Imagem original do Pixabay
O mundo das ideias é constituído por multiplicidade, ou seja, existem ideias de todas as coisas: ideias dos valores estéticos, valores morais, das diversas realidades corpóreas, de diversos entes geométricos e matemáticos etc. Não estando sujeitas a geração e sendo imutáveis ou incorruptíveis.
Com a distinção entre dois planos, o mundo inteligível e o sensível, Platão acaba com as diferenças entre Heráclito e Parmênides, o imutável é o mundo inteligível e o cíclico o mundo sensível, faltava-se resolver apenas dois problemas dos eleatas, o ser “múltiplo” e o “não-ser”.
Para chegar à concepção das ideias, Platão precisava resolver esses problemas. No diálogo Parmênides, Platão submete à crítica ao Uno ou a unidade e dizia que não pode ser pensado como absoluto (contrário à concepção de Parmênides), há de existir a multiplicidade, “o um não existe sem os muitos como os muitos não existem sem o um.” Portanto, apenas no diálogo Sofista que Platão soluciona o problema da multiplicidade.
Já o não-ser é resolvido de outra maneira, toda ideia para ser, precisa ser diferente de todas as outras, ou seja, “não-ser” as outras. A ideia imóvel é ela mesma, mas é um movimento ideal na direção de outras, ou excluindo as outras.
Nessa altura, Platão poderia conceber seu mundo inteligível como um sistema hierarquizado, as ideias inferiores implicam as superiores e assim sucessivamente até chegar à ideia original, a ideia que não é condicionada por nenhuma outra (absoluta).
Esse princípio é abordado de maneira incompleta no diálogo A República, trata-se da ideia do Bem, e, essa ideia do Bem, não é apenas algo que pode ser conhecido, mas algo que “produz o ser e a substância e que o bem não é a substância ou essência, mas situa-se acima da substância, transcendendo-a em dignidade hierárquica e em poder. Nada mais nos diálogos foi escrito sobre esse conceito absoluto, apenas era passado de forma oral na Academia.
Para a total compreensão do mundo das Ideias de Platão ainda restam duas considerações, os princípios Um e Díade. Esse processo não pode ser visto de maneira temporal, mas como metáfora para ilustrar a estrutura ontológica de forma compreensiva e de modo evolutivo e atemporal.
O Um age sobre a multiplicidade, cada ideia surge como resultado de uma mistura dos dois princípios. O Um quando delimita é o Bem, ou seja, a delimitação do ilimitado, uma forma de unidade na multiplicidade, essência, perfeição, ordem e valor. Por fim o Um é: princípio de ser; princípio de verdade e cognoscibilidade; princípio de valor.
Abaixo do Uno encontra-se a Díade, que é um princípio originário de ordem inferior podendo ser chamado também de dualidade indefinida ou princípio indeterminado e ilimitado. O nascimento das ideias acontece a partir da colaboração do Um e da Díade. O processo acontece da seguinte forma: o Um usando do Bem, que é seu aspecto funcional, age sobre a Díade (multiplicidade ilimitada) como princípio limitante e determinante (princípio formal). O resultado dessa ação é a geração da Ideia (Eidos), ou melhor, de todas as Ideias.
“Cada uma e todas as Ideias surgem como resultado de uma “mistura” dos dois princípios (delimitação de um ilimitado)”. (História da Filosofia Antiga, 3a Edição. REALE; ANTISERI, 2007, p. 142).
Esse conceito não serve para ilustrar a criação das Ideias em ordem cronológica, mas de modo hierárquico, isto é, um antes e depois ontológico. Após os princípios, surgem as Ideias gerais (Ser, Repouso, Movimento, Identidade e Diversidade) e ideias semelhantes (Igualdade, Desigualdade, Semelhança, Dessemelhança etc.), Platão pode ter colocado nesse mesmo plano os números ideais (não confundir com os números matemáticos), ou seja, que representam arquétipos ideais, essas ideias são hierarquicamente superiores e por isso implicam as seguintes e não vice-versa. O autor cita um exemplo, “a Ideia de homem implica identidade e igualdade do homem consigo mesmo, diferença e desigualdade em relação às outras ideias; entretanto nenhuma das ideias supremas mencionadas implica a ideia de homem.”
Platão deve ter feito uma correlação entre ideias e ideias-números, por serem relacionáveis ao um, ao dois, ao três e assim sucessivamente, mas não há muitas informações a respeito.
Embora os entes matemáticos sejam inteligíveis, se encontram num plano hierárquico inferior pelo fato de serem múltiplos (existem muitos “um, dois,”triângulos etc). Por fim, o mundo inteligível mais tarde fora denominado por alguns como “cosmos noético”, mas Platão no Fedro o denominava de “lugar Hiperurânio [¹]”, “para onde partem as almas a fim de exercer a atividade contemplativa”.
[¹] Para Platão, região não física, para além do céu, parcialmente visível apenas para as almas que estão desligadas do próprio corpo.
Parabéns pelo texto, uma dúvida: partindo do pressuposto que cada indivíduo possui uma relação única entre o mundo das ideais e o mundo sensível, isto é, cada um interpreta de forma diferente a realidade conforme a percebe através de suas características pessoais, como valores, cultura, educação, origem etc, poderíamos dizer que a moral é relativa?
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Para Platão, tudo existe no mundo das ideias originalmente, o que vemos no mundo sensível, são cópias. Por exemplo: o marceneiro produz uma mesa, ele apenas tem uma pequena lembrança do que era a mesa no mundo das ideias. Em relação à subjetividade, penso que por ser o principio da Filosofia, não era levada em consideração, por exemplo a virtude, ou vc era virtuoso ou não, a moral era a mesma coisa, tanto que ele criticava muito os Sofistas pelo fato de não fazerem as coisas do jeito que eles e seus discípulos faziam, mas historicamente, foram pessoas que tiveram relevância.
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pois é, ontem eu estava tendo um discussão bem rica em um grupo de filosofia, eu perguntei se é possível a moral ser relativa, eu acho que sim, mas alguns comentaram que os valores são absolutos, respondi que apesar de realmente serem é relativo a relação entre os valores, isto é, a hierarquia e sobreposição de princípios morais pode variar conforme o contexto e experiência.
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Na visão dos gregos não era relativa, na minha visão é sim subjetiva, John Locke já defendia isso em seu livro "Ensaio Acerca do Entendimento Humano", diz que um ladrão pode ter um princípio moral entre os seus (compromissos e regras entre os ladrões do contrário não poderiam se manter unidos), mas com a vítima tais princípios não se tornam válidos.
E após ele, muitos outros pensadores defendem essa subjetividade sobre moral, o bom o justo etc.
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