Nota da LiHS sobre o Facebook e a polarização política

in pt •  7 years ago 

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▬ Mark Zuckerberg, CEO do Facebook / Time Magazine ▬

Para quem não conhece, a LiHS (Liga Humanista Secular do Brasil) é uma iniciativa surgida em 2010, mais especificamente a maior organização latino-americana em defesa do humanismo, uma visão de mundo não-religiosa, racionalista e frequentemente naturalista. Temas que tocam em direitos humanos são pautas frequentes para a entidade, e não poderia ser diferente com o recente escândalo do Facebook.

Abaixo, reproduzo na íntegra a nota da LiHS acerca do recém ocorrido, a qual julgo ser pertinente para ilustrar o que vem acontecendo e por que os fatos são preocupantes para pessoas sérias que levam direitos à base de racionalidade.


Nota sobre o Facebook e a polarização política

Ontem, Mark Zuckerberg, fundador e chefe desta rede social, fez um depoimento ao congresso dos EUA, que busca investigar se a rede social permitiu influência indevida de atores internacionais sobre as últimas eleições presidenciais daquele país.

Dois momentos nesse depoimento nos chamaram a atenção: quando Zuckerberg comentou as políticas de limitação da expressão na rede social, e quando respondeu a um senador conservador sobre acusações de viés político da rede e supressão de opiniões e publicações socialmente aceitáveis vindas do campo político desse senador.

Sobre o segundo questionamento, Zuckerberg disse que as opiniões conservadoras são bem-vindas em sua rede social, e, apesar de alegar desconhecimento de exemplos específicos de censura apontados pelo senador, reconheceu que o vale do silício tem um extremo viés a favor da esquerda. Daí se pode presumir que não seria surpresa se, em caso de erros de seus milhares de revisores de conteúdo, esses erros tenderiam a favorecer a esquerda. Na nossa experiência, isso tende a ser verdade, mesmo que o suposto favorecido dos erros do Facebook com a empresa Cambridge Analytica tenha sido o atual presidente republicano Donald Trump (essa conclusão dependerá das investigações).

Meses atrás, em depoimento anônimo à BBC Brasil, um dos revisores de conteúdo do Facebook disse que é comum, por exemplo, que minorias sejam punidas por usarem palavras que antes eram pejorativas contra elas próprias de uma forma que as resgata, as apropria e lhes muda o sentido para algo positivo. Certamente não são os conservadores o grupo político que tenta "proteger" minorias de meras palavras, embora certamente tenham também suas tendências autoritárias em outras direções.

Sobre o primeiro questionamento acerca das políticas do Facebook para limitar a expressão de seus usuários, Zuckerberg propôs que seriam limites a incitação à violência e o "discurso de ódio". Quanto à incitação à violência o congressista concordou que deve ser um limite (assim como concordariam filósofos que trataram da liberdade de expressão, como John Stuart Mill). O ponto preocupante é o "discurso de ódio": Zuckerberg, como outros que desejam ver regras e até leis que proíbam a expressão desse tipo de discurso, não conseguiu definir o que é isso. Não é surpresa a falha em definir de forma convincente e satisfatória: o termo, que não é um dos limites clássicos à liberdade de expressão, é moda intelectual recente da esquerda, não é consenso, sofre de ambiguidades e subjetivismos impossíveis de se codificar em lei. Tentativas de coibir expressões supostamente não contidas na liberdade dos indivíduos com base nisso (liberdade que inclui o direito de errar, e a liberdade de pensamento para nutrir sentimentos pouco nobres para com outras pessoas -- somente num pesadelo totalitário poderia haver algum sucesso das autoridades em suprimir emoções fundamentais humanas como o ódio). Não é surpresa que até os grupos que essa criminalização de "discurso de ódio" tenta proteger terminem por ser alvos dessa mesma criminalização, como no exemplo mencionado acima.

O humanismo deve ser uma força despolarizadora no ambiente político. Uma força que promove a transigência, o meio-termo e o acordo, pois os direitos humanos não pertencem a nenhuma agremiação partidária ou política, são uma conquista civilizacional que foi em si mesma fruto de outros acordos e meios-termos. O mesmo pode ser dito com relação a todos os outros elementos do humanismo: o ceticismo para com dogmas de todas as religiões, o trabalho para construir uma vida de valor aqui e agora, sem promessas sobrenaturais de outras oportunidades após a morte.

A LiHS incentiva humanistas de todas as orientações políticas a se juntarem a nós, inclusive para corrigir eventuais vieses políticos que nós mesmos tenhamos demonstrado inadvertidamente no passado. Internamente, como é nossa obrigação, não estamos dispostos a negociar sobre os valores do humanismo para favorecer qualquer partido ou agrupamento político. Queremos uma sociedade livre administrada (onde cabe essa administração) por um Estado laico, em que a dissidência não-violenta sempre seja possível.

Para desenvolvimento técnico dos assuntos tocados nesta nota, recomendamos o trabalho de acadêmicos como Jonathan Haidt e Steven Pinker, e o website Heterodox Academy.


Consulte o FAQ da LiHS para entender melhor sua proposta e atuação nas redes sociais: http://lihs.org.br/faq/

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Wow, that's interesting!
We recently posted an article about how the community is now requesting for Mark Zuckerberg to step down as CEO from Facebook! This all happened after the scandal with lack of protecting user's privacy. Anyways, go check out the article when you get a chance and let me know what you think👋🏼! I found a recap video of the hearing on Tuesday and posted it also! I'll take you to it so follow me!

Eu tive a oportunidade de assistir pela CNN. Foi muito interessante. Uma coisa que admiro na sociedade americana é esse comportamento de vir a público debate as questões, pedir desculpas e tentar encontrar uma solução para o problema. Não importa se Zuckerberg é ou não um dos homens mais ricos do mundo. Existe um compromisso com a ética.
No Brasil, para citar um exemplo até besta... Nenhum partido que foi acusado de corrupção expulsou o corruptor e veio a publico pedir desculpas. Mesmo com flagrante absurdo de ver o indivíduo correndo com a mala. Não há para nenhum partido político no país um compromisso com a ética ou com a sociedade brasileira. "Ratos entrem nos sapatos dos cidadãos civilizado"...

Comentário simplesmente excelente, até emoldurei aqui na parede.

🤣🤣🤣

O que rolou com o Zuquembergo é uma das maiores provas tangíveis que o Facebook toma partido e faz as coisas pelo seu viés - agora basta decidir se vamos ser refém de alguém tão poderoso que lida com as coisas assim.

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