Resolvi trazer um tema ao steemit que é um dos pontos principais a respeito do ceticismo e da real reflexão quanto à mente humana e suas peripécias: O pensamento mágico. Pensamento este que é um padrão comportamental, certamente muito mais inerente ao homem do que a ideia de contestar e refutar qualquer mitologia ou crença. Buscarei abranger o tema baseado no que de fato já foi alcançado pela ciência e com ênfase na visão da Psicologia, que ainda é, o que tem se de melhor para estudar a consciência. Talvez possamos considerar o pensamento mágico como porta de entrada para toda e qualquer concepção religiosa e esotérica. Quando se pensa racionalmente na ideia de crenças baseadas em paradigmas não palpáveis, ou melhor, não comprováveis, queira ou não, são estas baseadas no pensamento mágico.
Como exemplo de pensamentos mágicos e respectivamente a negação de provas refutativas temos os “crop circles” e seus designers (os circlemakers:
Mas poderia expandir para o mito do veganismo ser a melhor opção em termos de saúde biológica humana, a hipótese de existirem seres elementais como gnomos e ninfas da água, e assim por diante. Não pretendo me ater a criticar específica crença ou visão de mundo, mas sim sobrepairar e buscar compreender a relação do homem e sua dependência por uma visão fantástica do mundo, não de forma útil na literatura ou nas artes, não como um faz de conta muito importante na infância humana, mas sim como uma fé cega nas mais variadas crenças e situações. E para isso, podemos nos ater a simples fenômenos comuns do cérebro como por exemplo o devaneio.
Quando observamos o comportamento natural do homem de entrar em estados de devaneios fica claro a facilidade com que se pode acrescentar significados a estes, principalmente quando já se vive em uma sociedade enredada em mitologias próprias. Ao inserir um indivíduo num paradigma já consolidado por um grupo e instrui-lo em como experimentar este paradigma, naturalmente se obtém um resultado esperado pelos que já vivenciam esta realidade. Não só pelas questões abordadas na psicologia comportamental e das massas, e nas molduras do estudo da conformidade social, onde mostra-se que o indivíduo tende consciente ou inconscientemente repetir comportamentos para não se sentir errado ou deslocado de seu grupo, mas também por influências diretas (sejam estas conscientes ou não) dos já membros de determinada cultura ou linha de pensamento. Estes por sua vez verdadeiros crentes de suas vivências, não percebem estarem apenas cumprindo uma programação esperada e já firmada, estruturada de uma doutrina ou de um pensamento. Muitas vezes utilizando-se inconscientemente de técnicas de hipnose, leitura fria, técnicas de controle e até mesmo falácias clássicas.
De forma simplificada pode-se dizer que o devaneio nada mais é que um sistema automático do cérebro de criação de imagens e situações. Estes podem ocorrer tanto durante a vigília física ordinária, quanto durante estados de meditação, relaxamento, sono e sonho. Algumas pessoas terão maior número de devaneios e outras menor, não cabe a este artigo aprofundar-se apenas neste assunto, mas certamente é um tema relevante e deverá ser aprofundado em algum momento. Vale pensar a respeito da gênese do pensamento mágico aqui: Quando é que se começou a supor que determinada coisa tem uma influência especificamente extrafísica? O pensamento ainda imaturo e não formatado de uma tribo de pré-humanos há milhares de anos atrás pode ter visto o ruído dos trovões como o primeiro sinal de alguma divindade, como sugeriu Giambattista Vico (1668-1744).
Mas ainda assim estamos falando de um pensamento bastante livre, uma concepção surreal de um suposto ser jamais estudado que pode ou não dominar os céus. Porém passado os primórdios da cultura social e religiosa que, queira ou não se baseou inicialmente em alguns poucos homens (cada qual de sua cultura e continente), como veria hoje um homem, o mundo que o rodeia se este fosse isento de influencias religiosas, espirituais e esotéricas? Se estivesse limpo de qualquer cultura? Certamente é um experimento praticamente inviável, já que para tornar-se isento completamente de qualquer influência religiosa, ou teria que viver sozinho ou então viver em uma sociedade que também jamais se baseou em cultura religiosa. Cabe aqui reforçar mais um ponto positivo da hipótese de matrix, onde, a melhor forma de se estudar a evolução dos conceitos espirituais de uma sociedade, seria vê-la de fora, formando-se ao longo dos séculos, dentro de um “aquário”, analisando passo a passo do modo como um ser humano alcança seus mais altos níveis de cognição a respeito de determinado tema.
Porém, estamos aqui numa sociedade pronta, com conceitos religiosos bem definidos e extremamente imparciais, regras para serem seguidas. Naturalmente o devaneio advindo de uma prática de meditação que alguém pode ter lhe sugerido, irá traze ao seu foco inúmeras imagens e referências. De uma forma geral não existem regras quanto as estas imagens, mas acredito que afrente do que de fato se visualiza, importa questionar qual é o embasamento, qual é o seu arcabouço de referências e símbolos. Ou seja, quem é você? Uma cobra pode ter infinitos significados, por exemplo. Pode se dizer que a própria bíblia possui uma transcrição de um devaneio envolvendo uma serpente, mas esta está presente na relação com o homem de forma extremamente mitológica, no cerne de nossa cultura. Para um praticante de yoga, um devaneio com cobra trará possivelmente uma relação de significância a partir do conceito da Kundalini, mas para outra pessoa pode remeter à ideia de Oroboro. Quando inserido em um contexto, qualquer figura pode tomar qualquer forma. É muito fácil associar um rosto desconhecido visto durante um estado de meditação como sendo o rosto de alguém já falecido tentando contato, da mesma forma que poderia se dizer tratar-se de uma antiga identidade sua, na vida passada, ou quem sabe seja uma precognição, talvez seja você mais velho, afinal foi muito rápido e você não pode coletar detalhes suficientes para negar esta afirmação.
Muito importante é ponderar o que se espera visualizar através do devaneio, mas não só através deste mecanismo. O devaneio é inerente, mas as crenças e esperanças não dependem nem mesmo de se ver alguma coisa. Da mesma forma que inúmeros cientistas que nunca viram nenhum disco voador e consideram que 99% do que já foi exposto é falso, não descartam o raciocínio lógico de que matematicamente, é muito provável que exista sim vida fora da terra, tanto inteligente quanto ainda possivelmente irracional. A crença por si só é um tema vastíssimo e complexo, mas dentro do conceito do pensamento mágico podemos focar em alguns pontos que são mais importantes. Existe uma tendência do pensamento mágico em tentar provar-se real, no caso, do homem crente provar que sua crença é real, e isso advém da dissonância cognitiva, ou seja, da necessidade do homem em encontrar significado e explicação para aquilo que não compreende. Em outras palavras, uma tentativa de equilíbrio entre o pensamento rústico e mágico do ID e a ponderação e busca pela razão do Superego, nos termos utilizados por Freud para apresentar nossa estrutura de personalidade. É possível alcançar explicações para tudo, teorizar a respeito de tudo, e as vezes até mesmo provar através de pesquisas científicas, como por exemplo os estudos observacionais e epidemiológicos, que conseguem provar o que quiserem através de relações mal argumentadas, levantar hipóteses sobre qualquer coisa.
Existe a argumentação de que de uma forma generalizada o pensamento mágico é necessário paradoxalmente para manter o equilíbrio e a sanidade do ser humano, e que de uma forma geral um pensamento concretista seria tão patológico e quanto seu oposto. O que de fato é verdade. Mas acredito que já estamos evoluídos (e o mais importante, informados) o suficiente para compreender a diferença entre utilizar o pensamento mágico para desinibir a própria criatividade e a expressão intuitiva, e tornar-se escravo da ignorância levando uma vida baseada em falsas suposições e paradigmas. Ainda que muitos destes paradigmas sejam certamente superiores a um comportamento mundano e animalesco, vale a pena perceber que de forma geral, quase todos são arremedos e copias de outras linhas de conhecimento. Budismo, espiritismo, cristianismo, conscienciologia, cientologia, umbanda, todos seguem uma bússola padrão ético muito semelhante, o que muda são os detalhes, cabe ressaltar que uma pesquisa mais abrangente e detalhada a respeito das raízes da religião é fundamental para qualquer julgamento digno de atenção. Ainda não tive a oportunidade e a organização necessária para isto, de forma que não tenho o direito de supor nada quantos às religiões mães, raízes do pensamento ocidental e oriental, mas que, da mesma forma que a língua evoluiu a partir de duas famílias de linguagem, a Indo Européia e a Urálica, as religiões saíram de uma zona inicial já comentada, de uma crença generalizada em alguma força sobrenatural sem ter cognição suficiente para nomeá-la, passaram para níveis mais aprimoradas de cerimônias tribais com suas próprias mitologias até chegar nas que temos hoje.
Nesse caminho existe ainda alguns pilares já muito visitados pela filosofia. Bases da ética e da moral, são preceitos básicos de qualquer religião, mas não necessariamente vinculadas apenas a estas, de certa forma poderia se supor que primor do raciocínio, da concepção de outrem e de sua importância no mundo seja exatamente ter essa busca pelo correto e o positivo dentro de si. E isto sem depender especificamente de um paradigma ou de um cabedal de preceitos religiosos. Porém, o pensamento lógico, que ao meu ver é onde se encontra os conceitos de ética, moral e toda variedade de qualidades inerentes ao homem só tem relação com o pensamento mágico exatamente por depender de uma abstração, de prever o resultado de suas ações em relação com o próximo. Mas quando observamos o rumo natural da entrega de suas responsabilidades, a uma terceirização extremamente comum no pensamento mágico, percebe-se que a lógica e o raciocínio estão em defasagem, principalmente por que existe um foco em dourar a teoria que lhe apetece com toda a variedade de pseudociências e hipóteses não comprováveis em favorecimento do resultado esperado. O pensamento mágico tem muito a ver com a dificuldade do homem em aceitar sua possível finitude (possível, por que, da mesma forma que não podemos comprovar que existe vida após a morte, não podemos provar o contrário), tem a ver com a necessidade de se sustentar e de crer em algo, que lhe mantenha de pé, por que somos tão duais a ponto de que o cair e levantar é também natural de nosso modus operandi, não estaremos sempre prontos a enfrentar o mundo, oscilamos entre fases de bem estar e de mal estar, e naturalmente existe culpa na fase de mal estar, por não sustentarmos o nível de maturidade esperada por nós mesmos, supondo que é este o nível que a sociedade espera, e de fato é! Porém, a verdade é que ninguém, nenhum ser humano consegue de fato manter esse papel por tempo suficiente. Só que um não conta para o outro.
O medo do fracasso, do pânico, do fim, da dor e principalmente da morte, é sem dúvidas o propulsor maior para nossa necessidade de abstrair e buscar uma história paralela a nossa, porém melhorada, seja este um mundo extrafísico onde você vai depois que morre para seguir seu aprimoramento evolutivo e volta depois para continuar a missão, seja a espera (esperançosa) pela volta de Jesus e o fim do sofrimento, seja a saída da Samsara, a roda do sofrimento (vida e morte, vida e morte, vida e morte), seja o fim sem nada, apenas fim, como os céticos acreditam ser o mais provável. No final das contas existe um padrão mitológico das crenças do que vem depois e cada sociedade encontrará seus meios para assegurar-se de amenizar o peso da realidade e do universo. O grande problema é que, quando analisa-se atentamente temas como este, percebe-se que para uma grande parte da população o pensamento mágico (para não dizer as religiões) é completamente necessário, no atual momento evolutivo do homem, em termos de educação, cultura e estabilidade emocional (e financeira) não estamos prontos para uma suposta sociedade equilibrada e unificada, vivemos em guerra, ainda que muito mais em paz do que em toda a história de nossa raça, mas certamente esta é a era da informação e o que mais temos de informação é a respeito do fato de que somos ainda animalescos, confusos, caóticos, incertos, incoerentes, estúpidos, violentos, vingativos, psicopatas, anômalos, assassinos. A filtragem trazida até nós é o que alimenta o homem, ainda dependemos de emoções primitivas, do medo, da ansiedade, nos alimentamos da apreensão e não sabemos quando é que isso irá mudar.
Sabemos apenas que uma porcentagem dessa raça já não tem mais interesse em violência, não tem mais foco em guerra, não busca passar por cima de outros, é uma parcela minúscula, mas consciente o suficiente para começar a estudar temas a respeito do que realmente é importante, sem depender de uma crença extrafísica, sem depender de um mantra ou de um objeto de culto, sem supor também que está acima dessa parcela que precisa das religiões, mas busca esclarecer, divulgar e expandir temas tão áridos, complexos e ainda obscuros. A ciência sempre estará em constante luta, seja com a própria ignorância ou seja com a ignorância dos outros. Se existe uma coisa que pode ser feita a favor da aceleração desse nosso caminho, certamente é a divulgação das verdadeiras informações. Por que também é pensamento mágico a torrente de ignorâncias e absurdos despejadas nas redes sociais dia após dia, onde vê-se um fluxo de compartilhamento impensado, irracional. A mínima pesquisa feita nos mecanismos de busca atuais resolve qualquer dúvida, sites como o E-farsas estão aí para isso, só depende de quem está absorvendo a informação neste instante. Indiferente do ser que compartilhou, você, o receptor, é o real responsável por seguir postando besteiras inúteis, ou mesmo dando falsas dicas a respeito de cura da gripe, cura do câncer, cura da sinusite, opiniões mal estruturadas sobre quebrante em bebês, sobre olho gordo, sobre mandinga, sobre causos de fantasma. Nada melhor do que terminar este texto com a parábola da “Peneira de Platão”: A informação que está me passando é verdadeira? Caso sim, podemos passar para a segunda pergunta: É boa? E por fim, esta informação tem alguma utilidade? Serve pra algo, realmente? Parece que o pensamento mágico não passa da primeira pergunta.
Referências:
As transformações do mito através do tempo – Campbell, Joseph – 2015
Ciência Nova – Vico, Giambattista – 1931
Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas – Shermer, Michael – 2011
Dissonância Cognitiva (Sofos – Expressões filosóficas) – http://sofos.wikidot.com/dissonancia-cognitiva
Referências Bibliográficas aceitáveis (Dieta Low Carb e Paleolítica) – http://www.lowcarb-paleo.com.br/2015/04/o-que-e-uma-referencia-bibliografica_8.html
Experimento de conformidade Social:
Ótima reflexão, obrigado por compartilhá-la! Fui criado em uma tradição cristã, mas optei pelo ceticismo, o que me tirou muitas dúvidas e me trouxe outras. Hehehehe! Realmente, parece existir uma necessidade de seguir crenças e tradições, mas ao mesmo tempo que une uma comunidade também a separa dos povos que seguem outras.
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Legal @casagrande, realmente existe sim uma tendência inerente ao homem de "mistificar" e não posso deixar de dizer que mesmo isso, essa ritualista tem sua importância para alguns tipo de pessoas e sociedades, não cabe a ninguém dizer que isso é melhor do que o ceticismo, mas acho que nós fazemos parte de uma vertente que não "escolhe" a percepção de que 90% de tudo isso parece ser criação mental e ilusão, nós apenas percebemos assim, e assim as coisas parecem fazer mais sentido, né? Só não dá pra virar aqueles pregadores ateus insuportáveis! rs
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Com certeza, o equilíbrio é sempre a melhor opção. Esses dias assisti um debate sobre o assunto na TV Escola em um programa chamado Filosofia Pop, vale a pena conferir ;)
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https://initiumvitae.wordpress.com ?
Bom dia. Encontrei este artigo online.
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Fala @maxjoy
O InitiumVitae é meu, rs. Mas como acabei abandonando o blog há um bom tempo, resolvi ressuscitar a única postagem dele que era esta! E olha que eu mesmo sofri pra achar ele pelo google e desisti, rsrs, parabéns, tive que ir no login do wordpress para pegar. Tenho mais alguns blogs abandonados que pretendo puxar o material para cá e fazer algum uso melhor!
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Tem maneira de provar que é seu? Talvez por um link to steemit ou algo assim?...
Porque se não vai receber sempre mensagens destas e receber menos votos etc...
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Resolvido o problema @maxjoy
https://initiumvitae.wordpress.com/2016/07/11/ate-que-ponto-o-pensamento-magico-e-um-comportamento-saudavel/
Coloquei um aviso no inicio do texto ;)
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Maravilha!! Assim se conseguir fazer isso nos próximos vai sempre ter mais votos/ rewards ! :)
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Valeu pela dica!
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