Existir não cabe no crachá

in pt •  6 years ago  (edited)

Você já teve a sensação incômoda de que seu trabalho — ou o trabalho de um amigo ou colega — é totalmente inútil? Por que, você deve ter se perguntado: a maioria de nós ainda gasta a maior parte do tempo em escritórios?

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O mundo segue acreditando no valor do trabalho, e por isto muitas pessoas seguem presas a trabalhos inúteis cujo principal produto é o mal estar, o cansaço, a frustração e a depressão. O custo disto é nos tornarmos seres desprovidos de sentido, de real propósito na vida e assim incapazes de usar nossas verdadeiras aptidões para contribuir positivamente para o mundo. É, assunto sério.

Considerando o progresso econômico e tecnológico que fizemos no último século, é realmente estranho desperdiçarmos nossos dias escrevendo relatórios que nunca são lidos e participando de reuniões de análise de desempenho que levam ao quê? Mais reuniões de análise de desempenho.

Em 1930, o economista John Maynard Keynes afirmou que, no século XXI, os avanços tecnológicos resultariam em países desenvolvidos adotando uma semana de trabalho de 15 horas. Keynes estava certo sobre os avanços tecnológicos — mas suas previsões sobre o trabalho dificilmente poderiam ter caído mais longe da marca. Você conhece alguém que trabalhar somente 15h por semana? Eu não conheço nenhuma. Por quê?

Segundo David Graeber, autor do livro “Bullshit Jobs”, cerca de dois em cada cinco empregos são inúteis ou sem sentido. De acordo com um relatório citado pelo autor, o número de pessoas trabalhando na indústria, agricultura e como empregados domésticos despencou entre 1910 e 2000. Enquanto isso, empregos profissionais, gerenciais, de vendas e serviços triplicaram, e agora respondem por 75% dos empregos. Em outras palavras, empregos produtivos foram destruídos em grande número. Você pode ter ouvido comentários falando sobre como os robôs e a tecnologia logo destruirão inúmeros empregos... Bem, isso já aconteceu! É que, em vez de os empregos em geral terem diminuído, de alguma forma inventamos uma carga de trabalhos inúteis para preencher a lacuna: de administradores de universidades a pesquisadores de relações públicas, consultores de recursos humanos a gerentes de nível médio. Esses empregos não existiam há 100 anos. E aqui está a coisa: nenhum desses trabalhos é realmente necessário.

Uma pesquisa da YouGov de 2013 na Grã-Bretanha descobriu que 37% das pessoas acreditavam que seus empregos não representavam uma “contribuição significativa para o mundo”. Uma pesquisa similar na Dinamarca apontou o índice para 40%. Um trabalho inútil é tão ruim que a pessoa que trabalha nele sabe disto, mas tem que fingir que não sabe!

Você já se viu sentado em uma mesa, pensando em silêncio o que diabos você está realmente fazendo lá? Eu já. Provavelmente aquele era um trabalho inútil. E doía tanto terminar minhas tarefas às 2h da tarde, e ter que preencher meu dia com mais tarefas, tabelas, relatórios que nunca seriam lidos, ou reuniões que só levavam a mais reuniões. Eu, como todo mundo que fez um trabalho inútil, tive que fingir que meu trabalho valia a pena... enquanto isto a vida me acenava de longe.

Eu fingi que meu trabalho valia a pena para manter meu emprego, para pagar as contas ao final do mês e, talvez, manter minha auto-estima. Eu não podia admitir abertamente que a maneira como eu gastava cinco dos sete dias da minha semana eram sem sentido. Muitos já sentiram a frustração de ter que sentar em um escritório até as 17h, embora tenhamos terminado nosso trabalho programado para o dia. Mas nem sempre foi assim.

A ideia de que um empregador “possui” você por certas horas por dia é, na verdade, um desenvolvimento recente. Ao longo de grande parte da história, os seres humanos trabalharam em um ciclo envolvendo muita energia, seguidos por uma abordagem mais relaxada. Os camponeses, por exemplo, claramente tinham que trabalhar com freqüência, mas, mesmo assim, o trabalho deles não era nada parecido com um emprego das nove às cinco (e olha que nem entrei no mérito das horas extras de hoje em dia!). Se eles produzissem o que era esperado deles para o dia, eles estavam prontos. Eles não precisavam assistir o relógio até as 17h, todos os dias. O tempo só se tornou um conceito em práticas de trabalho com o advento das torres de relógio no século XIV e relógios domésticos no final do século XVIII. De repente, o tempo de um trabalhador era uma mercadoria a ser comprada. Isto introduziu a mentalidade dos empregadores modernos: “Você está no seu horário de trabalho — eu não estou te pagando para ficar ocioso”. Este tem sido um fator-chave da “inutilização” da vida profissional.

Em um trabalho atual, se você terminar o seu trabalho real, você não pode simplesmente relaxar e descontrair, mesmo que isso seja o que agricultores, camponeses e milhões de pessoas ao longo da história fizeram naturalmente. Não, você deve se ocupar com trabalho — normalmente trabalho repetitivo e entediante.

Tradições históricas, religiosas e filosóficas insistem que devemos considerar o trabalho uma virtude. Por que continuamos fazendo isto? Por que não compreendemos a possibilidade de uma semana de trabalho de 15 horas e uma vida mais relaxante? Uma resposta está em nossas atitudes de trabalho. Thomas Carlyle certa vez disse "O trabalho é a própria essência da vida".

Hoje, continuamos fortemente influenciados por esse tipo de pensamento. O senso de dignidade da maioria das pessoas está intimamente ligado a seus empregos. Quando nos encontramos com alguém em uma festa e perguntamos: “Então, o que você faz?”, não esperamos que nossos novos conhecidos respondam dizendo: “Bem, eu realmente amo tocar violão e eu sei cozinhar uma lasanha de legumes ótima!” As pessoas definem a si mesmas por seu trabalho — mesmo que, dois mojitos depois, eles ficarão felizes em dizer o quanto eles o odeiam.

Ok, e o que fazer a respeito?

Busque alternativas. Existe muitas conversas sobre o "Universal basic income" e eu sou uma grande fã desta idea. O que você faria se as suas contas básicas do mês estivessem pagas? Eu me pergunto isto quase que mensalmente. E sentar aqui e escrever este texto é um lampejo de como eu utilizaria o meu tempo. Pesquise e se informe sobre o assunto. Outra iniciativa que eu gosto e apoio é o Money of Good, uma plataforma que usa blockchain e neurociência para te remunera com criptomoedas em troca de minutos praticando meditação— um projeto com um potencial incrível de mudar nossa relação com o dinheiro e de quebra dar aquela alavancada na nossa consciência. Outra plataforma que eu tenho explorado é o Steemit, uma rede social que também usa blockchain e que te remunera com criptomoeda por criar conteúdos originais e criativos, no julgamento da própria comunidade.

Saiba que não somos — somente — o nosso trabalho. Assumimos vários papéis durante o dia, e também durante as nossas vidas. O ser humano é um fluxo, é um mosaico. Definir é fácil e prático, pois nos dá um entendimento rápido; é um atalho que simplifica a comunicação. Mas definir também é colocar um ponto final. Preste atenção e, da próxima vez que te perguntarem "o que você faz?" responda algo como: eu faço um pudim de cocô maravilhoso! Garanto que a conversa vai ficar mais gostosa ;)

Crie um projeto paralelo e apoie as pessoas que estão criando projetos paralelos. A maioria das pessoas simplesmente não pode largar o emprego tradicional das 9h às 5h. Mas projetos paralelos são ótimas formas de começar algo que nos faça sentir realizados e completos. Organize-se e comece a investir 1h por dia em algo que realmente te deixa empolgado: aprender a desenhar, fazer trabalho voluntário, organizar um jantar para os amigos. Isto te deixará mais alegre e atento às novas oportunidades que surgirão! E apoie pessoas que estão tentando montar o seu próprio negócio ou começar um projeto, uma gentileza pode fazer com que esta pessoa não desista dos próprios sonhos.

Seja legal com as próximas gerações. Quando for perguntar pra uma criança "O que você quer ser quando crescer?", faça isto sem pré-julgamentos. A vida pode ser incrível, mas precisamos quebrar alguns padrões, a-g-o-r-a.

Na dúvida, lembre-se: o sentido da nossa vida é muito maior do que aquilo que está escrito no nosso crachá

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Este foi o meu primeiro post por aqui, espero que vocês tenham gostado.
Obrigada Steemit!

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Bom dia,

Uma ideia é colocar um link no Medium. Um link que nos leve ao seu blog aqui nosteemit. Assim os steemcleaners sabem que o texto é seu.

Oi! Obrigada pela dica! Estou começando e ainda não entendi muito bem como tudo funciona :) Muito obrigada!