Psicologizando... | A Atenção Enquanto Função Nervosa Superior (I) - Leitura BibliográficasteemCreated with Sketch.

in pt •  7 years ago 

Nesta nova série de leituras, trago-vos as Funções Nervosas Superiores quanto à sua origem, como se desenvolvem e que alterações é que poderão apresentar.

Começamos com a Atenção, a mais importante das funções por ser ela que nos prepara para todas as outras funções.


O ponto de partida são as estruturas orgânicas elementares, determinadas pela maturação biológica.

A partir delas formam-se novas e cada vez mais complexas funções mentais, dependendo da natureza das experiências sociais da criança.


unsplash

Para Luria, a capacidade atencional da criança interfere na realização prática de todas as tarefas, possibilitando a reconstrução contínua da perceção e que a criança se liberte da perceção mais imediata.

A atenção desempenha a função mais importante na vida de um organismo: organiza o comportamento e prepara o homem para a atividade.

A atenção elementar/básica é observada nas primeiras semanas de vida da criança e é provocada por estímulos internos e externos suficientemente fortes.

Por exemplo, um estímulo externo forte como uma luz brilhante faz com que o bebé volte a sua cabeça em direção ao mesmo. Esta é a forma mais simples de atenção elementar, geralmente chamada de atenção instintiva ou reflexiva.

À medida que a criança sofre novas exigências sociais na relação com o cuidador, esta atenção elementar deixa de ser suficiente e passam a ser necessárias formas de atenção mais complexas e estáveis.

Para ser capaz de resolver uma tarefa, a criança tem que pôr em prática uma forma de comportamento que é oposta ao comportamento instável e desorganizado que predominava anteriormente.

É necessário que surja uma atenção voluntária, cultural, condição necessária para qualquer trabalho. E é necessária uma capacidade que se estenda também aos estímulos mais fracos que poderão vir a ser importantes a nível biológico ou social.

Para tal, basta que o cuidador aponte para algum objeto e o nomeie para que aquele objeto se destaque do seu ambiente, para que a criança lhe preste uma atenção especial.

É aqui que o processo de atenção começa a funcionar como uma operação cultural mediada pela palavra do Outro.

A atenção só começa a tornar-se uma função real quando o focar e manter a atenção começa a depender somente da intenção da própria criança. Depois de manipular externamente o ambiente, a criança começa então a organizar os seus processos psicológicos.


pixabay, by publicdomainpictures​

A atenção tem um carácter seletivo, dirigindo-se para estímulos que são intensos ou que representam informações relacionadas com interesses, intenções ou tarefas imediatas.

Luria e Vygotsky (1996) constataram que, “com o auxílio da função de nomear as palavras, a criança começa a dominar a sua atenção, criando novos centros estruturais dentro das situações percebidas.”

Durante a crise do primeiro ano, surge uma fraca atividade intencional de procura. A criança manifesta reações às solicitações verbais do adulto (“pega a boneca”), consequência da fala do adulto que acabou de nomear o objeto e que atraiu a atenção da criança.

A instrução verbal passa depois a ter uma influência orientadora e reguladora da atenção, “a criança dirige o seu olhar para o objeto nomeado, distingue-o entre outros ou procura-o caso não esteja no seu campo de visão” (Luria, 1981).

Por volta da crise dos três anos, ocorre uma mudança qualitativa:

“A instrução do adulto, completada pela linguagem da própria criança, orienta de forma sólida a atenção. Essa influência sólida só se forma com a participação da atividade da criança e, por isso, para organizar a sua atenção estável, a criança deve ouvir a instrução verbal do adulto e deve distinguir as ordens necessárias através da sua própria prática” (Luria, 1981).

Fiquem atentos aos próximos artigos!


Referência: Marangoni, S. & Ramiro, V. C. (2012). Fundamentos da Neuropsicologia Clínica Sócio-Histórica. Ed: IPAF Lev Vygotsky Brasil (São Paulo).


Podem também consultar os restantes artigos da série "Psicologizando...":
Neuropsicologia - Como melhorar a nossa atividade mental Parte I | Parte II
A Importância do Brincar Parte I | Parte II
A Psicologia Clínica e o Trabalho com Crianças Parte I | Parte II
O Papel da Fala – Leitura Bibliográfica Parte I | Parte II | Parte III | Parte IV
Fundamentos da Neuropsicologia – Leitura Bibliográfica Parte I | Parte II | As Crises Psicológicas - Parte I – Introdução | Parte II – A Crise Pós-Natal | Parte III – A Crise do Primeiro Ano | Parte IV – A Crise dos Três Anos | Parte V – A Crise dos Sete Anos | Parte VI – A Crise dos Treze Anos | Parte VII - A Crise dos Dezassete Anos | Conclusão | A Constituição das Funções Nervosas Superiores

Check the English version here!

Podem ler mais aqui! Todo o conteúdo é produto da minha própria escrita ou da interpretação que faço de artigos científicos e livros. Estejam à vontade para partilhar desde que citem o meu nome!

Authors get paid when people like you upvote their post.
If you enjoyed what you read here, create your account today and start earning FREE STEEM!
Sort Order:  

Hi @helgapn! I noticed your link at the bottom for the English translation but I had a hard time understanding the translation. It seems like parts were missing? But I copied your text above into https://www.deepl.com/translate and the translation was much easier to understand! Perhaps this will be a helpful tool that you could use on the website (https://throughpsychology.com) or link to for other English readers?

Sorry @helenoftroy! I haven't translated this article into English yet! :/ Time is really scarce nowadays! But it will probably be better to post the English versions at once when I translate everything... Thank you for your tip anyway!

Oh, okay! That's probably why I was confused :)

Parabéns, seu post foi selecionado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

footer-comentarios-2.jpg