Cada vez menos confio nos noticiários televisivos. Não por estarem a anunciar mentiras, mas por estarem a noticiar verdades de uma forma que muda completamente a percepção da notícia.
Existe algo que são os "truques da imprensa". É a capacidade que eles têm de colocar um título que noticia algo de uma forma que pode mudar a tua opinião. Vou dar um exemplo, falando de algo que os portugueses gostam muito. Não, não é vinho tinto. Se bem que está no top 5 das preferências (ou mesmo em primeiro lugar, nestes tempos que bem precisamos de álcool). Falo de futebol. Imaginem, por exemplo, que o Benfica joga 20 jogos. Ganha 18 jogos seguidos, com resultados bem bons, tipo 15-0, mas nos jogos 19 e 20, perde por pouco, tipo 2-1. Um jornal ou um noticiário televisivo coloca como cabeçalho "BENFICA GANHA PRATICAMENTE TODOS OS JOGOS". Outro jornal coloca "BENFICA GANHA UNS JOGOS E PERDE OUTROS". E o 3º jornal põe como cabeçalho "BENFICA PERDE JOGO NOVAMENTE". Ora, as 3 notícias estão corretas. Mas, quem for ler o 1º cabeçalho "BENFICA GANHA PRATICAMENTE TODOS OS JOGOS", poderá pensar: "Boa. É assim mesmo, sempre a ganhar." Quem ler a 2ª notícia "BENFICA GANHA UNS JOGOS E PERDE OUTROS", pode dizer "É normal. Ganha-se uns, perde-se outros. Vou continuar apoiá-los." Mas quem ler a 3ª notícia "BENFICA PERDE JOGO NOVAMENTE", pode pensar: "Bela merda. Já não jogam nada."
Ou seja, as 3 notícias estão certas, mas podem mudar a opinião e a forma de pensar das pessoas. Quem dá a notícia sabe como quer que as pessoas pensem sobre determinado assunto. O que pode gerar opiniões erradas. Isto é mau.
Um exemplo que me irritou e já chegou ao ponto de pensar em partir a televisão (só não parti, porque a televisão não tem culpa, não tenho dinheiro para comprar outra e estava na sala de espera do hospital, por isso não seria boa ideia) foi a notícia sobre a criança que morreu no Hospital de Santa Maria com paragem cardiorrespiratória, dias depois de ter tomado a vacina contra a Covid. Ora, um noticiário afirmar, ou mesmo só supor que a criança tenha morrido por causa da vacina está fora de questão de tal maneira que é praticamente proibido. Nunca na vida se poderá dizer tal coisa. Então, colocaram em rodapé algo do género: "Investigações a decorrer para saber a causa da morte". Ok. Aceito. Poderá ser ter morrido por causa da vacina, mas poderá não ter sido por causa disso. Ainda não se sabe. O pior foi quando puseram como título principal: "CRIANÇA MORRE COM COVID". Epá, aí rebentou-me um nervo.
Para já, dizem que ainda estão a investigar como a criança morreu. Mas colocam logo que morreu com Covid. Ela tinha covid, sim, por isso, aproveitaram logo para meter isso em letras grandes para lançar o pânico.
E atenção. Morreu COM Covid. É que aqui está outro truque da imprensa. Uma coisa é morrer COM Covid outra é morrer DE Covid. Morrer DE Covid, significa que o Covid foi mesmo a causa da morte, ou seja, morreu mesmo da doença. Morrer COM Covid, diz só que estava positivo para o virus, mas até pode ter morrido devido a uma bala na cabeça, por exemplo. Dizer que morreu COM alguma coisa é estúpido e inútil. É o mesmo que um mosquito me ter picado e, logo a seguir, alguém ter pegado numa espada e me ter decapitado, qual Duncan MacLeod, e a notícia ser: "Gustavo morreu com uma picada de mosquito". Não é mentira mas é estúpido e inútil. Dizer que a criança morreu com covid é o mesmo que ter dito que a criança morreu com um fígado ou que morreu com sangue nas veias.
Só que a imprensa sabe que a maior parte da população não percebe a diferença do morrer COM e morrer DE. O povo pensa que é a mesma coisa. Alguém que leu "CRIANÇA MORRE COM COVID", vai logo pensar: "Olha, mais um pequenito a morrer da doença. Pois, se calhar não teve cuidados ou não estava vacinado. Vou já vacinar os meus filhos."
E as voltas que dão para não admitirem a verdadeira notícia? É que até podiam dizer: "Criança poderá ter morrido da vacina." Mas não. Li este cabeçalho num jornal online: "Infarmed confirma notificação de suspeita de reação adversa no caso de criança que morreu." Mas que grandes rodeios. Não querem ou não podem admitir. Isto é o mesmo que, na altura da Alemanha Nazi, como não se podia falar mal do Hitler, nem tão pouco admitir que ele enviava judeus para trabalhar em campos de concentração e mandar matá-los, um jornal alemão talvez tenha colocado a notícia: "Existem rumores de que, possivelmente, um membro do governo alemão poderá, eventualmente, ter, alegadamente sugerido a alguns companheiros que recrutem trabalhadores para vários locais e empregá-los para executar várias tarefas e, talvez, muito esporadicamente e, em muito poucas situações, permitir a agentes da autoridade desses locais proceder à remoção dos sinais vitais de uma pequena percentagem de trabalhadores."
Epá, vão-se lixar. Por isso, deixei de confiar nas notícias da televisão. Continuo a ver, mas sempre com alguma desconfiança, e vejo também notícias noutros canais mais independentes, que não fazem este tipo de jornalismo. Agora, vocês, façam o que quiserem. Mas não tirem logo conclusões ao lerem os cabeçalhos. Pensem um pouco mais.
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