos. O materialismo histórico é uma dialética irrompida destes intelectuais de baixo calão e que propagou-se igual fogo na palha. Justamente por ter sido desenvolvido por pseudo-intelectuais que subindo na pirâmide econômica acharam-se ter subido na pirâmide intelectual e despejaram improbidades por sobre a cabeça dos incautos, que são sempre muitos. A pseudo-dialética materialista solidificou-se, num processo de enrijecimento de ideias primárias, naquilo que podemos dizer é o caminho contrário à filosofia: a ideologia. Enquanto a filosofia busca libertar a mente do homem, a ideologia tenta prendê-la. A filosofia é um campo aberto onde aventuram-se os espíritos em busca de luz. A ideologia é um fosso granítico por onde são escoadas as mentes mais renitentes, incapazes de estudar e de elevar-se. É muito mais fácil seguir o caminho da ideologia, é só preguiçosamente e inadvertidamente saltar para dentro do fosso, sem nenhum esforço. Mas para filosofar são requeridos passos intermináveis de esforço individual, até que a mente se torne apta a voar.
Qual é a intenção de alguém que propaga o argumento de que existem "Treze (dez, onze, duas, tanto faz) homens mais ricos do mundo, que detém mais de noventa por cento (80, 50, 40, tanto faz) da riqueza do mundo, e quer manipular todo mundo, e quer sugar o sangue de todo mundo etc... etc..."? A causa final deste argumento, seguindo a dialética aristotélica, é dizer sublinarmente que você deve se revoltar. Revoltar-se contra o quê? Ou melhor, contra quem? Contra o capital, contra o capitalismo. A causa final deste argumento é a luta contra o capitalismo. Mas para quê? Para que os pobres tomem à força o capital dos ricos. Para desvirtuar a ordem natural das coisas, que é conseguir com esforço e dedicação, para conseguir na marra, pelas armas, a ferro e fogo. Afinal de contas o materialista não crê numa ordem intrínseca superior da natureza. Para o materialista não há certeza que trabalhando e sendo honesto você consegue subir na vida economicamente, já que o materialista só da importância à pirâmide econômica. E esquece as pirâmides morais, intelectuais, estéticas, artísticas, culturais, às quais ele as entrevê de forma distorcida para caber tudo dentro do monetário, do econômico. O materialista só acredita no dinheiro, no capital. Por incrível que pareça são os socialistas, comunistas, os que mais importância dão ao dinheiro, ao contrário do empresário que o ganha para favorecer a conquista de outras coisas mais importantes. Mas o comunista não, se você disser a um comunista que se ele estudar e trabalhar honestamente, isso basta, ele te cospe na cara! Ele não crê em providência, não crê numa ordem natural ou divina. Se fôssemos discorrer mais sobre a dialética materialista estaríamos perdendo tempo precioso. Sobre o socialismo, assim como sobre política, deixemos aos especialistas os estudos, pois é material contaminante, o ódio, revolta, insatisfação que propala desses meios pode prejudicar a mente sã. Basta que saibamos sentir o cheiro das mensagens incitadoras do ódio para nos afastarmos. Apenas apontemos de longe e deixemos a natureza cuidar de suas feridas.
Voltemos ao argumento titular, agora não mais analisando-o de cima para baixo, de forma dedutiva, mas sim indutivamente, apontando soluções. Quando ocorre-nos argumentos sem pé nem cabeça iguais a esse, saibamos que se trata de chamariz ou pra uma ideologia - toda ideologia é ruim - ou pra aquilo que podemos chamar de "nadismo". Como dissemos anteriormente a natureza é formada de inúmeras pirâmides, isto porque em sua essência há um direcionamento, em última análise, uma vontade. Constatamos isso pela simples contemplação de sua realidade. A natureza é encantadora em todas suas formas, desde o microcosmos ao macrocosmos. A natureza sempre caminha para uma irrelutável direção de beleza, e se pensarmos bem, de amor. O sofrimento faz parte da vida como sacrifício por esta recompensa em estar vivo e apreciar a natureza. Esse direcionamento existe de fato e podemos senti-lo e vivenciá-lo. Então caso não haja uma conotação ideológica por detrás do argumento titular, ele é no mínimo algo sem direção, ou seja, contra-natural. Por que alguém se interessaria por saber que uma dúzia de pessoas está controlando o destino do mundo? Se eu acredito que existe uma ordem natural intrínseca, isso não deveria me preocupar... o fato é que nada poderia fazer a respeito. Então, repetindo, se não existe uma intenção maligna socialista, subconsciente ou não, em repetir este argumento, ele nada mais é do que "nada". Não leva a nada, não quer dizer nada, racionalmente é nulo.
Mas afinal de contas, como reagir diante argumentos desta espécie? Existem três possibilidades. A primeira seria frear o ímpeto do propagandista. Neste caso qualquer dúvida lançada pode ajudar a ganhar tempo, como por exemplo: Ah é! Então me prova! Ou simplesmente: Duvido! Dessa forma quebra-se o encadeamento do sofista. Lembre-se, os melhores sofistas são aqueles que não param de falar, encadeando argumentos falhos e emotivos, para prender a atenção. Muita gente é sofista sem o saber. Mas não é correto deixar um sofista falar. Se ele se irritar com suas interrupções, ele perdeu! Pois mais do que ninguém o sofista argumenta não para revelar uma verdade ou buscar algum conhecimento valioso, o sofista só discursa para vencer; neste caso vencer é falar mais do que você. Ele confia em ditados pérfidos, como por exemplo: uma mentira dita mil vezes transforma-se em verdade. A vontade do sofista é ganhar sua confiança de qualquer modo, não existe verdade para ele, tudo vale. Portanto, não deixe passar nenhum argumento sem sentido. A maioria das pessoas fala porque escutou, são poucos os que refletem profundamente e estudam os tipos de argumentos. Essa é uma tendência natural. E a maioria é sofista sem o saber, e pior de tudo, propagam os piores tipos de doutrinas, baseando-se quase sempre em repetições irrefletidas. À medida que você não deixa o sofista falar, cortando-o com dúvidas, sua tagarelice tende a diminuir, em alguns casos a parar. Um sofista irritado, para não transparecer sua irritação, pode ser grosseiro ao tentar inverter as dúvidas e pedir arrogantemente que você as responda. Talvez você não esteja preparado para responde-las corretamente, pois demora um pouco o desenvolvimento da dialética verbal correta. Neste caso deixe o assunto em "aporia". Isto significa deixar em aberto. Não tente responder o que não sabe ou inventar na hora - lembre-se, sofistas são pessoas de pouca profundidade, mas espertas, ou seja, rápidas em reverter a situação. Não deixe-o retomar sua argumentação falha, insista que o assunto deve ser melhor estudado antes de discuti-lo. Outra possibilidade é transformar o assunto absurdo noutro em que tenha mais coerência, algo mais concreto. Dialogar assuntos absurdos é totalmente contra-producente. Mude de assunto. A terceira e última alternativa é apresentar completo domínio da refutação sobre o assunto. Principalmente se o interlocutor for um sofista inconsciente, mostre-lhe como se deve dialogar, com base lógica, passo a passo, com coerência. Ensine-o como se pensa. Ele vai te agradecer.
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