Dia 7/365
É a minha área de eleição, já trabalho com crianças há 9 anos, tenho acompanhado crianças e adolescentes dos 3 aos 16 anos e, modéstia à parte, a maior parte dos pacientes mostra bons resultados com feedback bastante positivo da parte dos pais.
Estes bons resultados na minha opinião devem-se ao curso profissional que fiz a seguir ao mestrado. Verdade seja dita, a licenciatura e mestrado em psicologia não me deram ferramentas práticas mas sim um conhecimento geral da maioria das correntes psicológicas existentes.
Se não tivesse começado (e terminado!) o curso de pós graduação tenho quase a certeza que hoje em dia só seria psicóloga no papel.
Esta pós graduação deixou em mim:
uma perspetiva de trabalho na psicologia que a graduação não deu: necessidade de constante investigação e estudo, necessidade de supervisão clínica, necessidade de brio profissional em todos os aspetos (desde vestuário à linguagem, desde expressão facial e gestual à apresentação de relatórios);
uma noção completamente inovadora de que nós, psicólogos, existimos para realmente fazer a diferença no outro: nós somos a muleta na qual a pessoa se apoia sem julgamentos, o táxi que a conduz para ideias mais claras e que façam sentido para si, não impondo a nossa visão mas fazendo-a perceber como é que está a olhar para si mesma, como se de um espelho nos tratássemos.
Sinto que grande parte dos colegas não tem esta noção e vive cada sessão como se não fosse assim tão importante. É um exercício penoso sim, olharmos para nós próprios dentro daquele gabinete e pensarmos em cada passo que damos. Ao mesmo tempo deixamos de ser nós para passarmos a ser uma outra versão da pessoa que temos à frente.
É muito difícil deixar de existir assim de repente por uma hora, esquecer as nossas vidas e aceitar sem filtros o outro ser humano. Até porque nós próprios temos a nossa própria experiência do dia-a-dia em que o tempo corre mais rápido que nós! Mas é um exercício necessário em cada sessão porque todas causam impacto no paciente.
Tenho notado isso cada vez mais com os meus pequenos. Talvez se note mais ainda com as crianças do que com os adultos por serem mais sinceros ou talvez porque sempre preferi trabalhar com crianças e noto-me mais atenta e interessada quando trabalho com o que gosto.
Para a próxima conversamos mais um pouco do trabalho com crianças...
Até lá!