Ensaio sobre a pureza

in namoro •  5 years ago 

Quando eu estava no hoje chamado fundamental 1, na minha época primário, eu era muito, muito cabaço. Não apenas literalmente, mas da compreensão de mundo e nas relações sociais. Já não era mais "BV" (futuramente contarei sobre meu primeiro beijo na parte 2), já tinha visto revistas de mulher pelada como retratei no meu outro texto, mas ainda assim muito atrasado, principalmente se comparado com as crianças que hoje fragam toda a malícia das letras de funk, mas até mesmo em relação aos da minha geração.

Mas antes de começar a contar o caso, vou rememorar um meme que fez muito sucesso a poucos anos atrás que tem relação com o tema. Duas adolescentes de 17 anos começam brigar por causa de namorado, uma derruba a outra no chão que levanta de jeito e grita "Já acabou Jéssica?" Relembro o meme não por ele em si, mas pelo o que a mãe de uma das garotas dizia numa entrevista:
"Mas como pode UMA CRIANÇA de 17 anos brigando por causa de namorado?"
A filha jogou um migué na mãe e essa esqueceu tudo voltando a sua certeza em estado de torpor de pensar que uma adolescente de 17 anos é tão pura das idéias como uma criança de 7, ao ponto de se utilizar ainda esse termo em destaque para se referir a ela. Parece-me um pouco da síndrome da mãe do personagem Marty McFly, que condenava sua filha jovem por estar sozinha com namorado no carro como se anestesiasse a própria memória e esquecesse de sua própria juventude / adolescência em que ela não era tão boba e fazia a mesma coisa. Não são casos isolados, a minha geração sofre muito disso, por essas que eu evitaria de comentar com um amigo que cresceu comigo o caso que contarei aqui, pra ele não vir dizer que estou sendo machista de sexualizar meninas inocentes. Mas chega de enrolação e vamos ao caso...

Como eu ia dizendo, aos 8, 9, 10 anos eu era extremamente cabaço, mais até do que os pré-acolescentes da minha turma. Na época o mais longe de conhecimento sexual que os meninos daquele colégio de freira fazia era chegar pro outro no ouvido e perguntar:
"Você sabe o que é transar? É enfiar o pinto na perereca, hihihihi..." E com as meninas no máximo um ou outro tinha dado um beijo boca (isso me lembra outra história que contarei futuramente)
Eu era romanticuzinho apaixonado por uma menina da escola e acreditava piamente que um dia namoraria com ela e viveria feliz para sempre como nos filmes Disney aonde o príncipe encontra sua princesa "e eles foram feitos um para o outro". Vivia sonhando que estava namorando ela dando beijos na boca. Hoje eu sei que com aquela postura cabácica teria sucesso zero com a menina, mesmo estando todos nós na infância ainda (afinal, como sabemos, a adolescência oficialmente começa aos 12!) Ela mesmo me provou isso depois, me colocando em sinucas de bico quando soube que eu era a fim dela (obviamente por causa dessa minha postura romanticuzinha). Mas a história de hoje não é sobre ela, mas de outra colega minha, amiga dela, a minha segunda favorita que chamarei aqui de Lisandra.

Lisandra era sem dúvida nenhuma a menina mais bela da série, isso era consensual entre todos os meus colegas. Loirinha, olhos verdes, rosto angelical talvez mais delineado do que a Gisele Bundchen. A voz dela era hipnotizadora. Batia fácil uma Cameron Diaz no filme Máskara cameron.jpg
Estudávamos num colegio de freiras, logo na entrada tinha um quadro pra atiçar ainda mais o romantismo cabácico de alguns como eu, que era um desenho de um menino dando beijo no rosto de uma menina da forma mais pura possível. Eu imaginava que eu era o menino e a menina era a Lisandra (caso é claro como uma segunda opção caso falhasse com a outra que eu queria). Mas não ia além disso, não ficava muito viajando na Lisandra só de vez em quando (provavelmente 90% dos meninos tb viajaram um pouco ou até mais nela).

Um belo dia, minha cabacisse já era conhecida pelas meninas, não me refiro aqui a virgindade tão somente, mas principalmente por minha postura de por exemplo ficar desenhando coraçõeszinhos com as iniciais minha e da menina que eu mais gostava, de quem eu não tinha ainda nem dado um beijo no rosto sequer. Sabendo disso, Lisandra me ligou!

Sim, isso mesmo, por mais estranho que isso possa ser ela descobriu meu telefone e me ligou. Porém, não foi um telefonema bem intencionado, provavelmente me ligou para fazer um bullying, um joguinho ardiloso feito por uma menina de 10 anos que a sociedade toda entende como criança, mas que ainda hoje conheço homens de 50 anos que ficariam desconsertados com esse tipo de joguinho.

Lisandra me comprimentou, e perguntou se eu queria namorar ela. Perguntou sem gaguejar sem qualquer tipo de desconforto, desculpem pela blasfêmia mas, como se aquilo de jogos de relacionamento já fosse uma situação comum, de rotina para ela. Sei que a princípio parece um pedido sincero, e eu cabaço como era diria que sim e... me ferraria.
Sim, embora não pareça, havia tanto na fala quanto no jeito de conversa dela um tom de armadilha pra fazer chacota depois. Mas, como num passe de sorte, conseguir perceber e respondi:
"Não, gostaria não".
Claro, minha paixonite romanticuzinha me ajudou soltar essa resposta, o que a primeira vista parecia um vacilo, hoje vejo com a melhor resposta possível. Mas ela não deixou barato e insistiu em tom malandro como se estivesse tranquila, à vontade e ao mesmo tempo incomodada com um simples mortal como eu negar aquela deusa grega que todos desejavam, que era como ela já se enxergava em plena consciência aos 10 anos:
"Como assim? Você não gostaria de transar com a minha BUCETINHA?"
Embora não tivesse transparecido pra ela por ter já respondido rápido, ali veio um turbilhão de pensamentos: "Como que aquela menina tão angelical já era tão maliciosa?" "Se ela estava me perguntando aquilo, quantos já tinham comido a 'bucetinha' dela?" Aliás nem devo ter usado a palavra "comido" já que só fui aprendê-la na quinta séria. "Buceta" então eu já imaginava que era vagina, mas ainda não tinha 100% de certeza. De qualquer forma a resposta dela foi um choque, metaforicamente é como se aquele quadro das crianças virasse cinzas à nova noção de mundo que eu viria ter, se tornando pra mim apenas uma romantiquisse de freiras que nunca viram alguém do sexo oposto pelado na sua frente. Minha resposta logo foi:
"Não, não tenho interesse não!"
Não foi por ter me tocado no coração ou algo no tipo, mas, como uma milagre, aquela resposta veio unicamente por eu ter percebido a malícia do joguinho da menina que queria ouvir um "eu quero" pra depois fazer piada comigo na escola. Talvez se tivesse sido a favorita eu teria sim sentido o coração partido, pra minha sorte não havia paixonite para com a Lisandra. Ela não desistiu, dessa vez em um tom de revolta vindo de uma resposta que ela jamais ouviu na vida e jamais esperaria muito menos do romanticuzinho da escola:
"Mas como assim???? Você é viado???"
Obviamente chegou num ponto que eu com 10 anos ainda não sabia lidar, a situação não saiu melhor porque tive que admitir que gostava de outra, hoje eu falaria simplesmente que há mulheres melhores do que ela. Falei que estava afim de outra e ela insistiu diabolicamente pra eu falar quem era, provavelmente pra queimar um pouco a banca contando pra ela de uma forma bem queima-filme. Depois que ela viu que não teve sucesso algum desligou. Hoje eu imagino que ela deve ter ficado puta da vida ao saber que nem tudo no universo girava em torno dela. Posteriormente, vi amigos cair em malícias parecidas com 20, 30 anos ficando arrasados sentimentalmente. Eu tive a sorte de ter crescido um pouco da minha blindagem naquele dia.

Essa história hoje se contada em um círculo de amigos ou até mesmo com pessoas mais velhas, seria visto como uma mentira blasfêmica machista que quer colocar crianças meninas como tendo mentalidade sexualizadas, algo que oficialmente não existe, portanto deixo-a apenas na internet.

PS1: Se vc entendeu a história como uma apologia à ped0filia, recomendo urgentemente fazer um curso de interpretação de texto pra depois reler o texto novamente.

PS2: Se vc entendeu a história como uma apologia à misoginia, recomendo tb o curso de interpretação de texto. Não é porque exista mulheres mal itencionadas desde infância que todas sejam assim. Na verdade conheci e conheço várias que são ótimas pessoas, inclusive quando era da dita escola.

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