Há alguns anos passei por um período estranho de "não-criação", extremamente frustrante e desanimador. Me rendi ao sentimento de incapacidade, comparando minha criatividade com uma fonte que havia secado. Foi um tempo difícil, mas que me fez refletir muito sobre o processo criativo que acontece dentro de nós (ou no caso de mim, mas pode ser que sirva para você também).
Nos meses que passei isento de insights e repentes criativos, busquei entender o que acontecia na minha vida quando tinha aquela vivacidade criativa pulsando dentro de mim. Voltei aos dias que me levaram a escrever meu primeiro livro 100% autoral (chamado Semelhantemente, o qual não está mais a venda), a escrever sob demanda para outros blogs, a participar de saraus, a ser exposto na primeira mostra de Tuiteratura do Brasil e convidado para palestrar sobre literatura enxuta na Bienal do Livro de SP. O que descobri com esta viagem no tempo - tempos aparentemente bons - é que não eram tempos tão bons quanto aparentavam ser!
Problemas no trabalho, nos relacionamentos amorosos e na família, entre outros percalços, foram os denominadores comuns que emolduraram aqueles dias de intensa produção textual. Mas o que é que estes problemas tinham a ver com a capacidade criativa que portava naquela época? Não era para ser o exato oposto nesta situação? Afinal, ter uma vida tranquila deveria facilitar as coisas. Um cérebro descansado tem muito mais capacidade do que um que vive em constante stress, não é mesmo?! Mas comigo foi assim que aconteceu, e precisei entender o porquê.
A resposta estava em um controle remoto.
Certo dia, zapeando pelos canais da minha televisão, acabei parando em um canal de venda de gado. Não que eu quisesse comprar alguma vaca, mas porque a pilha do controle remoto havia falhado! Procurei pela casa por pilhas sobressalentes, porém sem êxito. Com isso, lembrei do meu avô dizendo que colocar as pilhas no congelador faz com que elas ganhem sobrevida. Porém, como sempre fui cético com esta informação, resolvi pesquisar na internet, e o que descobri foi revelador.
Sem entrar em detalhes técnicos da química envolvida no processo, as pilhas funcionam basicamente por um estranhamento entre as substâncias e metais contidos nela. Há um desequilíbrio quando os polos são unidos, o que gera a energia. Imagine uma gangorra. Se o peso em ambos os lados for igual, a gangorra não se moverá. Coloque pesos diferentes e ela se elevará. Simples assim! A geração de energia, em todos os meios, é causada por um conflito ou desnível. Nas hidrelétricas, por exemplo, temos a diferença entre a altura da queda e a turbina, o que gera o movimento utilizando a gravidade, girando uma turbina eletromagnética, que por sua vez causa a diferença entre campos magnéticos criando a eletricidade.
Uma vida linear é como a gangorra com pesos iguais, sem altos e baixos. São estes altos e baixos que nos fazem enxergar e abordar situações de maneiras diferentes, naturalmente nos levando a pensar criativamente sobre isso e aquilo.
Repare que não estou dizendo que você precisa estar mal para criar bem, tampouco que este motivo é único e imutável. O que estou querendo dizer é que o contato disruptivo com outras situações e informações ativam ligações diferentes em nossas mentes, processo vulgarmente conhecido como criatividade.
Se você está passando por um hiato criativo assim como eu passei, procure consumir informações de diversas fontes diferentes, durma do outro lado da cama, assista o canal de venda de gado (!), modifique sua rotina ou qualquer coisa que o valha. Trocar as pilhas não é difícil, basta que você seja atento e queira mudar.
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