Primórdios do onanismo

in pornografia •  6 years ago 

Hoje pornografia é algo acessível a qualquer um, quem não quer ver algo precisa fazer um esforço hercúleo pois a qualquer momento pula uma imagem na tela. Mas nem sempre foi assim. Nas era pré-internet, nos anos 90 e 80, para nós, era rezarmos pra aparecer alguma mulher pelada seja numa novela da Globo, seja num anúncio de uma revista tipo a da Manchete. Como consequência, a Globo e outras televisões eram bem mais desinibidas do que hoje, no carnaval a globeleza aparecia nua dançando na tela às 15:00 da tarde e minha mãe olhava aquilo com grande desconforto por eu ser criança, as vezes até mudando temporariamente de canal. Mesmo assim era meio raro de se conseguir ver algo, ainda mais sem pai e principalmente mãe por perto.

O primeiro grande impacto que tive em conseguir ver revista de mulher pelada foi aos 7 anos (sim isso mesmo, as vezes as pessoas tendem a pensar que esse tipo de curiosidade demora a acontecer, muitas vezes esquecendo da própria meninice). Um amigo meu de 6 anos conseguiu uma revista, não sei de onde (provavelmente do próprio pai), de mulheres nuas, e, embora não ouvesse nu frontal, era a nossa diversão. Sempre que eu ia na casa dele a gente parava de jogar video-game, para esperar esfriar enquanto isso íamos ver a revista. Claro que naquela idade a gente ainda nem sabia o que era masturbação ou coisa do tipo, mulher pelada era apenas uma curiosidade atiçadora.

Contudo essa alegria durou pouco, talvez um ano, não me lembro exatamente. Um belo dia o primo dele de 16 anos veio na casa dele e depois de nós 3 jogarmos um futebolzinho (nós 2 contra ele), na hora do descanso foi o momento de meu amigo lhe apresentar um segredo, a tal revista. O cara ficou louco, provavelmente ainda era virgem e ficou extasiado com aquele nosso tesouro. Nós dois achando que éramos os caras pois tínhamos em mãos aquilo que um cara 10 anos mais velho adoraria ter. Pois bem, foi meu colega guardar a revista, a gente jogar mais um futebol e depois que o primo dele foi embora, ao irmos atrás da revista pra ver mais uma vez, a maleta de James Bond que meu colega guardava ela estava vazia. O desgraçado (risos) do primo dele deixou só uma historinha infantil que tinha no final da página que meu amigo havia observado pra ele que era engraçada. Naquele momento me veio um tapa na cara da realidade. Pra mim que ainda era garoto era inconcebível a idéia de que alguém iria nos roubar algo que dávamos tanto valor depois de termos depositado nossa confiança nele. Obviamente, se ele fosse interrogado pelos adultos, iria alega que estava preservando a nossa inocência e seria aplaudido por isso, nessas horas o moralismo sexual está acima de questões éticas como trair confiança, roubo e etc.

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Depois desse episódio fiquei um bom tempo sem ter acesso a qualquer fonte pornográfica, exceto obviamente os esporádicos que citei no começo. Quando já estávamos adolescentes, eu, esse meu amigo e mais outros começamos adotar táticas pra conseguir comprar uma playboy. Nessa época, final dos anos 90, já havia internet, porém, eu não tinha e era muito precária ainda pra se conseguir ver alguma coisa. Assim sendo, a nossa tática era ir ao shopping jogar boliche e outras coisas, depois ir em uma banca que vendia as revistas e tentar comprar. Como geralmente o vendedor não vendia por sermos menores, esperávamos um adulto passar e pedíamos pra ele comprar pra gente. 90% das vezes conseguíamos de primeira. Ainda assim, particularmente, era algo precário pois a revista não era minha, embora víamos ela juntos, eu já queria ver sozinho pra me masturbar tranquilo.

Foi então nessa época que comprei uma TV depois de juntar dinheiro da mesada que descobri que passava o Cine Privê na Band. Embora 90% dos filmes fossem bem softs e que ficavam a maior parte do tempo com historinha, alguns valiam a pena de assistir tipo os da Emanuelle. Mas o mais marcante da minha adolescência nem foi o Cine Privê. Eu como era curioso pra descobrir coisas novas, logo fui adicionando na TV tudo que era canal UHF que aparecia, TV Horizonte, MTV, Rede Vida, Canal 40 (nem sabia o nome desse) e a CNT. Nessa última descobri que passava a meia noite (depois de um tempo jogaram para 2 da manhã por causa de protestos) o inicialmente chamado "Puro Êxtase" depois modificado para "Todo Êxtase". Quem era adolescente em BH no final dos 90 começo dos 2000 vai lembrar a febre que foi (eu tinha por volta de 16 anos na época).

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Provavelmente meu primeiro contato com pornografia hardcore e faziam propaganda de puteiros e boates de striptease. Hoje eu diria que mais do que a pornografia em si, o próprio contexto cultural em que o programa aparecia era o que foi mais divertido na história. Era um desafio para assistir, ficar até 2 da manhã acordado, torcendo pra que as apresentadoras participassem de alguns dos clipes e depois acordando cedo ao ir pro colégio, entre os homens, sempre conversávamos sobre o programa. Fora que era algo feito em Belo Horizonte, os locais que eles anunciavam estavam ali, bem perto de casa, as apresentadoras poderiam um dia ainda te conhecer, pelo menos torcíamos para isso.
Depois de um tempo tb o Todo Êxtase veio a acabar, primeiro jogaram pra Tv Horizonte, depois pro cabo e aí eu já não soube mais.

Quando comecei a faculdade, a busca pela pornografia já começou a ser na internet, mas a diversão mesmo de ser algo cultural meio que passou. Ainda tiveram os momentos na época frustrantes, mas que hoje eu acho engraçado, que na internet de 56kbps demorava-se um tempão pra baixar uma imagem por exemplo "lésbicas se pegam" e era na verdade um panfleto evangélico dizendo para se converter. Ou pior, baixava-se um vídeo que demorava horas pra quando assistir era um meme do Rick Roll ou um clipe de um cara tocando teclado com um máscara de lua sob o símbolo do McDonalds.

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Depois de uma temporada de xvideos já com a internet mais rápida, meio que pornografia perdeu a graça ficando apenas como uma droga, uma descarga de dopamina. Como uma história de uso de drogas que começa divertida e social mas que acaba num vício degradante e solitário, a pornografia meio que seguiu esse caminho na minha vida e por fim decidi cortar de vez. Não julgo quem ainda curte, mas hoje acho mais proveitoso buscar uma vivência sexual real do que ficar no monótono, rotineiro e adicto assistir e se masturbar.

(Disclaimer: Quero deixar claro aqui que a intenção desse artigo não é uma apologia à chamada "objetificação da mulher", mas retratar a questão da pornografia num contexto cultural, numa época em que a visão de mundo era bem diferente da atual).

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