Dr. House e Carlo Ginzburg: Como entender "Mitos, emblemas e sinais"

in portuguese •  8 years ago  (edited)

A série House foi um grande sucesso na televisão por 10 temporadas, ainda continua atraindo um grande público através das plataformas de stream.

Como historiadora, uma das coisas que mais faço é observar os rastros da humanidade no mundo, dirá Marc Bloch que ser historiador é ser como o ogro dos contos infantis, onde há cheiro de gente, ali está o historiador procurando seus rastros.

E depois que juntamos alguns rastros, o que fazer com aquilo? Como fazer tudo isso?
Mas, a pergunta que muitos se fazem e dão diversas respostas a ela é: Como fazer? Qual é o método?

É aqui que Ginzburg entra, o historiador italiano apresenta o método indiciário como um jeito de chegar às respostas, ao grande quebra-cabeças.

É possível que existam outras pessoas falando sobre isso, está bem na cara de quem vê House e lê Ginzburg. (Ou que faça a analogia House/Holmes, o que é bem claro também.).

Pegue qualquer episódio de House e analise. Vou dar como exemplo o episódio "Let them eat cake" (Temporada 5, episódio 10).
A história começa com um comercial sobre um programa de perda de peso sendo gravado. A principal responsável pelo programa sofre de algum mal e cai.

Qual é o primeiro passo? A equipe se reúne com House e debate sobre o que poderia ser o diagnóstico.
Dentro da teoria de Ginzburg, o que eles fizeram foi ter o primeiro contato com as fontes (a paciente), e ler a fonte (seu histórico médico) e anotar as primeiras impressões sobre a fonte (o debate entre a equipe).

Com isto posto, House então determina os passos.
1 - Exames
2 - Visitar a casa da paciente para mais informações

Os exames e a visita da residência são ainda a parte em que estamos fazendo a crítica externa e mesclando com a crítica interna (alô, alô metódicos). Fazemos isso para obter mais informações sobre a fonte. Se fosse um outro documento histórico, nós iríamos querer saber: Quando foi feito, como foi feito, para quem foi feito, em que lugar. E ainda: Quais os interesses? Alguém pagou? A depender do tipo de documento: Como foi filmado? Como foi feita a escolha da paleta de cores? Existiram discussões sobre roteiro? OU se jornal: Quem é o editor? Qual é seu afinamento político? Existem debates políticos sobre o que está sendo publicado? Alguém pagou pela matéria? Em que página do jornal está publicado? Como é o tipo de impressão feito? E assim seriam por perguntas sem fim. É a parte em que a nossa fonte começa a nos dizer coisas. E que nós conseguimos analisar um pouco melhor o que ela diz.

Por fim o diagnóstico. Aqui já temos todas as perguntas feitas, se o diagnóstico for positivo, o tratamento funcionará. Mas, de repente, numa visita ao arquivo encontramos outra informação que diz que o caminho que trilhamos estava errado. Voltamos ao começo e refazemos todas as perguntas. Até que consigamos diagnosticar, criar todo o panorama daqueles rastros deixados no passado.

O livro "O queijo e os vermes" de Ginzburg mostra ele fazendo exatamente isso. Pegando a fonte - um processo - e mostrando o que está por trás de todo aquele processo, a história do moleiro que sabia ler.

Espero ter ajudado. ;)
Abraço aos navegantes.

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