A dinâmica do poder - Parte 1 - A Legitimidade da Autoridade

in psychology •  7 years ago  (edited)

Realidade social: violência, poder e mudança
A dinâmica do poder - Parte 1 - A Legitimidade da Autoridade


Vou começar com uma piada usando uma citação sobre a legitimidade do poder pessoal:
"Não precisamos de legitimidade. Nós existimos. Portanto, somos legítimos". - Menachem Begin

1- Caracterizando a Legitimidade

A legitimidade baseia-se num conceito jurídico do estado de direito e na crença individual de equidade e justiça.
"O poder da crença dá legitimidade ao que for necessário." - Steven Redhead em A vida é simplesmente um jogo
Max Weber, em 1947, mostrou que a Legitimidade do Poder é uma regra racional como um valor fundamental aceite por acordo ou forçado unilateralmente.
Assim, Legitimidade do Poder é a capacidade de usar a Autoridade dentro de estruturas hierárquicas baseadas em normas ou valores internos aceites pelos indivíduos.

O poder legítimo é baseado em três pilares:

  • O primeiro é baseado em valores culturais, onde uma pessoa tem o perfil requerido numa cultura determinada, tem o Poder Legítimo para dominar ou impor sua vontade sobre os outros.
  • O segundo é baseado na aceitação das pessoas da posição de um indivíduo na Estrutura Social de um sistema hierárquico como justo e justo.
  • O terceiro pilar da legitimidade do Poder é a delegação, um conceito em que uma pessoa central reconhece e indica outra pessoa para usar a autoridade inerente a essa posição hierárquica.

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"A cultura é um normalizador dos valores da civilização" - charlie777pt

French e Raven estudaram os efeitos da legitimidade juntando os conceitos de Poderes Legitimo e Coercivo para mostrar que não há diferença entre obediência pública e privada.
Eles descobriram que a obediência privada (comportamento induzido e não verificado) é menos dependente do poder coercivo do que a obediência pública (comportamento induzido e verificado).
Os seus resultados apontaram que a coerção é tão boa ou um pouco melhor que a legitimidade para alcançar um objetivo de grupo, e que a autoridade legítima é mais forte do que a ilegitima para favorecer o conformismo privado.

Mulder, em 1971, investigou a atração pelo poder e descobriu que as pessoas não estão interessadas no aspecto do poder legítimo ou ilegitimo, mas na sua "importância" para mostrarem atitudes positivas.
A obediência é uma função dos meios de sancão aumentam a autoridade e influencia do dominador, porque os sujeitos sentem mais confiança e simpatia com a pessoa que têm muitos meios de sanção à sua disposição.
As pessoas têm atitudes mais positivas quando vêem o poder como legitimo e globalmente "importante".

A legitimidade também está ligada ao direito de exercer autoridade, que sabemos de estudos que mostraram que, em grupos de adolescentes, os membros mais jovens que lutam pelo poder, tem menos impacto sobre os outros e por isso eles são conotados como menos competentes ou simpáticos.

A legitimidade está também relacionada com a forma como a pessoa central é nomeada, por exemplo, quando um membro do conselho de administração de uma organização é nomeado por um poder externo político, isso afeta positivamente a aceitação dos subordinados.
O exercício da autoridade depende das representações que as pessoas têm da pessoa investida pela autoridade formal, e a legitimidade não é suficiente sem a interação da pessoa no comando com os subordinados, sobre os quais a legitimidade é construída e consolidada.

A perspectiva de Nietzsche é muito interessante, sobre a maneira como o poder é exercido e como as personalidades se revelam nesse processo.

"A sede de igualdade pode manifestar-se de duas maneiras: no desejo de submeter a si próprio todos os outros( rebaixando-os, sufocando-os no silêncio, passando-les uma rsateira); ou no desejo de se elevar com todos os outros(fazendo-lhes justiça, auxiliando-os, regozijando-se com os êxitos de outrem)" - Duas Espécies de Igualdade de Nietzsche no livro Humano demasiado Humano.

2 - Os efeitos da legitimidade

Abordaremos agora a legitimidade e os efeitos produzidos pelo poder eleito e as expectativas resultantes no grupo.
"Estamos num tempo cuja civilização se vê em perigo de perecer pelos meios da civilização." - Danger of our civilization por Nietzsche no livro Humano demasiado Humano
Alguns estudos mostraram que os grupos com melhor desempenho numa tarefa foram baseados num líder indicado pela sua competência, e os Grupos sem líder ou baseados em nomeações aleatórias tiveram piores desempenhos.

Outros estudos observaram que grupos com líderes eleitos para processos de negociação tiveram mais impacto e tenacidade do que os que não foram escolhidos.
Complementando esse estudo, Boyd, em 1972, verificou a hipótese de que o comportamento dos negociadores eleitos era mais livre e eficiente, e a eleição é a maneira mais forte de consolidar a legitimidade do poder.
Em qualquer troca social desse tipo, o grupo sempre recompensa a sua escolha dos governantes eleitos, mas eles esperam também bons resultados, e isso não é o que está a acontecer hoje na "politiconomia" oligárquica.

Hoje todas os líders eleitos agem ao contrário das evidências destas experiências.
A democracia hoje é uma burocracia participativa, legitimando os políticos para lutar por seus lobbies e interesses pessoais, mas dá a ilusão às pessoas de que ainda estão no controle.
As eleições são apenas um consenso fabricado para eliminar o conflito social e criar uma estabilização institucional com o objetivo de reforço do poder.

"Se o Estado age de uma maneira, que se torna uma alternativa á Natureza Humana, então é menos mal que se destrua o Estado" - Benedictus de Spinoza
Noutros dois estudos, um mostrou que um líder eleito ou nomeado por uma autoridade competente reconhecida é sentido pelo grupo como mais legítimo do que o indicado por um não-especialista ou sendo um auto-designado, e a outra investigação revelou que na tolerância dos membros em relação um líder eleito havia a possibilidade de este rápidamente perder a sua influência e popularidade se, após uma crise ou fracasso, um líder não mostrasse sucesso(s) ele(a) seriarejeitado (a).

Assim, podemos concluir que a Autoridade é o uso legítimo do Poder sobre as pessoas, se existe uma percepção de retidão, eficácia, não-dominação por meios coercivos e influência sem persuasão.

“Somente a aceitação voluntária dá legitimidade para que qualquer coisa exista permanentemente.” - Steven Redhead em Life Is A Cocktail
Nos últimos posts da Série sobre o Poder, analisámos a Natureza do Poder, suas Noções, Dimensões e terminamos com os Fundamentos do Poder.

Neste post, Parte 1 - A Legitimidade da Autoridade, começamos com o assunto da Dinâmica do Poder, e os próximos cinco são sobre um dos meus tópicos favoritos - a Liderança - analisando os seus processos, características, relação e processos de tomada de decisão.
Após esta série sobre o Ciclo de Poder com o último post sobre os Efeitos e Consequências do poder.

Últimas publicações nesta série sobre a Realidade Social: Violência, Poder e Mudança
Introdução:

A Realidade Social: Violência, Poder e Mudança

A - Violência:

Uma Introdução à Violência
Os Conceitos de Violência, Agressão e Agressividade
As teorias da Violência
Os influenciadores da Violência - Parte Um - Cultura e Contexto Social
Os influenciadores da Violência - Parte 2 - Fatores Sociais, Cognitivos e Ambientais
A ascensão da violência de hoje

B - Poder:

O que é Poder? - Introdução
A Natureza do Poder

Artigos da próxima série de publicações sobre Realidade Social, Violência, Poder e Mudança

A Dinâmica do poder:
  • Parte 1 - A Legitimidade da Autoridade- este post
  • Parte 2 - Os Modelos de Liderança
  • Parte 3 - Características da Liderança
  • Parte 4 - A Relação na Liderança
  • Parte 5 - Tomada de Decisão e Liderança
Os Efeitos e as Consequências do poder

C - Mudança:

Mudança e Cultura
As teorias e a conceptualização da mudança
Fatores que determinam a mudança
Os caminhos da mudança
Mudança social

Referências consultadas:


Les concepts fondamentaux de la psychologie sociale - Gustave-Nicolas Fischer
La psychologie sociale - Gustave-Nicolas Fischer
A dinâmica social-violência, poder, mudança - Gustave-Nicolas Fischer Planeta/ISPA, 1980
Gustave-Nicolas Fischer é Professor de Psicologia e Diretor do Laboratório de psicologia na Universidade de Metz.
Raven, B. H. &; Rubin, J. Z. (1976). Social psychology: People in groups
French, J. R. P., &; Raven, B. H. (1959). The bases of social Power. In D. Cartwright (Ed.),Studies in social Power. Ann Arbor, MI: Institute of Social Research
Castel, R. As metamorfoses da questão social. Vozes, 1998.
Moscovici, S. (1976).Social influence and social change. London: Academic Press.
Michel Foucault, Discipline and Punish: The Birth of the Prison
Festinger, L. (1954). A theory of social comparison processes.
Dahl, R.A. (1957). The Concept of Power
Giddens, Anthony, Capitalism and Modern Social Theory: An Analysis of the Writings of Marx, Durkheim and Max Weber, 1971.
Grabb, Edward G., Theories of Social Inequality: Classical and Contemporary Perspectives,1990.
Weber, Max, Economy and Society: An Outline of Interpretive Sociology, 1968.

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"Autoridade você não tem." (Lysander Spooner) :)

Hehe Santana, Obrigado
Abraço e cumprimentos

Legitimacy is a concept that can create a relationship between the leader and the community he leads. In a state government, legitimacy is considered important to government leaders because these leaders will always strive to gain or retain that legitimacy.

Most people argue that the existence of a leader's legitimacy can trigger political stability and allow for social change. It is also believed to open up wider opportunities for the government to not only expand the welfare areas to be addressed, but also to improve the quality of welfare itself which is generally the main task of a government.

Politicians are elected by financing and lobbying of the interest of money, and they make elections to legitimize it in the eyes of people

Autor de tres pilares principales de la soberanía de las personas
Lo más importante en este asunto
La autoridad toma su legitimidad del pueblo. Las personas que votan en las elecciones dan legitimidad a las autoridades...

Es una ilusión que la gente no quiere ver porque cada vez más creen que nada pueden hacer viviendo en inmovilismo y conformismo.

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