Meu livro - Capítulo II (gostaria de opiniões)

in portuguese •  7 years ago 

Olá, amigos. Tudo bem?

Na semana passada expressei a vocês o desejo de escrever um livro e postei aqui o esboço (bem inicial mesmo) de um capítulo que escrevi. Era algo totalmente experimental, meio que feito a esmo, sem grandes expectativas. Para a minha surpresa, a recepção foi extremamente positiva aqui no Steemit, o que acabou me encorajando a escrever mais.

O primeiro capítulo pode ser lido neste link: https://steemit.com/portuguese/@fabio.martins/desejo-escrever-um-livro

Segue abaixo um esboço de segundo capítulo do meu livro. Espero que vocês gostem! Aceito qualquer tipo de sugestão, orientação, análise, crítica.

Saudade

Capítulo 2

Não caminhou por muito tempo. As costas doíam, as pernas estavam frágeis e o coração apertado. Sentou-se em um banco próximo, pois não queria se afastar muito da praia que o impossibilitasse sentir o cheiro do mar e ouvir o balanço das ondas. A verdade da perda, mesmo que escancarada, ainda não lhe era palpável.

Com a cabeça vaga, pensava em tudo e nada ao mesmo tempo, meio avoado e melancólico. Divertiu-se com um cão que passava farejando tudo próximo ao banco em que estava. O afago foi bom, mas a ausência de petisco na mão impossibilitou-o de prender o animal, que animal que logo se foi em busca de comida.

Voltou a lembrar de sua juventude. Naquela época, seu ímpeto masculino ia todo vapor e não havia barreira forte o suficiente para separá-lo de Dolores. Se o fato de ter que encarar o Coronel Vicente o amedrontava, a possibilidade de não ter Dolores em sua vida assombrava-o. Estava fora de cogitação.

O que não imaginava era que Dolores também havia reparado nele de forma diferente. Não estava apaixonada, é bem verdade, mas simpatizou com seu jeito cortês e atrapalhado e não pôde deixar de prestar atenção naquele olhar que o jovem a lançou assim que se cruzaram. Imediatamente percebeu que ele a via de forma diferente.

Naquela mesma noite a garota teve um sonho em que saía de casa sem rumo. Deparou-se com a mesma esquina que o jovem lhe ofereceu abrigo contra a chuva e o aguardou lá por três dias e três noites sem dormir e sem comer. Quando suas forças iam se esvaindo, uma ave pequena com olhos tão intensos e grandes como os de uma coruja pousou em cima do parapeito e lhe disse:

  • É ele. Não se preocupe, ele não vai desistir de tê-la. O maior problema encontra-se ao seu redor.

Acordou de sobressalto, molhada de tensão e com mil pensamentos. O recado da ave era bem claro e ela logo percebeu que seu pai não permitiria o menor contato. Caberia a ela, portanto, esforçar-se para facilitar uma aproximação de Santiago sem a sombra paterna pairando sobre suas cabeças.

O relacionamento de Dolores com o pai não era muito afetuoso. Após a derrota desastrosa para as forças vigentes do Exército e 10 anos de prisão, o Coronel Vicente tentou começar do zero em sua cidade. Contudo, era impossível ir a qualquer lugar sem que os locais não o olhassem com desdém ou fizessem troça de sua história. Todos sabiam quem ele era, e as sequelas eternizadas em seu corpo durante a batalha o acompanhariam para sempre, como um estigma a ser pago pela traição.

Decidiu, então, mudar-se para outra cidade, a fim de enterrar o passado e iniciar uma nova vida. Rapidamente adaptou-se ao novo lar. Era um militar durão, que já havia passado muitos anos preso, e não precisava de regalias. Qualquer lugar com paz e o mínimo de conforto estava bom. Aproximando-se dos 40 anos e sem experiência profissional devido à sua carreira militar, contentou-se com um trabalho simples e salário honesto. Nessa época, já estava conformado em passar o resto de sua vida sozinho, mas tudo mudou ao conhecer uma mulher de aparência forte e cabelos claros.

Arlete tinha uma história trágica. Viúva por duas vezes em acidentes inusitados e sem parentes próximos mortos em outras situações, aprendeu a lidar com a dureza da vida batendo de frente com ela. Tinha dois empregos e muita determinação. Seu coração duro sofreu um baque ao conhecer aquele rapaz soturno e silencioso, mas com olhos sinceros para ela.

Quando Arlete anunciou a gravidez, pouco antes de completarem dois anos juntos, a reação dele foi imediata:

  • Casa comigo? – propôs.

A cerimônia simples ocorreu em um sábado de temperaturas altas e chuvas fortes esparsas, uma semana antes de Arlete dar à luz a Bernardo, primeiro filho do casal. Quatro anos depois, o casal recebeu a sua segunda bênção com o nascimento da pequena Dolores, com menos de três quilos e aparência frágil.
Porém, outro grande golpe ocorreu na vida do Coronel Vicente. Com a relação já desgastada devido ao temperamento difícil de ambos, Arlete decidiu romper o casamento ao descobrir o passado enterrado do marido. O que a incomodava não era a atitude dele de outrora, e sim o fato de ele ter mentido por tantos anos. Naquela casa, a mentira era inadmissível.

Desconsolado, Vicente voltou à sua cidade natal sozinho e na surdina. Recluso na casa verde, remoeu-se de angústia e saudades de seus amados. Até que, em uma grata manhã de quarta-feira, a irmã de Arlete apareceu na porta da casa com Bernardo, de quatro anos, e a recém-nascida Dolores. Arlete havia morrido de repente, após passar mal no dia anterior. Os vizinhos dizem que foi de amargura. Os filhos, agora órfãos de mãe, cresceriam com o pai.

Foi naquela mesma porta que Santiago bateu 17 anos depois para acabar com a paz do Coronel.

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Parabéns @fabio.martins
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Oi, Fábio! Estou gostando da história, o texto flui bem e fica fácil de ler. Aguardo os próximos capítulos ;)

Obrigado pelo retorno, amigo! Pode ter certeza que escreverei mais!

oi @fabio.martins! Acho que a sua historia esta indo muito bem, Eu gosto q vc descreve as cenas com um tom poeta. Eu nao sou tao boa nisso. Eu sou mais direta, elaboro a ideia de uma vez. Vc faz com q as cenas sejam bem descritas na minha mente. Eu tenho um livro pronto ja q vou comecar a publicar aqui nesse fim de semana. Estava soh vendo com alguns influenciadores se valeria a pena... Eu fiquei com medo de publicar por achar q as pessoas nao iriam ler... os capitulos sao mais longos q os seus.. aqui vc coloca um esboco... achei bem interessante... eu vou publicar meus longos capitulos e ver no q da... Sinceramente, acho q vc esta no caminho certo! Qnd vc vai publicar o terceiro capitulo?

Olá @marcelli. É muito gratificante receber críticas tão positivas, de verdade. E mesmo se não fossem, me acrescentariam muito e me ajudariam a escrever melhor. Eu também tinha o mesmo receio de você, de publicar e as pessoas não gostarem. Mas se isso acontecesse, no máximo desistiria da ideia e seguiria em frente. Publique sim, te fará bem. Estou ansioso para ler! :)

Pretendo publicar na próxima semana ou na outra.

ah que legal @fabio.martins! semana q vem vou ler de novo.. se quiser eu posso falar o q eu acho no sentido de melhorar, mas eu não quero q vc se sinta desmotivado, entende? Eu adoro qnd as pessoas apontam os erros no me texto, o que não faz sentido, mas nem todo mundo é assim, por isso é difícil já começar falando do q não gosto.. mas se vc topar, eu te falo o q eu mudaria, ou melhoraria e vc faz o mesmo com o meu livro (se vc tiver paciência de ler) :-)

Esse estilo de publicação lembra os folhetins do Império do Brasil. Uma ótima iniciativa, amigo, vou ler com bastante carinho!

Isso mesmo! Os folhetins viraram as novelas de tv. Agora, temos uma nova abordagem, mais tecnológica, porém com o mesmo modelo. Obrigado!